Óbidos: Ginja, flores e muitas igrejas
Se quer conhecer esta pitoresca vila nas suas múltiplas dimensões históricas e fora da azáfama dos seus grandes eventos, esta é a altura certa.
Localizada a cerca de 80 km acima de Lisboa, a chegada a Óbidos desvenda logo um pouco do que nos espera. Um castelo secular de origem romana protege a vila composta por casas brancas de barras coloridas. A calçada portuguesa compõe o cenário que nos leva a fazer uma viagem no tempo. Veja algumas imagens na galeria acima.
A entrada na zona muralhada da vila faz-se pela chamada Porta da Vila. Esta é encimada pela inscrição – «A Virgem Nossa Senhora foi concebida sem pecado original» – mandada colocar pelo Rei D. João IV, em agradecimento pela proteção da Padroeira aquando da Restauração da Independência em 1640. No seu interior, encontra-se a capela-oratório de Nossa Senhora da Piedade, Padroeira da Vila, com varandim barroco e azulejos azuis e brancos (c.1740-1750) com motivos alegóricos à Paixão de Cristo. Começa logo aqui a expressão das inúmeras edificações dedicadas ao credo religioso, desde igrejas, capelas, ermidas e até um santuário, que existem nesta pequena vila.
Logo atravessada, somos convidados a passear pela Rua Direita. Recheada de comércio, é aqui que se sente o pulsar da vila, onde o artesanato, a ginja e os artefactos medievais fazem as delícias dos turistas. Passa-se muito tempo aqui, a provar iguarias, a apreciar artesanato em madeira ou metal, com motivos medievais, ou a escolher cerâmicas ou rendilhados.
Após uma demora nesta rua, dirigimo-nos ao castelo, bem no final da mesma. Atribui-se-lhe origem romana, tendo sido posteriormente fortificação sob o domínio árabe. Depois de conquistado pelos cristãos (1148) foi várias vezes reparado e ampliado. No reinado de D. Manuel I, foi aqui construído um paço e alteradas algumas partes do castelo. Destacam-se as janelas de recorte manuelino abertas para o interior do pátio. O paço sofreu fortes danos com o terramoto de 1755 e assim ficou até, no século XX, ser recuperado para aí se instalar a Pousada, a primeira pousada do Estado em edifício histórico.
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Esta é uma terra habitada desde o paleolítico, e que por aqui passaram fenícios, árabes e romanos. Outra da característica da vila são as inúmeras edificações religiosas. Tem cinco igrejas (São João Baptista, São Pedro, Misericórdia, Santa Maria e São Tiago), duas ermidas, (Nossa Senhora do Carmo e Ordem Terceira), uma capela (São Martinho), duas capelas-oratório instaladas na Porta da Vila (Nossa Senhora da Piedade) e na Porta do Vale (Senhora da Graça) e ainda o Santuário de São Jesus da Pedra, este instalado fora da vila na estrada para as Caldas da Rainha.
São edificações muito antigas. A Igreja de São Pedro, por exemplo, é de fundação medieval, mas da sua construção inicial conserva apenas os vestígios do antigo portal gótico na fachada. Já a Igreja de Santa Maria, igreja matriz localizada na praça com o mesmo nome e o principal templo de Óbidos, crê-se que a sua fundação remonta ao período visigótico, tendo sido transformada em mesquita no período muçulmano e novamente sagrada por D. Afonso Henriques logo após a conquista da Vila em 1148.
Passear por estas ruas caiadas de branco, com barras coloridas e flores à janela despertam-nos uma saudade de tempos antigos. Pois muitas destas casas com cal a cair e pinturas desbotadas fazem-nos lembrar uma terra parada no tempo. As ruas tranquilas e labirínticas, o castelo no alto e as várias igrejas ajudam a criar este ambiente sereno e calmo…
Mas falar de Óbidos é falar também de cultura. Tem uma grande dinamização cultural que lhe valeu já o título de Vila Literária da UNESCO. Óbidos também se firmou no mapa pelo nome da pintora Josefa de Óbidos (1630-1684). Josefa instala-se em Óbidos e inicia uma intensa atividade na área da pintura, granjeando bastante fama nacional e internacional. Josefa quebrou muitos dos cânones de uma sociedade predominantemente masculina, estabelecendo-se profissionalmente como pintora.
Mas Óbidos não está confinada às suas muralhas. Expressa-se muito além destas. Localizada no Oeste, a si lhe pertencem quatro praias: Covões, El-Rei, Cortiço e Bom Sucesso. Mas é a Lagoa de Óbidos que mais fama granjeia. É o sistema lagunar costeiro mais extenso da costa portuguesa. Possui uma área total aproximada de 6.9 km2 e uma profundidade média de dois metros.
Para além da pesca do robalo, linguado e outros peixes e moluscos, aqui se pratica, ao longo de todo o ano, diversas atividades como vela, windsurf, canoagem, paddleboarding, etc. Se quiser experimentar, tem várias empresas que promovem estas experiências na Lagoa.
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Esta pequena e pacata vila conseguiu fazer-se notar ao país com a organização de inúmeros festivais de sucesso, que serviram de inspiração a muitas outras iniciativas no país. A sua transformação nos mais variados temas consegue levar os visitantes a outras épocas e mundos fora da realidade. Os principais são o Festival Internacional de Chocolate, que terminou a 5 de maio, o Mercado Medieval de Óbidos, que se realiza no verão, e o Óbidos Vila Natal, que se realiza no inverno.
Mas faz-se notas também por um dos seus ex-libris, a ginginha, que pode ser servida simples, com elas, em copo de chocolate ou copo normal. Como vê, não é uma decisão fácil.