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Uma vida sem redes sociais será uma vida melhor?

O número de pessoas que eliminaram as suas contas do Facebook tem aumentado nos últimos anos. Os estudos apontam para um certo ‘cansaço’ perante as inverdades que por lá circulam. Para percebermos o que motiva esta decisão, falámos com algumas pessoas que deram este passo e também com o sociólogo e coach João Pombeiro, que nos explica os motivos e as consequências de uma vida longe das redes sociais.

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Segundo um relatório da Audience Project, uma consultora de marketing internacional dinamarquesa, a popularidade do Facebook desceu bastante nos últimos anos, principalmente em países como os Estados Unidos da América, Reino Unido, Finlândia e  Dinamarca. Nestes países, cerca de 33% dos utilizadores saíram desta rede social. A principal razão aponta para o cansaço que as pessoas sentem face às notícias falsas que por lá circulam. No entanto, muitos dos utilizadores não deixaram totalmente as redes, mas trocaram esta pelo Instagram e WhatsApp.

 

Outro ponto analisado no relatório é a idade média dos seus utilizadores. Concluiu-se que as camadas mais jovens da população utilizam menos a plataforma que as camadas mais velhas, motivadas pelo interesse de reencontrar velhos amigos e familiares.

 

Um outro estudo, datado de novembro de 2019 e feito pela Universidade de Stanford e a NYU, nos EUA, contou com uma amostra de 2.844 membros do Facebook e veio revelar os benefícios que apagar uma conta pode ter. Sair da rede, conclui o estudo,  promove um bem-estar geral, menos stress relacionado com questões, por exemplo, políticas e sociais e ainda aumenta o tempo com a família e amigos. Desta forma, apesar de reconhecidas algumas facilidades da rede social, como a conexão com os outros de forma instantânea e sem barreiras, o estudo concluiu que os benefícios são maiores que as perdas.

 

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Para perceber este fenómeno, falámos com o sociólogo e coach João Pombeiro que, após ter passado os últimos meses de 2019 longe do Facebook, em período sabático como lhe chama, reconhece que são várias as razões pelas quais as pessoas abandonam ou ponderam abandonar a plataforma, por tempo parcial ou de uma vez por todas.

 

«Do que observo e de relatos que ouço, algumas pessoas que deixam o Facebook percebem que lhes “rouba” tempo, que deixou de adicionar valor, que as notificações são demasiadas e a qualidade das interações e da conexão é baixa quando comparada com a conexão interior com o próprio ou presencial com os outros», explica o sociólogo.

 

Para além disto, a qualidade das conversas, tanto nas mensagens privadas como em comentários públicos, é bastante falaciosa e de baixa qualidade. João Pombeiro diz que «aqui vê-se a principal diferença entre o Instagram ou o LinkedIn, por exemplo. Existem muitas pessoas que se mantiveram ou abriram conta no Instagram e deixaram o Facebook. Outras, por até então não terem desenvolvido estratégias pessoais de autorregulação no uso do digital, onde está o Facebook com grande destaque, optam pela solução radical de corte total». Desta forma, acabam por colocar na balança mental e emocional o que obtém e o que perdem e perceber que ganham mais em apostar no seu bem-estar.

 

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Deixei o Facebook porque…

Joaquim Pavão tem 44 anos, é compositor e realizador e optou recentemente por deixar o Facebook. Uma das razões pelas quais isto aconteceu foi o “espelho”, «mas não é o normal espelho de Narciso, é um onde o reflexo é imediato. É uma violência silenciosa a do acesso a uma leitura física, sem a subjetividade das expressões físicas e sem os elementos à nossa volta. Assim, o juízo ganha forma e sendo à distância é horrível. Depois entrou também a questão do plano redutor, através de meia dúzia de linhas ou de uma fotografia. Ao longo do tempo fui incapaz de me reconhecer».

 

Vivian Baumann tem 44 anos e vive no Brasil, trabalha com marketing B2B e análise de negócios e já deixou e voltou ao Facebook várias vezes. «Já não vejo mais utilidade na rede, está muito repetitiva e pouco interessante. Até aqui fui e voltei muitas vezes, em grande parte porque a minha conta estava associada a outras como o Instagram e o Spotify. Recentemente criei contas independentes para cada coisa e encerrei de vez a minha conta no Facebook».

 

Já Cátia Cardoso, jornalista radiofónica de 22 anos, diz que incialmente deixou o Facebook porque queria fazer uma desintoxicação das redes sociais, privilegiando as relações pessoais, «por outro lado, deixei porque me inquietavam cada vez mais os anúncios, estar a ver coisas que não queria, não fazia sentido, ainda por cima os anúncios são extremamente irritantes: não vão ao encontro dos meus interesses e são repetitivos. Além disso, penso que o Facebook tem cada vez mais “lixo”, especialmente fake news que as pessoas partilham sem qualquer informação válida e, no meu caso, que trabalho como jornalista, isso incomodava-me – e incomoda – muito», explica.

 

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Falámos também com Mónica Borges, de 45 anos, que trabalha num escritório de contabilidade na Alemanha. A decisão de Mónica foi radical, pois nunca mais voltou ao Facebook. «Deixei o Facebook há cerca de cinco anos, primeiro por uma questão de segurança. A minha conta estava configurada para apenas os meus amigos verem as minhas fotografias, mas sempre que chegava uma atualização de software tinha de entrar nas configurações e confirmar se as minhas ainda se mantinham. Para além disto, sentia que os meus amigos escreviam muitas coisas irrelevantes e que acabava por perder muito tempo na rede social sem notar». Hoje em dia, utiliza o WhatsApp para comunicar.

 

Durante o tempo de utilização da maior rede social do mundo, as pessoas vão sentindo principalmente um impacto degradante na capacidade e habilidade de se conectarem e de empatia, pois esta reduz a diversidade e qualidade de interações na forma de aceitar, perceber e relacionar com o outro. O sociólogo diz ainda que «o algoritmo, efetivamente, cria uma “bolha” para cada membro do Facebook mostrando-lhe mais do que a pessoa “mostrou” que gosta, através dos cliques que fez. Acredito que algumas pessoas se sentem divididas, tristes, infelizes, outras resignadas ou acomodadas; outras frustradas ou zangadas. Algumas decidiram sair, ou reduzir muito o tempo de uso, outras expressam as suas emoções no que escrevem, clicam ou partilham em fotografias ou vídeos».

 

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