Parturientes portuguesas com níveis elevados de mercúrio
Estudo realizado pela Universidade de Aveiro detetou níveis elevados de mercúrio em mulheres que acabaram de dar à luz, sendo que em algumas delas superavam mesmo os valores recomendados pela OMS e pela a Agência de Proteção Ambiental Americana.

Um estudo da Universidade de Aveiro (UA) detetou níveis elevados de mercúrio quer em mulheres que acabaram de dar à luz, quer nos próprios tecidos da placenta. A inédita investigação, que pela primeira vez no país se centrou na análise daquele metal tóxico no cabelo e sangue das parturientes e nas respetivas placentas e cordões umbilicais, garante que há mesmo mulheres que apresentam níveis de mercúrio acima daquele que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Publicado online na revista Journal of Toxicology and Environmental Health, o estudo realizado no âmbito do trabalho de mestrado da Ana Catarina Alves, orientada por Susana Loureiro e Marta Monteiro, do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, centrou-se em meia centena de parturientes, de nove concelhos do distrito de Aveiro, das quais foram recolhidas amostras de cabelo, da placenta e do cordão umbilical.
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De acordo com os níveis identificados como perigosos pelas Organização Mundial de Saúde (mais de 2000 nanogramas de mercúrio por grama) e a Agência de Proteção Ambiental Americana (mais de 1000 nanogramas de mercúrio por grama), as investigadoras do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA apontam que, apesar da média total estar abaixo do limite recomendado, em 6 por cento e 38 por cento das parturientes estudadas os níveis de mercúrio no cabelo estavam acima dos recomendados, respetivamente, por aquelas instituições.
«Face ao contexto geográfico das mulheres estudadas, este trabalho é pertinente», aponta Susana Loureiro, bióloga especialista em ecotoxicologia. A coordenadora da investigação lembra que o distrito de Aveiro é conhecido pela contaminação histórica de arsénio e mercúrio fruto da vasta indústria química estabelecida na região desde a década de 50 do século passado. Só no século XXI é que os resíduos deixaram de ser descarregados diretamente para o meio ambiente. No entanto, avisam as investigadoras, as conclusões encontradas podem ser indicadoras para o resto do país.
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Quanto ao impacto que o mercúrio encontrado pode ter nas mulheres e nos bebés, Susana Loureiro lembra que «o sistema nervoso central é o alvo principal» daquele metal, mas que o mesmo «pode afetar, praticamente, todos os sistemas orgânicos funcionais de um organismo». E para além de danos a nível celular, o mercúrio pode também trazer consequências a nível do genoma.
Se as dimensões dos recém-nascidos, nomeadamente o perímetro encefálico, o peso e o comprimento, e a saúde das parturientes parecem não ter sido influenciados pelos elevado níveis de mercúrio, as investigadoras apontam que «para avaliar o impacto nestas mulheres e nos bebés teria que existir um estudo continuado».