Vicente Moura: «Existe um número cada vez maior de pessoas a desenvolver insuficiência cardíaca»
Apesar de tradicionalmente associada à idade, há cada vez mais pessoas (incluindo jovens) a desenvolver esta doença, que se caracteriza pela incapacidade de o coração bombear sangue para o organismo na quantidade necessária. O presidente da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca explica-nos tudo sobre uma doença que diz estar a ser desvalorizada. Maio é o mês do coração.

Quais são os principais sintomas da insuficiência cardíaca a quem se tem de estar atento?
A insuficiência cardíaca caracteriza-se pela incapacidade de o coração bombear sangue para o organismo na quantidade necessária. Uma pessoa que sofra de insuficiência cardíaca tem a função cardíaca comprometida, ou seja, o coração não consegue bombear sangue suficiente para o resto do corpo, nem consegue fazer face às suas necessidades. Os principais sinais da insuficiência cardíaca e que não devem ser ignorados são: cansaço excessivo; pernas inchadas; falta de ar; tosse/pieira; perda de apetite e tonturas. A insuficiência cardíaca é um problema de saúde incapacitante quando não é controlado, nem diagnosticado. Existe ainda um grande desconhecimento por parte da população portuguesa e, acima de tudo, uma clara desvalorização desta doença.
A partir de que idade se pode manifestar?
A insuficiência cardíaca está, tradicionalmente, associada ao avançar da idade, ou seja, desenvolve-se em pessoas acima dos 60/70 anos. A sua evolução no nosso país justifica-se, por isso, no aumento da esperança média de vida. No entanto, as estatísticas mostram que existe um número cada vez maior de pessoas jovens/adultas a desenvolver a doença.
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E qual o prognóstico quando detetada? Tem tratamento?
A insuficiência cardíaca não tem cura, mas pode ser devidamente tratada e controlada permitindo ao doente ter uma boa qualidade de vida. Se o doente respeitar a prescrição terapêutica e os conselhos médicos, se for consciente e ativo na gestão da sua doença, pode efetivamente viver muitos anos. Mas a evolução da doença depende também do grau de insuficiência cardíaca e do desenvolvimento de outras doenças associadas.
Que tratamentos existem, então?
A administração de medicamentos como os inibidores da enzima de conversão da angiotensina (que ao diminuírem a pressão arterial vão diminuir o esforço que o coração faz para bombear o sangue); betabloqueantes ( que diminuem a frequência cardíaca e também a pressão arterial); diuréticos (que aumentam a eliminação de líquidos acumulados) e o novo medicamento para o tratamento da insuficiência cardíaca, o sacubitril/valsartan. Nalgumas situações são também necessários medicamentos que têm um efeito anticoagulante (evitam a formação de coágulos sanguíneos).
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Como esta doença afeta a vida dos doentes?
A insuficiência cardíaca condiciona o dia a dia de um doente, no sentido em que é necessário adotar um estilo de vida equilibrado e mais saudável, onde incluímos a prática de exercício físico ou reabilitaçãoo cardíaca, alimentação saudável, uma vida mais desafogada, sem stress nem ansiedade, e claro, o cumprimento rigoroso da terapêutica prescrita. As pessoas que sofrem de IC, habitualmente, apresentam quadros de cansaço, mesmo em situação de repouso, e pernas inchadas, devido à retençãoo de llíquidos que lhes condiciona a vida quotidiana.
Quais os principais fatores de risco?
A hipertensão arterial, muitas vezes associada a outros fatores de risco, como a diabetes e a obesidade, é a principal causa do aparecimento da insuficiência cardíaca em Portugal. Normalmente, quem sofre de insuficiência cardíaca têm outros problemas cardiovasculares graves, como pressão arterial alta, doença arterial coronária ou teve um ataque cardíaco que levou a esta condição.
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Em que patamar estão os portugueses nesta doença, relativamente a outros países?
Esta doença atinge cerca de 400 mil portugueses, de acordo com os cálculos internacionais, ou seja, 4% da população, mas muitos estarão ainda subdiagnosticados e subtratados. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 23 milhões de pessoas sofrem com a doença em todo o mundo.
A prevenção é a melhor arma. Como se faz neste caso?
É possível prevenir esta doença, nomeadamente através do controlo e tratamento precoce de algumas doenças que levam à insuficiência cardíaca, como a hipertensão arterial, a diabetes, a obesidade, o colesterol elevado. Conhecer os fatores de risco no desenvolvimento de insuficiência cardíaca é uma boa forma de a prevenir. A AADIC pretende trabalhar a prevenção, o aconselhamento, o esclarecimento sobre as causas e manifestações clínicas, para que o diagnóstico e tratamento sejam cada vez mais precoces, levando a uma redução substancial do número de casos e para que os doentes possam, efetivamente, viver com melhor qualidade de vida.