Os amigos fazem bem à saúde… mas as redes sociais estragam um pouco
Que ter amigos faz bem ninguém duvida. Mas as relações interpessoais mudaram muito com a introdução das novas tecnologias nas nossas vidas e já há muitos estudos a analisar as consequências da sua ‘intromissão’ no meio das amizades. Conheça algumas conclusões de estudos nacionais e internacionais que já se debateram sobre este tema, neste Dia Internacional da Amizade, assinalado a 30 de julho.
Em Portugal, a frequência de contacto com os amigos através do Facebook é um fator de risco para a proximidade aos outros. Ou seja, quem mais usa esta rede social sente-se mais só, acha que tem menos apoio de outros em caso de necessidade e sente-se menos ligado aos que o rodeiam. Esta foi uma das conclusões do primeiro estudo realizado em Portugal que analisou a relação ‘amizade e saúde’ e tentou perceber até que ponto os contactos virtuais com amigos têm o mesmo impacto positivo que a amizade ao vivo. «Ter amigos faz bem à saúde. Mas será que os amigos do Facebook contam?», foi o ponto de partida para a análise realizada por uma equipa do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa, sob a direção de Luísa Lima, em 2015.
Segundo este estudo, a relação da amizade com a saúde prende-se principalmente com a construção de relações de proximidade, sendo que em Portugal existe uma prática frequente de sociabilidade com os amigos. Os resultados mostraram, na altura, que na “vida real” 55% das pessoas inquiridas tem mais de 10 amigos, 59% tem 3 ou mais amigos íntimos e 48% convive pessoalmente com eles pelo menos uma vez por semana. Apesar de ser um padrão esperado numa amostra comunitária, indica uma elevada dimensão social e um alto nível de proximidade com os outros.
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De facto, 58% da amostra indica que nunca ou raramente se sente só, 70% acha que tem pessoas para o ajudar em situações complicadas (e.g., doença), 45% sente-se bem integrado socialmente e 56% sente uma forte conexão social. Na rede social, a análise é diferente. 90% por cento dos inquiridos disseram na altura que tinham Facebook e, destes, 45% dizia ter mais de 300 amigos, sendo que 80% reconhecia que apenas 50 ou menos seriam verdadeiros. Apesar de a dimensão de rede de amigos online associar-se a uma maior integração social, a frequência de contato com os outros no Facebook mostrou ser um fator de risco para a “amizade ao vivo”.
O estudo indicou que a amizade cria uma ligação próxima que promove a saúde, sobretudo quando é presencial: rimos mais, exprimimos um maior número de emoções positivas, sentimo-nos mais apoiados e otimistas e temos em quem confiar em momentos difíceis.
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Os amigos virtuais são verdadeiros amigos?
A maioria das pessoas nas redes sociais experimenta o chamado ‘paradoxo da amizade’, ou seja, elas consideram-se menos populares do que os seus amigos. Porém, a relação entre popularidade e felicidade é mal compreendida e um estudo realizado por cientistas informáticos da Universidade de Indiana, EUA, descobriu que as pessoas com mais conexões nas redes sociais são também mais felizes. Complicado?
O estudo é, dizem os cientistas, essencialmente o primeiro a fornecer evidências científicas para o sentimento que muitas pessoas experimentam quando entram em serviços como Facebook, Twitter ou Instagram: que todos parecem divertir-se mais do que nós. «Esta análise contribui para uma crescente evidência de que as redes sociais podem prejudicar os utilizadores que abusam desses serviços, uma vez que é quase impossível escapar de comparações negativas com a popularidade e a felicidade dos seus amigos», disse o autor principal, Johan Bollen, que aconselha as pessoas a limitarem cuidadosamente o uso desses serviços. «Dada a magnitude da adoção das redes sociais em todo o mundo, entender a conexão entre o se uso e a felicidade pode lançar luz sobre questões que afetam o bem-estar de milhões de pessoas», acrescentou.
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O estudo baseia-se no fenómeno conhecido como o ‘paradoxo de amizade’, que diz que a maioria das pessoas de uma rede social tem menos conexões em média do que os seus amigos, já que os utilizadores mais populares se cruzam com um número maior de círculos sociais.
Para realizar a análise, Bollen e os colegas selecionaram aleatoriamente 4,8 milhões de utilizadores do Twitter, depois analisaram o grupo para as pessoas que seguiam na rede, criando uma rede social de cerca de 102.000 utilizadores com 2,3 milhões de conexões. A equipa então estreitou o foco para indivíduos com 15 ou mais amigos na rede e analisaram o sentimento dos tweets desses utilizadores, um método comum em ciência da computação e marketing para avaliar se as postagens digitais são geralmente positivas ou negativas. Isso criou um grupo de 39.110 utilizadores do Twitter. Os utilizadores com maior sentimento positivo foram definidos como “felizes”.
Uma análise estatística desse grupo final concluiu que 94,3% desses utilizadores tinham menos amigos em média do que os seus amigos. Significativamente, também descobriu que 58,5 por cento desses utilizadores não eram tão felizes quanto os amigos em média. «No geral, este estudo descobre que os utilizadores de redes sociais podem experimentar níveis mais altos de insatisfação social e infelicidade devido a uma comparação negativa entre a felicidade e a popularidade dos seus amigos», disse Bollen.