O cancro da mama e a reconstrução mamária
Nos últimos anos, houve um grande desenvolvimento na cirurgia plástica e na cirurgia oncológica. Outubro é o mês de prevenção do cancro da mama.

Qual a frequência e importância do cancro da mama?
O cancro da mama é o segundo cancro mais frequente entre as mulheres, afetando uma em cada 11 mulheres ao longo da sua vida. Além de frequente, tem elevada letalidade, sendo a segunda causa de morte por cancro nas mulheres e responsável por 1800 mortes por ano em Portugal.
O que se segue após o diagnóstico e estadiamento de Cancro da mama?
Após o diagnóstico e estadiamento, as pacientes são encaminhadas e discutidas no seio de uma equipa multidisciplinar que engloba múltiplas especialidades médicas, nomeadamente a cirurgia geral (ou ginecologia), oncologia, radioterapia e cirurgia plástica.
Após serem explicadas as diferentes possibilidades de tratamento às pacientes é definido em conjunto um plano de tratamento. Será assim definido se a abordagem passará pela cirurgia em primeiro lugar (e qual o tipo de cirurgia) e/ou se será realizada radioterapia, hormonoterapia ou quimioterapia.
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Felizmente, nos dias de hoje, existem tratamentos disponíveis que permitem taxas de cura bastante elevadas, mas os tratamentos deixam marcas visíveis, não só a nível físico como a nível psicológico.
Em que parte do tratamento é considerada a reconstrução mamária?
A reconstrução mamária é cada vez mais requisitada tendo em conta as situações oncológicas que vão, dramaticamente, aumentando. O ato cirúrgico da reconstrução mamária é uma parte do tratamento da doença e deve ser efetuado de modo a não interferir com o processo de tratamento da doença de base. Nesta, como em muitas áreas da Medicina, a segurança do paciente impera sobre todos os outros aspetos.
A reconstrução mamária é uma área muito especial da cirurgia plástica que trata pacientes muito especiais que, por via do destino, são confrontados com um diagnóstico terrível e que acarreta ainda uma ideia generalizada de deformidade irreversível.
Nos últimos anos, houve um grande desenvolvimento na cirurgia plástica e na cirurgia oncológica, juntamente com todos os tratamentos adjuvantes (quimioterapia, hormonoterapia e radioterapia). Felizmente, com a informação difundida pelas entidades e pelos media e facilidade de acesso aos cuidados de saúde, o diagnóstico é cada vez mais precoce.
Hoje é possível efetuar cirurgias menos invasivas que permitem manter a mama e em alguns casos permite devolver a mama bonita que a paciente idealizava. Trata-se da cirurgia oncoplástica em que juntamente com a excisão da lesão, quando necessário, se remodela a mama para obter uma mama natural e rejuvenescida. Este tipo de reconstrução é imediato sendo efetuado no mesmo ato cirúrgico.
A reconstrução mamária é sempre efetuada no mesmo momento da remoção do tumor? Como é efetuada?
Em grande parte dos casos a reconstrução é diferida, ou seja, é feita uma excisão da lesão tumoral em primeiro lugar e, mais tarde, é realizada a reconstrução mamária (por oposição à reconstrução imediata, em que a reconstrução é efetuada no momento da excisão).
A reconstrução mamária diferida pode assentar na utilização de uma prótese com um expansor prévio para remodelar e reconstruir a mama, ou, em alguns casos (especialmente quando há realização de radioterapia) recorrendo a reconstrução com tecidos autólogos (do próprio paciente). O mais habitual é a reconstrução através de tecidos provenientes do abdómen, obtendo-se uma mama a partir de tecidos que seriam removidos no caso de uma abdominoplastia.
Reconstrói-se uma mama ao mesmo tempo que se melhora a região abdominal das pacientes. Além deste procedimento da reconstrução mamária principal, há também outros procedimentos associados que envolvem a simetrização ou remodelação da mama contralateral (que não teve nenhum problema), para que fique igual à mama reconstruída, havendo também a necessidade de reconstruir o mamilo e a areola para termos uma mama completa.
Qual a impacto da reconstrução mamária e como é feito o acompanhamento das pacientes?
O cancro da mama tem um impacto psicológico e físico muito importante. O papel da reconstrução mamária é o de diminuir o impacto e deformidade que o tratamento do cancro da mama implica e/ou devolver uma nova mama que permita à mulher enfrentar a vida com maior confiança. Durante todo este processo, é efetuado um acompanhamento muito próximo por uma equipa multidisciplinar que envolve múltiplos especialistas de áreas diferentes.
A reconstrução mamária é uma área ligada de forma “umbilical” à cirurgia plástica que oferece hoje muitas alternativas para devolver a mama e a confiança que as pacientes pretendem. Não deixe de consultar um cirurgião plástico inscrito na Ordem dos Médicos no caso de desejar saber mais acerca deste procedimento cirúrgico.
Por Eduardo Matos
Cirurgião plástico na Up Clinic