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O apelo aos sentidos e o poder da vida

O Garam Masala é uma combinação exótica da cultura indiana e africana, utilizada nas diversas receitas para cozinhar frango, camarão ou galinha com arroz. Considera-se uma verdadeira poção mágica com segredos guardados a sete chaves.

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A medicina em todas as suas vertentes é a união de culturas, experiências científicas e empíricas, religiosidade e acima de tudo valores humanos.É nesta força que temos de acreditar, num tempo em que as fronteiras já não seguram as populações a um lugar só, facilitando a mistura e a propagação de doenças, mas também de interação de saberes.  Onde evoluir é mais fácil, porque os recursos hoje são maiores.

 

Hipócrates via a medicina como uma forma suprema de arte, porque exige o conhecimento e a capacidade de aperfeiçoar o corpo humano. Da medicina hipocrática houve outra área que progrediu ao longo dos dois mil anos, assente na definição “Vis Medicatrix Naturae”, onde o conceito articulador é o do corpo (physis) em harmonia com a natureza (naturae) que tem a força intrínseca de curar (vis – curativa).

 

A medicina hipocrática defende que, sem esquecermos a dimensão universal, a natureza individual de cada ser humano, explicada a partir da combinação dos quatro humores, terá a capacidade de se auto regenerar.

 

Atualmente quase toda a farmacopeia moderna utiliza plantas com poder medicinal. As plantas usadas há séculos na cozinha de todos nós são parte do valor social, emocional, cultural e pessoal dos povos do mundo. Elas são a alma da cozinha e convertem um simples prato num alimento gourmet que estimula os sentidos.

 

Numa avaliação antropológica da cultura alimentar, algumas ervas ou temperos em pó, quando misturados, são verdadeiros tesouros familiares, que perduram na tradição de cada lugar. Por exemplo, o ‘Garam (quente) Masala (mistura)’ é uma combinação exótica da cultura indiana e africana, utilizada nas diversas receitas para cozinhar frango, camarão e galinha com arroz. Considera-se uma verdadeira poção mágica com segredos guardados a sete chaves.

 

Esta mistura olfativa, o caril (designação inventada pelos ingleses depois de perderem o império do oriente) resulta de uma sábia combinação de canela, gengibre, noz moscada, cardamomo, sementes de coentros, sementes de mostarda, anis, louro, cravinho, piripiri em pó, funcho, açafrão e pimenta preta.

 

Atrevo-me até a comparar o ‘Garam Masala’ com uma orquestra sinfónica! É um poderoso estimulante para os sentidos do ser humano. O seu sabor é acentuado por um destes ingredientes, consoante as castas e a cultura de cada lugar e depois preparado com cebola, alho e leite de coco.

 

A sua utilização é considerada afrodisíaca, numa simbólica ponte entre a gula e a luxúria.  Uma forma de compensar, saciar e estimular as emoções. É uma verdadeira oferenda ao corpo… E, tal como o vinho, também nos deixa inebriados…

 

O estudo das virtudes estimulantes dos alimentos é antigo.  Se bem observado, podemos interpretar várias caraterísticas em cada pessoa que nutre uma certa preferência por combinações de refeições, onde o aroma e o sabor são intensos e coloridos.

 

Sendo investigadora sobre observação da saúde dos povos, fico atenta às preferências de quem me procura no consultório. Se o doente não foi influenciado por este tipo de cultura alimentar, mas adota esta escolha com frequência, pode-se perceber que parte do seu metabolismo precisa de aumentar a temperatura do corpo, tonificando a energia do rim ou do baço e pâncreas, onde transformamos os alimentos.  Uma espécie de abraço sentido onde o calor conforta e o cheiro acalenta ou liberta!

 

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