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Anorgasmia: nunca senti nada

«Aos 34 anos não sei o que é um orgasmo», revela uma mulher que sente a sua sexualidade manietada. Conheça a sua história neste Dia Mundial do Orgasmo.

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Os possíveis namorados eram escrutinados, as rotinas esmiuçadas, as saídas à noite vigiadas. Queriam a confirmação de que não tinha perpetrado alguma maldade. Eu que aos 13 anos achava que a maior maldade era matar um homem, eu que tirava as melhores notas, eu que não desafiava nenhuma regra, eu que tinha de mim ser filha exemplar, não percebia de onde vinha a maldade que em mim diziam haver.  Depois, atiravam-me sempre a mesma pergunta: namorar para quê?

 

Há uma altura na vida em que, sem sabermos quem somos, somos o que os outros nos dizem. Passei a achar que fazia algo de errado, que qualquer comportamento meu com os rapazes era sinal de corrupção e convite para o sexo, e que o sexo, que nunca tivera, era mau de sentir, sujo e imoral. A minha mãe foi eficaz na devassa da minha intimidade. Mais velha, deixei de sair à noite, era demasiado penoso face ao fardo das interrogações. A actividade sexual com meu namorado da faculdade foi difícil. Sim, a aventesma da minha mãe andou muitas vezes no quarto enquanto ardia a vela de baunilha e eu tentava com os lençóis fazer uma armadura.  Isolei-me. Deixei de conseguir. Maximizei em mim todas as preocupações dos meus pais, da minha mãe, criei a desconfiança em relação ao sexo, do meu pai, a fobia da rua.

 

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Cresci a ter vergonha do meu corpo. Adolescente, não havia espelho onde parasse nua, só abri as pernas a um reflexo aos 27 anos, vi desenhado todo o meu pudor. Também nunca me masturbei, e hoje, apesar de preferir masturbação assistida com o meu namorado a dar toque à úvula, já me engendro em solitários contactos. Sempre achei o corpo um campo de batalha, um sítio onde não se pode perder o controlo. Fui soldado durante muitos anos. Dizem-me: é preciso deixar ir, entregarmo-nos, baixar a guarda…  Parece que nos orgasmos como na vida há um determinado momento em que tudo é já inevitável. Um dia hei-de saber o que isso é.

 

(Crónica baseada numa história verídica)

 

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