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O perigo e a vantagem de rotular e pressupor

Se pudesse mudar cinco coisas na interação humana, esta é uma delas. Imagina como seria a qualidade da tua experiência diária, se deixassem de acontecer mal-entendidos porque alguém pressupôs algo sem fundamento. Imagina como seria se deixássemos de reduzir o outro, e nós próprios, a um qualquer rótulo.

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Acredito que rotular e pressupor, em si, não têm nada de positivo ou negativo, de bom ou mau, de seguro ou perigoso. O que é seguro para mim pode trazer perigo a outra pessoa; o que é correto para mim pode ser errado para outra pessoa, etc.

 

O que faz a diferença, pelo que observo, é a forma como fazemos; a intenção que tivermos no contexto; o impacto que observamos ou experienciamos, e com isso se nos adaptamos de forma saudável; a consciência e fundamentação na experiência vivida ou observada; e, claro, o significado e valorização que damos.

 

Nem sei se é possível viver sem pressupostos nem rótulos. Este texto é exemplo disso. Segundo o dicionário online Priberam, pressuposto é uma suposição antecipada, com ou sem fundamento, verificada ou não. E, o rótulo é uma designação ou característica definidora, redutora, atribuída a algo ou alguém.

 

Enquanto um rótulo de um produto no supermercado lista todos os ingredientes do mesmo (ou deveria fazê-lo); um rótulo em seres humanos reduz e limita a pessoa, e/ou a experiência, normalmente a uma única característica. “Ele é incompetente”, “ela é chata”, “quem chora é fraco”, “quem vai à frente é corajoso”, … Chamando e interagindo com a outra pessoa através de um adjetivo, rótulo, deixamos de a ver como inteira. Escolhemos ver só um lado seu.

 

Um exemplo que mexeu comigo foi numa mini ação para uma creche. Eu e um grupo de colegas estávamos numa das salas onde íamos fazer uma atividade com um grupo de crianças. A pessoa, com muito boa intenção, ao trazer o último menino, de 4-5 anos, apresentou-o assim: “aqui está o tímido do grupo” ou “o C. é o mais tímido do grupo” (não me recordo das palavras exatas).

 

Lembro-me sim do que pensei e senti. Encolhi por dentro, tive vontade de virar-me de frente para a pessoa e desconstruir, brincar, ressignificar o rótulo que ela tinha dado à criança. Sabendo o que sei, desde crianças procuramos aprender sobre o mundo, como estar, viver, decidir, fazer, e que papel é suposto assumirmos. E isto também dá uma conversa maior noutra altura.

 

Observo como os rótulos reduzem, discriminam, limitam, quando usados sem consciência, em modo automático. Talvez já tenhas vivido isso mesmo. Quer no lugar de rotulador@ quer no de rotulad@. Em vez de nos auto julgarmos, ou de ficarmos a apontar dedos uns aos outros, o que podes fazer por ti e pelos outros?

 

Por outro lado, por vezes, presumimos que os outros veem o mundo como nós. Quando percebemos que veem diferente sobre um assunto, um contexto ou uma ação específicos; quantas vezes presumimos que deviam ver como nós, ou como “é suposto ver”, de acordo com a cultura, educação, crenças, etc?

 

“Ninguém me liga, ninguém quer saber de mim”. Ninguém liga pode acontecer por vários motivos. A maior parte pode nem ter a ver comigo. Presumir que é por não quererem saber é um “grande” salto mental e, na falta de factos em contrário, apenas uma conjetura imaginária.

 

“Ela tem de [mudar, parar, “qualquer ação”] senão tu nunca mais ficas bem”.

 

“Estás com coração acelerado, isso é ansiedade”. Ou não. Coração acelerado pode ser de susto, de entusiasmo, de paixão, de adrenalina, ou por outro motivo e através de outro processo.

 

O perigo de rotularmos e pressupormos? Ao congelarmos num rótulo ou pressuposto, limitamos as nossas capacidades de perceber, escolher e agir. Reduzimos a experiência, o outro, ou nós próprios, a uma micro fatia do todo que somos. É como se falássemos e agíssemos com uma árvore como se ela fosse uma folha, ramo ou raíz.

 

A grande vantagem? Facilita-nos perceber, enquadrar, explicar, falar, decidir, agir, e viver! Desejo que possamos desaprender e reaprender a rotular e a pressupor de formas mais conscientes, congruentes e eficientes para termos mais escolhas e nos ajudarmos a saborear a vida!

 

Se estiveres a ler isto, presumo que tiveste interesse ou curiosidade. Leste talvez por teres presumido que te satisfizesse a curiosidade ou te será útil. Estou perto? Se retiraste algo deste texto, se te lembras de uma pessoa que vai gostar ou precise de o ler, partilha com ela. Se tens uma pergunta, envia-me uma mensagem.

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