Home»ATUALIDADE»NOTÍCIAS»Quem habita no solo dos parques? Estudo identifica pela primeira vez microrganismos em 56 cidades

Quem habita no solo dos parques? Estudo identifica pela primeira vez microrganismos em 56 cidades

O que há sob o solo que pisamos quando caminhamos pelos parques e jardins das nossas cidades? Um estudo internacional liderado pela Universidade Pablo Olavide descreve pela primeira vez o microbioma dos solos de áreas verdes em dezenas de cidades e analisa os seus benefícios para a biodiversidade e para as pessoas que vivem em áreas urbanas.

Pinterest Google+
PUB

Um estudo internacional conduzido pela Universidade Pablo de Olavide (UPO), Sevilha, e publicado na revista ‘Science Advances’, descreve pela primeira vez a biodiversidade de micróbios escondidos em solos de parques e jardins de 56 cidades um pouco por todo o mundo.

 

A pesquisa, promovida pelo Laboratório de Biodiversidade e Funcionamento de Ecossistemas (BioFunLab) da UPO, mostra que esses espaços verdes são focos de biodiversidade edáfica e que, da mesma forma que ocorre com pássaros e plantas, há alguma homogeneização entre os micróbios que podem ser encontrados nos solos dos parques da cidade ao redor do mundo, revela a universidade em comunicado.

 

Parques e jardins são áreas que tentam assemelhar-se a espaços naturais. No entanto, pouco se sabe sobre a contribuição das áreas verdes nas cidades para a manutenção da biodiversidade e sustentabilidade ambiental.

 

VEJA TAMBÉM: FESTIVAL CIDADES RESILIENTES DEBATE FUTURO DOS ESPAÇOS URBANOS

 

«Essas áreas, parques e jardins, são essenciais para a manutenção da saúde da população humana, mas também são o habitat de uma infinidade de seres vivos, entre os quais se destaca uma enorme biodiversidade de microrganismos, que vivem sob os nossos pés e realizam funções essenciais para a manutenção da vida neste planeta», explica Manuel Delgado-Baquerizo, dirigente do BioFunLab da UPO e principal autor do artigo.

 

Uma imensa vida microscópica

Para Delgado-Baquerizo, «os espaços verdes urbanos são essenciais para o nosso bem-estar porque, muitas vezes, são o único contacto que os cidadãos têm com a natureza». Além disso, embora todos nós conheçamos as espécies de pássaros e plantas que habitam nos nossos parques, poucos sabem que a grande maioria da biodiversidade em parques e jardins é composta por micróbios do solo.

 

«Micróbios que entram em contato connosco enquanto desfrutamos de atividades de lazer e desportivas e que desempenham um papel fundamental na melhoria do nosso sistema imunitário e na nossa resposta às alergias», completa.

 

Para descrever o microbioma de solos em áreas verdes, foram estudados os solos de grandes cidades como Pequim, Santiago do Chile ou Cidade do Cabo ou de centros urbanos menores com alguns milhares de habitantes, como Utrera, no sul da Espanha ou Alice Springs, na Austrália.

 

Os pesquisadores recolheram amostras em jardins e áreas de lazer e analisaram a biodiversidade de diferentes organismos, como bactérias e fungos, bem como diversas propriedades físicas e químicas do solo e características funcionais desses microrganismos.

 

«Este trabalho sugere que os espaços verdes nas cidades são focos de biodiversidade do solo e que, em comparação com áreas naturais adjacentes, a transformação em áreas verdes tem contribuído para tornar esses espaços mais semelhantes entre si. Assim, da mesma forma que acontece com pombos ou palmeiras, muitas das espécies de micróbios repetem-se em parques de todo o mundo», explica Delgado-Baquerizo.

 

Uma biodiversidade única

O estudo mostra que os espaços verdes, além de repetir um padrão em parques de todo o planeta, são um hot spot para a biodiversidade microbiana. Na verdade, o estudo fornece a primeira lista das espécies de arquéias, bactérias, fungos e protozoários que vivem nos parques.

 

«As áreas verdes à volta do mundo são muito parecidas, com relvados estilos de gestão semelhantes, o que favorece um forte efeito homogeneizador que condiciona os micróbios que as habitam», diz Ana Rey, pesquisadora do MNCN. «Precisamos de entender melhor as consequências das mudanças nos processos biogeoquímicos que esse efeito homogeneizador supõe», acrescenta César Plaza, pesquisador do ICA, em comunicado.

 

O estudo também mostra que as condições socioeconómicas e climáticas onde os parques são desenvolvidos têm uma influência importante sobre os seus organismos. Cidades mais quentes favorecem o aparecimento de patógenos de plantas e, onde há densidades populacionais mais altas, uma proporção maior de genes-chave na resistência a antibióticos é detetada.

 

«Os solos de nossos parques possuem imensa biodiversidade microbiana, mas a realidade é que sabemos muito pouco sobre a identidade e função dessas espécies, portanto, pesquisas futuras serão necessárias para aprender mais sobre esses micróbios que vivem connosco», explica Delgado-Baquerizo.

 

De acordo com a pesquisa, os solos dos parques possuem uma grande quantidade de material genético microbiano associado a patógenos humanos, micróbios que têm resistência a antibióticos e micróbios que controlam os gases de efeito estufa.

 

Este estudo foi realizado no âmbito do projeto URBANFUN  da Fundação BBVA. Participaram cerca de vinte instituições de 17 países, entre as quais o Centro Segura de Ciência do Solo e Biologia Aplicada (CEBAS), o Museu Nacional de Ciências Naturais MNCN e o Instituto de Ciências Agrárias (ICA), todos do CSIC, bem como várias instituições internacionais: a Universidade de Colorado Boulder, a Universidade de Zurique, Sidney ou Pretoria, entre outras.

 

 

 

Artigo anterior

Nail art: unhas loucas e divertidas para este verão

Próximo artigo

Peeling, a técnica que trava a idade e não só