Obesidade infantil: a pandemia oculta
Em Portugal, o excesso de peso e a obesidade afetam cerca de 50% dos adultos e uma em cada três crianças vive com excesso de peso ou obesidade.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma doença complexa, com múltiplas causas, definida por uma acumulação de gordura excessiva no organismo. O excesso de peso e a obesidade ocorrem quando o peso da pessoa é, em proporção, demasiado elevado para a sua estatura.
Esta doença constitui um problema de saúde pública, tanto em Portugal como no mundo, e representa um importante fator de risco para o desenvolvimento e agravamento de outras doenças crónicas
Em Portugal, o excesso de peso e a obesidade afetam cerca de 50% dos adultos e uma em cada três crianças vive com excesso de peso ou obesidade.
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As consequências são nefastas, dado que aumenta o risco doenças cardíacas, alguns tipos de cancro, a diabetes, doenças musculoesqueléticas e doenças respiratórias crónicas, entre outras.
QUAL A CAUSA DA OBESIDADE INFANTIL?
Como referido anteriormente, a obesidade é uma doença multifatorial, que culmina na acumulação excessiva de gordura no organismo. Genericamente, resulta de uma quantidade de calorias ingeridas superior às calorias gastas. Isto pode resultar de uma ou várias causas:
– Fatores genéticas/hereditários (estão associadas a 40-85% dos casos).
– Algumas doenças endócrinas/hormonais.
– Alimentação desadequada, rica em gorduras ou açúcar, consumo elevado fast-food, consumo de bebidas que contêm açucares, etc.
– Falta de atividade física ou sedentarismo.
– Dormir pouco ou ter horários de sono irregulares.
– Tempo excessivo de ecrã: televisão/telemóvel/tablet.
COMO SE DIAGNOSTICA?
O diagnóstico de excesso de peso e obesidade é feito através da avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC) que compara o peso com a altura da criança. O IMC é comparado com as referências para crianças com a mesma idade e sexo. Para isso, são utilizadas tabelas (raparigas e rapazes) apropriadas para a idade e sexo da criança.
O Índice de Massa Corporal é através da divisão do pelo quadrado da estatura (IMC = Peso (Kg) / Altura2 (m)).
O resultado desse cálculo é então comparado com as tabelas de percentis de IMC para crianças da mesma idade e sexo e obtêm-se as seguintes categorias:
– Se IMC INFERIOR ao Percentil 5 para a idade e sexo: Baixo Peso
– Se IMC ENTRE Percentil 5 e Percentil 85 para a idade e sexo: Peso Normal
– Se IMC ACIMA do Percentil 85 e até ao Percentil 95 para a idade e sexo: Excesso de Peso
– Se IMC ACIMA do Percentil 95 para a idade e sexo: Obesidade
QUAIS OS POTENCIAIS DANOS PARA A SAÚDE DA CRIANÇA?
Entre as principais consequências da obesidade infantil, a curto e longo prazo, podemos referir o desenvolvimento de diferentes doenças:
– Doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial, a elevação dos níveis de gorduras/colesterol no sangue ou formação de placas de gordura nas artérias (doença aterosclerótica) prematura.
– Doenças respiratórias, como asma e apneia obstrutiva do sono.
– Doenças ortopédicas, como problemas articulares ou deformidades dos joelhos.
– Doenças endócrinas, como diabetes ou a síndrome do ovário poliquístico.
– Doença do fígado gordo, devido à acumulação de gordura
– Maior risco de obesidade mórbida, quando adultos
Para além destas, a obesidade é muitas vezes fator de risco para o desenvolvimento de problemas psicossociais e doenças psicológicas, como o bullying, baixa autoestima, ansiedade, isolamento social, depressão ou distúrbios alimentares.
COMO EVITAR OU TRATAR ESTE PROBLEMA DE SAÚDE?
A prevenção é a melhor forma de evitar os problemas causados pela obesidade e assenta em dois pilares basilares: (1) adoção de uma alimentação saudável e equilibrada e (2) prática de exercício físico de forma regular.
Na prática, várias ações devem ser implementadas no dia-a-dia das crianças para prevenir a obesidade infantil:
– Estabelecer horários regulares para as refeições, que devem ser feitas com calma
– Oferecer porções pequenas e não obrigar a criança a comer
– Tomar sempre o pequeno almoço, que deve ser composto por alimentos saudáveis
– Consumir sopa no início das refeições principais
– Incentivar a criança a experimentar novos alimentos como frutas ou legumes
– Guardar os doces e bebidas açucaradas para dias especiais e evitar usar a comida como “prémio” ou “castigo”
– Oferecer às crianças uma garrafa reutilizável ou ensinar a consumir água de forma regular e fracionada ao longo do dia
– Evitar jejuns prolongados
– Evitar o “lixo alimentar”, em particular os snacks muito calóricos, ricos em sal, açúcar e gordura. Este tipo de alimentos não deve ser comprado nem estar disponível em casa das crianças.
– Promover atividade ao ar livre e a criança a praticar exercício físico, como jogar futebol ou andar de bicicleta
– Limitar o tempo a jogar, ver televisão ou utilizar o telemóvel
Em suma, a prevenção da obesidade depende, em grande parte, da total disponibilidade e colaboração dos pais, mas também é importante desde cedo ensinar e informar as crianças sobre a importância da adoção de estilos de vida mais saudáveis desde a infância.
As crianças com excesso de peso e obesidade devem ser avaliadas pelo seu Médico de Família ou Pediatra e, caso seja necessário, adotar medidas de reeducação alimentar e prática de exercício físico. Pode estar indicada a realização de análises, ou outros exames adicionais, para esclarecimento das causas da obesidade e também das potenciais consequências da mesma.