Minimalismo: aprender a viver com menos para viver mais feliz
Numa altura em que o Natal se aproxima a passos largos, a publicidade tomou conta das televisões, das rádios e das redes sociais, e em todo o lado a mensagem repete-se: compre, compre, compre. Por isso, em pleno dia de Black Friday, onde as marcas oferecem grandes descontos e apelam ao consumo, celebra-se também o Dia de Não Comprar Nada, implementado em 1992 e que pretende chamar a atenção para os problemas que o consumo exagerado provoca. A pensar nesta problemática, Ana Milhazes, autora do blog ‘Ana, Go Slowly’ e embaixadora do movimento Lixo Zero Portugal, explica como viver de acordo com um estilo de vida minimalista.
Enquanto estilo de vida, o minimalismo tem ganhado cada vez mais adeptos. Para viver de acordo com esta máxima, há um primeiro passo a fazer, «é preciso identificar o que é essencial para nós e eliminarmos tudo o resto. A ideia é viver com aquilo que é mais importante e isto é obviamente diferente de pessoa para pessoa. Uma pessoa que trabalhe, por exemplo, na área da moda, ter imensos sapatos ou ter imensa roupa será o mais importante para ela, no entanto, no resto da casa pode não ter praticamente nada; uma pessoa que tem outra profissão terá outras coisas que que considera essenciais», explica Ana Milhazes.
No entanto, apesar de parecer fácil, o mais difícil na adoção deste estilo de vida é conseguir identificar o que é essencial. «Como vivemos numa sociedade consumista, toda a publicidade que passa, seja na televisão ou nas revistas, incentiva a ter isto e aquilo, porque senão não somos suficientes ou até parece que não somos felizes».
Após conseguir identificar quais as coisas que não pode mesmo dispensar, o processo torna-se mais simples e as lojas e a publicidade excessiva deixam de o influenciar, pois sabe que aquelas coisas não são necessárias para uma boa vida.
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Ana Milhazes começou a informar-se mais sobre estas questões a partir de 2011, no entanto, a preocupação com o planeta esteve sempre presente na sua vida, «desde miúda que sempre fui muito preocupada com as questões ambientais. Já com cinco anos colocava os meus vizinhos a apanhar lixo comigo, vivíamos num prédio bastante grande e nos arredores tentávamos manter o espaço limpo».
Depois com o avançar dos anos, o foco passou a estar nos estudos e posteriormente no trabalho e chegou a uma altura da sua vida em que se tornou extremamente consumista: «Roupa e sapatos eram das coisas que eu era capaz de comprar todas as semanas, era uma coisa mesmo exagerada. Depois, por volta do final do ano de 2011, por várias circunstâncias, comecei a refletir sobre a vida que tinha. Supostamente tinha tudo aquilo para o qual fui educada, tudo o que devia atingir, estava num ótimo emprego e tinha uma casa bonita perto da praia, mas sentia que não era feliz».
Esta sensação de infelicidade levou Ana a ler e pesquisar mais sobre organização. «Sentia que os dias passavam a correr, que eram sempre iguais e que não tinha tempo livre e achei que era falta de organização». No entanto, durante estas pesquisas descobriu diversos blogues sobre minimalismo e começou a interessar-se pelo tema.
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«Houve uma altura em que tinha feito uma lista de coisas que queria comprar para organizar o que tinha em casa e que não usava, mas depois encontrei uma frase que me marcou para sempre. Dizia que não faz sentido comprarmos coisas para organizarmos outras coisas que temos em casa e não usamos, o que faz sentido é livrarmo-nos delas».
Assim, tomou a decisão de doar as coisas sem uso a pessoas ou instituições que realmente precisavam. A partir desse dia percebeu o que era o desapego e o que significava viver com menos: «Comecei pela roupa e pelos sapatos, porque era o que eu tinha mais, mas depois fui para todas as áreas da casa e o engraçado é que depois da parte material veio a parte não-material, ou seja, houve a necessidade de me libertar de pessoas, compromissos e coisas que não faziam sentido na minha vida, situações em que muitas vezes dizemos que sim só para parecer bem. Tornei-me mais exigente comigo e passei a aceitar apenas o que acrescentava valor à minha vida».
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