O que é a Ayurveda?
A vida seria muito mais fácil se houvesse um manual de instruções, um documento que reunisse toda a sabedoria de quem viveu. Esse manual existe. Chama-se Ayurveda, a ciência da vida.
Parece ser de senso comum que, à medida que crescemos e evoluímos, vamos percebendo que a vida seria muito mais fácil se tivesse um manual de instruções, um documento que reunisse todo o conhecimento, toda a sabedoria de quem tanto e bem viveu, e que fosse simples o suficiente para se aplicar ao nosso desafiante quotidiano. E esse manual existe. Chama-se Ayurveda, a chamada ciência da vida, e que tem vindo suave e resilientemente a conquistar seguidores, na proporção daqueles que se dedicam a conhecê-la mais profundamente.
Poderíamos dizer que um dos fatores comuns a todos os seres humanos reside na procura primordial por paz, amor e prosperidade; uma vida bela, longa e saudável para que possamos usufruir de toda a aprendizagem, e de todas as experiências que a vida na terra nos oferece, de forma plena e consciente.
Cada um de nós vem experimentar a terra habitando um corpo, um veículo com características muitos próprias, muito únicas que já vem dotado de meios naturais e implícitos de autocura e manutenção fluida. É através do corpo, que na Ayurveda tem várias dimensões, que nos é permitido saborearmos todas as experiências, das quais participam todos os momentos que acumulamos na nossa memória, preenchida de arquivos físicos, emocionais, mentais e espirituais. Esses momentos de experimentação com a vida, com o mundo que nos impregna os sentidos, constroem todos os dias o caminho para o nosso crescimento interior, e neles todos os pormenores são importantes – cada golfada de ar que inspiramos, cada raio de sol que recebemos, cada alimento que saboreamos, cada melodia que escutamos – constituindo uma dádiva, plena da energia vital que nos anima integralmente.
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É dentro deste contexto de integração e de harmonia com a natureza que surge a Ayurveda. Ayur (Vida, movimento, seres vivos, modo diário de vida) e Veda (revelação; conhecimento empírico que deriva da observação e da experimentação), é a ciência da vida quotidiana, da vida plena, da saúde e da longevidade. É uma ancestral e visionária arte de cura, uma medicina da felicidade, que almeja a edificação do amor manifesto em todos os aspetos do nosso dia a dia, como um caminho de realização pessoal e espiritual.
Constitui um sistema holístico de medicina que surgiu na Índia, há mais de cinco mil anos, e cujo conhecimento evoluiu a partir da “iluminação” prática, filosófica e religiosa dos Rishis (seres antigos realizados, ou videntes da verdade), que através de intensa e profunda meditação alcançaram o conhecimento do nível subtil da nossa existência, e manifestaram esse conhecimento na sua vida diária. No estreito relacionamento entre o homem e o universo, os Rishis perceberam como se manifesta a energia cósmica em todas as coisas vivas e não-vivas.
A Ayurveda é por isso uma filosofia de vida que está em comunhão com o Cosmos, e que oferece na sua abordagem terapêutica, e pelo seu carácter preventivo e educativo, o fundamento para a manutenção quotidiana de uma saúde integral, já reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como um sistema médico coerente e eficaz. A Ayurveda almeja assim prevenir e tratar os desequilíbrios que se instauram com a nossa vivência quotidiana, através da promoção da harmonia com os ritmos da terra e com o Todo à nossa volta, de forma abrangente, holística, multidimensional e multidisciplinar.
O sistema terapêutico ayurvédico ajuda a pessoa sadia a manter a saúde, e a pessoa doente a recuperá-la. É uma ciência da vida integral, e médico-metafísica. A prática da Ayurveda é indicada para promover o bem-estar, a saúde e o desenvolvimento criativo do ser humano. Por isso preconiza que a responsabilidade perante o estado de Saúde geral do indivíduo pertence ao próprio, sendo ele o agente restaurador do seu bem-estar, pela introdução de hábitos alimentares equilibrados, e cuidados com o corpo, as emoções, a mente e o espírito. Através do equilíbrio apropriado de todas as energias do corpo, os processos de deterioração física e a doença podem ser reduzidos, promovendo-se a capacidade de auto-sanação individual. Ao médico ou terapeuta ayurvédico cabe sobretudo o papel de orientar e indicar o caminho para a promoção e manutenção da nossa saúde e bem-estar.
Na Ayurveda, a jornada da vida na sua totalidade é considerada sagrada, já que o nosso propósito é sermos e manifestarmos uma existência generosamente pura e saudável. Na tradição indiana a Ayurveda vem de mãos dadas com o Yoga (a ciência da união com o Divino), e o Tantra (o método de trabalho com a energia criadora da Vida), formando uma trindade de vida interdependente, que têm a finalidade comum de ajudar-nos a alcançar a longevidade, o rejuvenescimento e a auto-realização. Na evolução espiritual do homem, a Ayurveda é a base, a estrutura, o Yoga é o corpo, e o Tantra a cabeça. A saúde do corpo, mente e consciência dependem do conhecimento e da prática destes três conhecimentos na vida diária.
A estrutura da Ayurveda
A história, tanto cronológica como mitológica, da Ayurveda é muito vasta e rica, e um dos estágios mais marcantes da sua estrutura médica ocorre aproximadamente 600 a.C., com a criação e elaboração dos Oito Ramos da Medicina – o Astanga, que surge ainda nos Vedas. Estas oito divisões da Ayurveda compreendem a Kaya Chikitsa (Medicina interna ou geral), a Baala Chikitsa e/ou Kaumara-Bhrtya (Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia), a Graha Chikitsa (Psicologia e Psiquiatria), Urdhvaanga ou Shalakya Chikitsa (Otorrinolaringologia), Shalya Chikitsa (Cirurgia), Damstra Chikitsa (Toxicologia), Rasayana Chikitsa (Geriatria e Rejuvenescimento) e Vrsha ou Vājīkaraṇa Chikitsa (Medicina Reprodutiva ou Terapia com Afrodisíacos).
Para além das oito divisões, outra das estruturas fundamentais, e muito mais comummente conhecidos são dos três Doshas, as três bioenergias essenciais – Vata, Pitta e Kapha – que ajudam a definir a morfologia do corpo, as suas tendências fisiológicas, estados de espírito, força de vontade, foco, equilíbrio interior e exterior, e outros aspetos. Juntam-se-lhes os três Gunas, as três energias universais constante e fluidamente presentes, Sattva (Luz, equilíbrio, Beleza, Bondade, Amor, saúde), Rajas (movimento, paixão, atividade, distração, turbulência) e Tamas (inércia, escuridão e estagnação), que embora influenciem o corpo, têm um efeito mais premente sobre a nossa mente. E uma análise mais profunda da saúde, sobre o ponto de vista ayurvéico, só fica completo pela observação dos sete Dhatus, os sete tecidos que constroem o corpo, e que são muito mais do que apenas a sua definição física: rasa (plasma), rakta (sangue), mamsa (músculo), meda (gordura), asthi (osso), majja (medula óssea e sistema nervoso), e shukra e artav (a essência final dos dhatus, o esperma e o óvulo).
A medicina ayurvédica transporta na sua sabedoria inerente e ancestral, a capacidade de nos sintonizar com a nossa constituição matriz, o que nos permite entender a cadência individualizada da nossa existência, o estilo de vida que nos traz o equilíbrio e a paz de espírito, os hábitos e rotina diária que, quando enraizada no nosso quotidiano, muda drasticamente para melhor a nossa qualidade de vida, a nossa saúde e a nossa longevidade.