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Podemos deixar esta narrativa ilusória?

Largar ideias de consertar pessoas, como se estivessem estragadas. E “soluções rápidas”, como se fosse aplicar uma ligadura “e já está”. Sem considerar o todo. Imagina o teu crescer, viver, e saborear os dias, como um caminho com mais escolhas das que tens agora.

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Desde criança, fui aprendendo formas supostamente certas de fazer coisas. Atar bem os atacadores; sentar à mesa; responder a uma pessoa adulta; falar, decidir e agir “como um adulto”; organizar a casa; descansar; sentir; pensar; entre tantas outras.

 

Nos últimos 12 anos, e especialmente desde 2013/2014, tenho descoberto e cada vez mais confirmado que cada pessoa está num momento e num caminho único. Por muito que, como seres humanos, tenhamos padrões e coisas em comum.

 

Consertar implica resolver totalmente. Isto define a narrativa irreal, ilusória, de que há um “tudo melhor” a ser alcançado. E que depois deste, então sim, tudo estará bem, será bom, correrá melhor.

 

Isto tem contribuído para que muitas pessoas que conheço, incluindo eu próprio nalguns momentos, se sintam insuficientes, incompletas, estragadas, desmerecedoras. Ou que estão para trás, como se estivéssemos numa corrida a ver quem chega primeiro, num jogo a ver quem ganha, ou onde só alguns conseguem.

 

Como se com A chave certa, a nossa saúde mental se tornaria uma equação fácil, direta e unidimensional. Pelo que observo e vivo, esta ideia está longe da realidade.

O caminho em que acredito está noutro lado e segue outra direção. Por qualquer “porta” que entremos. A saúde mental realmente começa a melhorar (equilibrar ou ficar mais presente será mais adequado?), quando permitimos uma narrativa complexa, enriquecida, diversa. Esta inclui cada um@ de nós!

 

Sentimo-nos(?) mais saudáveis mentalmente quando paramos de pensar, e de nos ver, como algo a precisar ser corrigido ou consertado. Em vez disto, acredito no caminho único da pessoa desaprendendo, (re)descobrindo-se, agindo, e reaprendendo, de acordo com o momento, o contexto e a intenção maior atual.

 

Muito da retórica das fórmulas de curar, resolver, consertar, de “só boas vibrações”, e da positividade cega, reduz a nossa humanidade, e a nossa individualidade. Também diminui o pensamento crítico e o autoconhecimento de cada pessoa, ao experienciar, refletir, se descobrir e explorar como um ser único.

 

Humanizar e praticar pensamento crítico são necessários para descobrir o que promove realização e bem-estar em cada pessoa. O estarmos bem, com liberdade de termos escolhas disponíveis do que e como fazer, em relação a qualquer evento, sentimento ou pensamento.

 

A rigidez exacerba a sensação de estarmos presos. A psicóloga Susan David pesquisa e mostra-nos isso, particularmente ao divulgar sobre o seu trabalho com as emoções (e pensamentos associados), que levou à Agilidade Emocional.

 

A fluidez e a agilidade permitem-nos o espaço e relação interiores para gerar e aplicar outra escolha. Diferente das anteriores que nos trouxeram aqui. Para nos adaptarmos, saudavelmente, sem nos vermos como coisas a remendar nem máquinas sem imperfeições, mantendo a plenitude que a saúde mental contém.

 

Afinal, nenhum@ bebé nasce “estragad@”. Nem ninguém fica “estragad@” ou cresce de forma errada. Mesmo que assim pareça, que a pessoa assim se sinta. Quando se alimenta a narrativa irreal de “precisar de ser consertada”.

 

Mesmo quem nasceu ou desenvolveu algum síndrome ou condição limitadora, como p.ex. autismo ou PTSD, tem sim uma realidade humana diferente. Estou muito grato a tod@s que têm avançado e difundido a Neurodiversidade!

 

Mesmo traumas são estratégias adaptativas que funcionaram no momento, servindo uma intenção maior. Agora podem estar desatualizadas, desadequadas e a criar um impacto limitador, desagradável, na qualidade da experiência diária da pessoa. Que cada um@ de nós possa viver mais a sua plenitude, individualidade, integridade! De formas saudáveis, flexíveis, humanas.

 

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