Viver o luto! Como sobreviver à perda?
Fazer luto faz parte da condição humana. Faz parte das regras deste jogo a que chamamos vida. Como fazer luto? Será que existe uma forma mais correta?

Estar em luto é natural. O luto é um processo com fases e ritmos próprios. Que podem ser diferentes entre cada pessoa. Acredito que as mais saudáveis incluem partilha, apoio e movimento.
Tive uma tia-avó que foi uma segunda mãe para mim. Quando ela partiu deste mundo foi duro, muito duro para mim. Além disso, fiquei zangado comigo mesmo por não a ter visitado no lar na véspera da sua morte.
Reconheço agora que que em apenas meia dúzia de horas passei da negação à raiva. Lembro-me de o telefone ter tocado de madrugada. Percebi que algo estava “mal” pelo choro de uma tia. Pensei “não, não, não. Não pode ser a Tia I.”. Mas era. De manhã comunicaram-me a notícia. Que eu já sabia dentro de mim. Fomos até ao lar para dar um último beijo de despedida. Nem consigo imaginar como tem sido para quem está impedid@ de se despedir com proximidade, com um beijo, um abraço ou outro gesto.
Lembro-me de, a seguir, estar fora do quarto dela e dar por mim a dizer com raiva: Porquê ela? Com tantas pessoas más no mundo, por que não elas? Mais tarde percebi que as outras pessoas têm nada a ver com o assunto, claro. E hoje tenho outra consciência e crença sobre “pessoas más”. Na altura, foi o que estava presente em mim, como me senti e há nada de absolutamente mal com isso. Nem com o que estás a sentir nesta fase da tua vida. Diz-me, como tens estado?
Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíça, identificou cinco fases pelas quais a maioria das pessoas passa ao lidar com o luto, no seu livro ‘Sobre a Morte e Morrer’. Também chamados de Os Cinco Estágios do Luto, podem resumir-se como:
- Negação: “Isto não pode ter acontecido”, “Não posso acreditar que isto aconteceu”, “Não, não, não, isto não pode estar a acontecer”
- Raiva: “Porquê eu? Não é justo”, “Porquê ela? Era tão boa pessoa/era tão forte/era tão saudável”
- Negociação: “Deixe-me viver só até ver os meus netos”, “E se…”
- Depressão: “Estou sem energia para sair de casa”, “Não me apetece fazer nada”, “Por que me devo preocupar com isso?”
- Aceitação: “Vai ficar tudo bem”, “Já aconteceu. Não posso desfazer ou alterar o que aconteceu, mais vale focar-me que está presente na minha vida”
Originalmente, Kübler-Ross aplicou estes estágios a qualquer forma de perda impactante, desde a morte de alguém amad@ até ao divórcio. Notou-se que estes estágios podem ser vividos em ordens diferentes. Sem que exista uma ordem melhor que outra, ou uma correta. Algumas das fases nem são vividas por todas as pessoas. Ela acreditava que uma pessoa apresentará pelo menos duas.
O que aprendi? Que falamos pouco da morte. Acredito que é importante e saudável falarmos mais da morte, de forma saudável, segura, natural, sem julgamento. (Da vida e como a queremos saborear também, mas isso é outra história) Aprendi também que o luto é um processo natural, humano, saudável. E que há nenhuma necessidade de o apressar, esconder, ignorar ou tornar igual ao dos outros.
Se estás ou conheces quem está a passar por luto, lembra-te: viver o luto permite viver sem se estar em luto. E se alguém pode ajudar de forma mais profissional, está tudo bem em pedir ajuda. O que pensas sobre isto? Comenta, envia mensagem ou email. Conheces quem pode precisar de ler as palavras acima? Partilha este texto com essa pessoa.
Nota: Apesar deste modelo ser bastante referenciado, inclusive em processos de mudança em organizações e de liderança, ele é criticado por algumas pessoas que quereriam ver dados empíricos da existência destes estágios. Afirmam também que o modelo falha em explicar o processo de luto.