Vacinar contra a meningite: tudo o que deve saber
Tal como o novo coronavírus, a doença meningocócica transmite-se através do contacto direto com gotículas e secreções nasais favorecidas pela tosse, espirros, beijos e pela proximidade física. E, embora seja uma doença pouco frequente, qualquer pessoa, em qualquer idade, pode ser afetada, sendo que os recém-nascidos, crianças, adolescentes e idosos são os que estão em maior risco. Afinal, trata-se uma infeção muito grave que pode evoluir de sintomas inespecíficos até à morte em apenas 24h.

A meningite é a inflamação das meninges, que são uma camada que reveste o nosso cérebro e medula espinal. Estas são estruturas vitais para o funcionamento do organismo e qualquer atividade que leve à destruição de alguma camada pode levar a danos irreversíveis, como sequelas neurológicas, físicas, sensoriais, cognitivas e sistemáticas, e, em casos mais extremos, à morte.
Mas ao falarmos de meningite é importante perceber que existem diferentes tipos e que esta doença pode ser vírica, bacteriana, fúngica ou ter origem em parasitas. Contudo, os dois primeiros são os mais frequentes e apresentam sintomas muito semelhantes: febre, dor de cabeça, vómitos e um mau estar geral, e, em alguns casos, podem ainda surgir manchas na pele, que aparecem nas primeiras 24 horas de febre e que são sempre um sinal de alarme.
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E, apesar das parecenças na reação, é importante salientar que as meningites virais não nos colocam grandes problemas, não deixam sequelas, apesar de ser um cenário assustador. Por outro lado, as meningites bacterianas são agressivas, com risco de mortalidade e podem deixar sequelas, referindo que existem diversos tipos conhecidos mas só seis é que provocam doença: os A, B, C, W, X e Y.
Meningites bacterianas:
Ao focarmo-nos nas meningites bacterianas, nas quais as bactérias mais frequentemente envolvidas são a Neisseria meningitidis (meningococo), o Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e o Haemophilus influenzae tipo B, o nosso foco vai para a necessidade de atuarmos rapidamente para evitar a evolução da doença e garantir o bem-estar geral da criança, mesmo em situação em que a febre baixe. Falamos de um período de contágio que, em média, respeita os três/quatro dias, mas também pode ir de um a dez dias.
Como atuar?
Perante uma suspeita de meningite bacteriana o primeiro passo é manter a calma. Os pais e/ou educadores devem deslocar-se a um serviço de urgência, pois todo o tempo conta, para uma avaliação do estado geral da criança e avaliação se temos pistas de diagnóstico, com algumas manobras de base, como analisar os sinais da infeção, por exemplo, se a criança mexe bem o pescoço (mobilidade confirmada). Se o diagnóstico for positivo, temos de atuar no imediato de duas formas: fazer uma punção lombar e retirar o líquido que cobre a medula espinhal através da introdução de uma agulha entre as vertebras, e esse líquido ajuda-nos no diagnóstico. Referindo que devemos iniciar logo um antibiótico que cura este tipo de infeção e, às vezes, nem esperamos pelo resultado para uma resposta mais rápida.
O papel da vacinação:
A única forma de prevenir a infeção é através da vacinação e esta deve ser encarada com uma prioridade. Contudo, é fundamental esclarecer que não há uma única vacina contra a meningite porque ela pode ser provocada por várias bactérias. No Programa Nacional de Vacinação temos já incluídas as seguintes:
- Vacina contra o Hemophilus influenzae
- Vacina contra o pneumococo
- Vacina contra o meningococo C
- Vacina contra o meningococo B (foi introduzida em Outubro deste ano e abrange apenas as crianças nascidas a partir de 1 de janeiro de 2019)
Reforço ainda que, em termos de contágio, esta é uma doença que se transmite por gotículas respiratórias, uma vez que o meningococo pode ser transportado no nariz de pessoas saudáveis, particularmente adolescentes e adultos jovens. A partir daí, pode ser transmitido através de gotículas respiratórias para pessoas que pertençam aos chamados grupos de risco, nomeadamente os bebés, crianças pequenas e idosos. Uma boa etiqueta respiratória, a higienização das mãos e superfícies e, inclusivamente, medidas mais atuais como o distanciamento social e o uso de máscara podem também ajudar, mas nenhuma destas medidas substitui a necessidade de vacinar contra este microrganismo, sempre que possível.
Por Hugo Rodrigues
Pediatra na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, em Viana do Castelo, e responsável pelo site ´Pediatria para Todos’ e autor de “O Livro do seu Bebé” e “O Livro Mágico do Avô João”.