Pernas inchadas, vermelhidão e calor: perceba agora para evitar complicações no inverno
Parar a evolução desta doença e tentar minimizar as suas complicações deve ser estimulado nos doentes o mais precocemente possível pois muitas destas alterações, uma vez instaladas, dificilmente serão reversíveis.

Os sintomas de perna inchada (edema dos membros inferiores) associados a vermelhidão (rubor) e calor são muito frequentes durante o tempo quente de verão. Não sendo característicos de uma doença específica são também os principais sintomas relacionados com a insuficiência venosa crónica dos membros inferiores, vulgarmente chamadas de varizes. Com predomínio no sexo feminino a partir da terceira/quarta década de vida afetam ao longo da vida 40% das mulheres portuguesas.
Parar a evolução desta doença e tentar minimizar as suas complicações deve ser estimulado nos doentes o mais precocemente possível pois muitas destas alterações, uma vez instaladas, dificilmente serão reversíveis.
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Sabemos que nos últimos meses, devido, em parte, ao receio gerado pela pandemia, muitas pessoas deixaram de ir às suas consultas, de fazer exames e até mesmo tratamentos – a área de cirurgia vascular não foi exceção. Com a possibilidade de um novo pico de pandemia no inverno, que consequentemente trará maiores níveis de ansiedade e receio, a população deve preparar agora a última estação do ano que será exigente para todos. Os números de incidência da COVID-19 estão mais baixos e há confiança nos procedimentos de segurança das unidades de saúde – por isso, não se deve adiar o seguimento clínico em caso de insuficiência venosa para evitar possíveis complicações.
Que complicações podem acontecer?
Em casos mais graves de insuficiência venosa, a quantidade de sangue que se acumula nas extremidades pode ser muito significativa e levar a incapacidade física marcada, intolerância a estar de pé e ao calor, criando um ciclo vicioso que é difícil quebrar. Mais tarde, as alterações da pele e dos tecidos das extremidades provocadas por esta estase e extravasão de fluídos podem culminar com o aparecimento de úlceras.
Se numa primeira fase o edema é acompanhado pela vermelhidão, com o passar do tempo vai evoluir para uma coloração acastanhada progressivamente mais escura, resultado da passagem de glóbulos vermelhos para o exterior das veias. A consequente destruição destas células leva a uma reação inflamatória crónica dos tecidos destas zonas distais da perna. A coloração acastanhada deve-se fundamentalmente ao depósito de ferro e sua oxidação nos tecidos, levando a um sofrimento destes com deficiente oxigenação e nutrição. Posteriormente, este sofrimento crónico oxidativo e inflamatório gera fragilidade tecidular e dificuldade de cicatrização de qualquer eventual lesão que possa surgir.
Outra complicação possível das varizes é a tromboflebite ou varicoflebite. Este quadro clínico caracterizado por inflamação exuberante da veia associada a trombose do seu lúmen (interior da veia) e é quase exclusivo das varizes e está intimamente ligado à duração da insuficiência venosa. São episódios de aparecimento súbito normalmente sem quaisquer sinais prévios e podem complicar de migração do trombo para a rede arterial pulmonar causando a temível embolia pulmonar. A embolia pulmonar ou Trombo Embolia Pulmonar (TEP), embora maioritariamente benigna, pode ser fatal no primeiro episódio ou deixar sequelas restritivas para a vida.
Mas porque surgem as varizes?
A variz representa a perda da funcionalidade valvular das veias. Trocando por miúdos: a nossa circulação sanguínea é um circuito fechado em que o coração bombeia sangue oxigenado e cheio de nutrientes (vermelho vivo) pelo sistema arterial em direção aos tecidos para os oxigenar e alimentar; Esta parte da grande circulação é impulsionada pela força da bomba cardíaca pelo que o trabalho da artéria é de quase mera condução de fluxo sanguíneo. As veias recolhem esse sangue, já pobre em oxigénio e cheio de resíduos do metabolismo celular (vermelho escuro), passando pelo fígado para limpeza e pelo pulmão para oxigenação, chega ao lado esquerdo do coração pronto para um novo ciclo.
Neste retorno, em que as veias são as vias de comunicação, a natureza dotou estes vasos de um sistema valvular (principalmente na metade inferior do corpo) que permite ao sangue lutar contra a gravidade e retornar ao coração. Qualquer anomalia neste aparelho valvular leva a recirculação do sangue nas extremidades inferiores com o consequente aumento de volume e peso (mais sangue), aumento de calor (onde há sangue há calor) e alterações da coloração da pele (vermelhidão). Contribuem para a eficácia deste retorno – do sangue ao coração, a almofada plantar (parte dianteira do pé) e a bomba muscular gemelar (impulso gerado pelos músculos da barriga da perna sempre que se contraem e comprimem as veias, funcionando assim, como uma bomba propulsora) desencadeada pela marcha.
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