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Sector da saúde quer liderar caminho para economia de carbono zero

Academias europeias de ciência e medicina juntaram-se num comentário conjunto para promover a descarbonização do setor da saúde. Ironicamente, o próprio setor da saúde é responsável por 5% das emissões europeias de GEE, contribuindo assim para um futuro cada vez mais nocivo para a saúde, a menos que tome rapidamente medidas, assinalam as entidades.

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Um novo comentário conjunto do EASAC, formado pelas academias científicas nacionais dos Estados-Membros da UE, Noruega, Suíça e Reino Unido,  e da FEAM, que representa as Academias Europeias de Ciência e Medicina, enfatiza a responsabilidade do sector da saúde em reduzir as suas próprias emissões de gases com efeito de estufa e de trabalhar com outros sectores para acelerar a descarbonização da economia em geral.

 

Os efeitos crescentes e potencialmente desastrosos das alterações climáticas na saúde mental e física – incluindo o aumento da exposição a calor extremo, inundações e secas; o efeito da diminuição do rendimento das culturas na nutrição, aumento da incidência de doenças transmitidas por vetores como a dengue e os efeitos indiretos mediados através de sistemas socioeconómicos como o aumento da pobreza – têm vindo a ganhar mais atenção nos últimos anos, revelam as entidades em comunicado, o que implica «desafios crescentes e imprevistos significativos para os nossos cuidados de saúde».

 

Ironicamente, o próprio sector da saúde é responsável por 5% das emissões europeias de GEE, contribuindo assim para um futuro cada vez mais nocivo para a saúde, a menos que tome rapidamente medidas. «Tendo a cura como sua missão, o sector da saúde tem boas razões para se tornar um líder em soluções climáticas. Em alguns países, já vemos iniciativas pioneiras do sector da saúde para reduzir a sua pegada de carbono», explica Volker ter Meulen, presidente do Programa de Biociências do EASAC.

 

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O comentário baseia-se numa análise mais aprofundada feita pelas academias, desde a publicação do relatório da EASAC “The imperative of climate action to protect human health in Europe”, em junho de 2019. Enquanto o relatório inicial se concentrava nos impactos das alterações climáticas na saúde, os cientistas enfatizam agora a responsabilidade do sector da saúde em liderar pelo exemplo, reduzindo as suas próprias emissões de GEE, e de trabalhar com outros sectores para acelerar a descarbonização da economia em geral.

 

«A melhor parte é que a descarbonização do sector da saúde não irá só ajudar o clima», explica Robin Fears, diretor do Programa de Biociências do EASAC. «Vemos oportunidades significativas, desde aquisições verdes, espaços mais verdes e melhores estruturas de construção, até dietas mais saudáveis baseadas em alimentos produzidos de forma sustentável, saúde digital e outros modelos inovadores de cuidados ao paciente. Estas medidas de mitigação no âmbito dos sistemas de saúde podem encorajar uma utilização mais eficiente dos recursos e trazer benefícios locais e a curto prazo para a saúde».

 

«O combate às alterações climáticas deve ser visto como parte integrante da missão do setor de fornecer cuidados de alta qualidade aos pacientes e de promover a saúde pública», acrescenta Andrew Haines, professor de Alterações Ambientais e Saúde Pública na London School of Hygiene and Tropical Medicine. «Isto também implica mudar o foco da cura para a prevenção, incluindo a resolução das causas sociais, ambientais e económicas das doenças. Apoiar as pessoas a fazerem escolhas mais saudáveis e mais sustentáveis tem o potencial de reduzir a necessidade de visitas hospitalares».

 

Uma grande oportunidade para a União Europeia

O EASAC e a FEAM congratulam-se com os objetivos de descarbonização cada vez mais ambiciosos da UE. Contudo, lamentam que até agora o sector da saúde raramente tenha sido incluído nas discussões sobre a descarbonização a nível europeu. Ambos veem uma grande oportunidade para a UE estar mais envolvida nas questões de saúde e fornecem recomendações sobre a forma de promover tais iniciativas.

 

«As ambições do sector da saúde devem impulsionar e ser impulsionadas por uma ação política coordenada a nível da UE, por exemplo, com base nas atuais iniciativas da Comissão Europeia para os contratos públicos sustentáveis e a estratégia farmacêutica», explica o presidente da FEAM, George Griffin.

 

«Vemos oportunidades significativas, desde aquisições verdes, espaços mais verdes e melhores estruturas de construção, até dietas mais saudáveis baseadas em alimentos produzidos de forma sustentável, saúde digital e outros modelos inovadores de cuidados ao paciente»

 

As aspirações recentemente anunciadas para uma possível União Europeia da Saúde dão um novo impulso à ação no sector. Devem ser alinhadas com outras prioridades políticas e estratégicas, em particular com as para a economia circular, bioeconomia, saúde digital, construção, estratégia “desde a exploração agrícola até à mesa”, o Acordo Verde Europeu, recuperação pós-covid-19, bem como com a ação coletiva internacional sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as metas do Acordo de Paris.

 

A liderança do sector da saúde pode ajudar a ultrapassar as barreiras à mudança. «Há uma oportunidade para a UE impulsionar a ação internacional: este ano, a COP26 apresenta uma oportunidade sem paralelo para acelerar o compromisso com as metas do Acordo de Paris, no qual todos os sectores devem desempenhar o seu papel», conclui Griffin.

 

 

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