Bullying: o que precisa de saber para reconhecer e ajudar
O bullying consiste na prática de comportamentos agressivos, de forma intencional e repetida, contra uma pessoa que não se consegue defender.
A 20 de outubro, assinala-se o “Dia Mundial do Combate ao Bullying”. Esta data pretende ser um alerta internacional para um problema grave, que atinge cerca de um em cada quatro alunos no nosso pais.
O bullying consiste na prática de comportamentos agressivos, de forma intencional e repetida, contra uma pessoa (frequentemente criança/jovem, mas também adulto), que não se consegue defender. Estes comportamentos podem ser exercidos por uma pessoa (criança/adulto) ou por um grupo, que designamos por bully ou bullies e provoca sérios danos nas vítimas. Trata-se de um fenómeno universal e transversal a diferentes países, culturas, géneros, estratos sociais.
O que caracteriza uma situação de bullying?
Por vezes é difícil discernir se uma situação se enquadra no contexto de bullying ou não, sobretudo entre as crianças, que têm caracteristicamente mais comportamentos não intencionais ou sem intenção de agredir ou magoar.
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No entanto, os casos de bullying não podem ser considerados normais nem ignorados, sob o risco de se agravar e trazer sérias consequências, tanto para quem é vítima, como para quem agride.
Se tem dúvidas se uma situação em particular configura bullying ou não, saiba que habitualmente as situações de bullying apresentam as seguintes características:
- comportamento violento/agressivo para com uma pessoa (vítima)
- desequilíbrio de poder entre quem agride (bully) e quem é agredido (vitima). Este desequilíbrio pode ser social, económico ou físico.
- repetição e continuidade dos comportamentos agressivos ao longo do tempo.
- intencionalidade dos comportamentos agressivos, por parte de quem os exerce, com o objetivo de assustar, magoar, humilhar ou intimidar a vítima.
Em termos práticos, existem vários comportamentos agressivos típicos de uma situação de bullying, tais como:
- violência física: bater, arranhar, empurrar, cuspir, roubar ou destruir bens, perseguir, entre outros.
- violência verbal: provocar, insultar, ameaçar, humilhar, inferiorizar, fazer troca de determinadas características físicas, forma de vestir, etc.
- violência sexual: assediar, obrigar a práticas não consentidas, toques indesejados, fazer comentários ofensivos de cariz sexual.
- violência relacional/social: excluir de um grupo, espalhar boatos, rumores e mentiras.
- cyberbullying: intimidar com recurso a formas de comunicação eletrónica e internet, envolvendo a publicação em redes sociais, chats ou envio de qualquer tipo de mensagens eletrónicas, incluindo fotos ou vídeos, com o objetivo de assediar, ameaçar ou ter como alvo outra pessoa. Pode envolver a criação de perfis falsos nas redes sociais, por exemplo.
- bullying homofóbico e transfóbico: discriminar tendo por base preconceito em relação à orientação sexual, identidade e expressão de género e/ou características sexuais de outra pessoa, fazer comentários ou piadas ofensivas.
Quais as consequências para a vítima?
Independente do tipo de comportamentos de que seja alvo, uma vítima de bullying tem um risco aumentado de sofrer as danos sérios, sejam lesões físicas ou autoinflingidas, sintomas físicos (como dores de cabeça, dores de barriga, etc), problemas no sono e na alimentação, perturbações psicológicas (como ansiedade ou depressão), insucesso escolar, dificuldade em estabelecer relações com os outros, comportamentos de risco que comprometem a saúde (como abuso de substâncias) e,, inclusivamente, nos casos mais graves, morte por homicídio ou suicídio.

O que fazer se for vitima de bullying?
É muito importante que a vítima de bullying converse sobre o que está a acontecer com uma pessoa de confiança, de forma sentir-se apoiada. É natural sentir insegurança e medo, no entanto, estas situações não podem permanecer em silêncio. É também importante não se sentir culpado/a por ser alvo deste tipo de agressão.
Procure também o apoio de um médico ou psicólogo, que o ajudará a lidar com a situação de forma a terminar os comportamnetos abusivos. Pondere a hipotese de denunciar às autoridades a situação (procure aconselhar-se com alguém da sua confiança ou com os profissionais de saúde).
E se o seu filho for vítima de bullying?
É importante passar às crianças a mensagem de que o bullying não é aceitável em qualquer contexto e que ao alertarem para um caso estão a ajudar várias pessoas na mesma situação.
Ver um filho a sofrer bullying pode ser um processo doloroso e revoltante. É um momento que deve ser gerido com muita sensibilidade e com o objetivo minimizar os impactos negativos da situação e de desenvolver autoconfiança.
Procure falar abertamente sobre o assunto com a criança/jovem, ouvindo calmamente e respeitando o seu tempo. Reforce estratégias que lhe permitam manter-se seguro: manter a indiferença perante o agressor, ser assertivo e pedir para parar, evitar situações de confronto e contar a um adulto se acontecer alguma coisa. Transmita segurança e confiança, mas não incentive comportamentos agressivos como vingança (a violência nunca é solução).
Marque uma reunião com o diretor de turma ou psicólogo da escola e exponha a situação. A equipa escolar irá ajudar.
Invista em proporcionar experiências de êxito e sucesso ao filho, reforçando a sua autoestima e autoconfiança.
Se necessário, procure ajuda de um psicólogo ou do seu médico ou enfermeiro para garantir que o seu filho é acompanhado de forma a não desenvolver ou agravar um quadro de ansiedade ou depressão.
E como lidar com um bully?
Se reconhece comportamentos agressivos do seu filho contra os colegas, deve intervir para evitar a continuidade e escalada da violência. É importante fazer com que a criança/jovem que agride tome consciência dos seus atos e dos impactos negativos e queira parar. Lembre-se bullies são crianças e jovens com maior probabilidade de comportamentos violentos quando adultos. Uma criança bully também precisa de ajuda!
Não ignore nem minimize o problema, tenha uma atitude ativa para mostrar de forma clara que a violência é intolerável. Oiça atentamente e tente compreender as suas motivações, ajudando-o a desenvolver competências da comunicação interpessoal e estratégias para lidar com as mais diversas situações. Seja um exemplo pela positiva nos seus próprios comportamentos. Incentive a pedir desculpa e explique que isso não é um ato de humilhação, mas sim de humildade e dignidade. Ajude-o a colocar-se no lugar do outro e ser mais empático. Procure passar mais tempo de qualidade com o seu filho e acompanhar as suas atividades.
Não recorra a castigos físicos que apenas reforçam que a violência é uma forma legítima de agir na relação com o outro!
Estabeleça regras claras e garanta que as cumpre, reforçando e elogiando o comportamento adequado.
Se não se sentir capaz de lidar com a situação sozinho, ou se não estiver a ter êxito, procure apoio de um psicólogo e/ou de profissional de saúde mental.