Vacinar os rapazes contra o HPV iria aumentar a cobertura contra um vírus que afeta 70% da população
No plano nacional de vacinação, apenas as meninas estão incluídas para serem vacinadas contra o Papilomavírus Humano, causador de doenças como o cancro do colo do útero, mas também do pénis e do ânus. Paula Ambrósio, ginecologista no Hospital Vila Franca de Xira, explica-nos mais sobre o HPV, na altura em que a Liga Portuguesa Contra o Cancro lança uma campanha a alertar para o facto de este vírus não olhar a idades, sexos ou comportamentos sexuais.
O que pretendem transmitir com esta campanha?
Pretende-se explicar que existe um vírus causador de vários cancros e condilomas genitais que não olha a idades, sexos ou comportamentos sexuais, e para o qual existe uma vacina eficaz e segura, capaz de impedir o aparecimento de doença.
Existem grupos de riscos? Como se podem prevenir?
Todas as pessoas estão em risco de infeção pelo HPV a partir do momento em que iniciam a sua atividade sexual, risco este que, embora diminua, se mantém ao longo da vida. Não existem grupos de risco específicos para esta infeção, ao contrário das outras infeções sexualmente transmissíveis. O preservativo é protetor, mas apenas em 70% dos casos, pelo que a vacina é a única forma eficaz de prevenção primária. Ainda assim, sendo uma infeção causada por um vírus, qualquer situação que comprometa o sistema imunitário, como é o caso das pessoas que fazem medicação imunossupressora (doenças autoimunes, infeção a HIV, doentes transplantados, etc.), aumenta a probabilidade de persistência do vírus, mas é importante que se perceba que todas as pessoas estão vulneráveis à infeção ao HPV.
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Estima-se que 75 a 80% das pessoas sexualmente ativas tenham contacto com o vírus em alguma altura das suas vidas. O vírus pode nunca se manifestar e desenvolver doença?
A maioria das pessoas entra em contacto com o vírus e elimina-o de forma eficaz, sem qualquer tipo de sintomatologia. O problema é que, em cerca de 10% dos casos, a infeção torna-se persistente e, deste modo, tem potencial para causar condilomas genitais ou cancro, dependendo do tipo de HPV envolvido. A infeção propriamente dita é assintomática, o que se manifesta são as complicações da infeção e que podem surgir muito tempo após o contacto inicial com o vírus.
O que falta fazer para travar a propagação do vírus?
O objetivo é impedir a infeção persistente pelo vírus e, assim, evitar as lesões que ele causa. A vacinação é a única forma de o fazer já que o uso de preservativo apenas reduz a sua transmissão até 70% dos casos e não existem propriamente grupos de risco definidos. Todas as pessoas saudáveis estão vulneráveis a partir do momento em que iniciam a sua vida sexual.