Marcas: Tudo às claras!
Os consumidores querem fazer compras mais éticas e sustentáveis, mas para isso precisam de saber exatamente o que está a acontecer e o que as marcas estão a fazer.
Não sei quanto a vocês, mas eu fico muito feliz quando ainda consigo ser surpreendida pelas marcas. Desde a pandemia (já podemos falar dela no passado, certo?) que me habituei a fazer compras de roupa de algumas marcas na loja online.
Não sou amante de ir à loja, perder-me nos lineares, experimentar mais dos que as peças limite que se podem levar para o provador. Enfim, tudo aquilo que supostamente é divertido nas compras! Assim, das marcas que conheço arrisco a encomendar online aquelas peças que me fazem falta ou que me chamam a atenção.
Numa das últimas compras online, fiquei agradavelmente surpreendida com uma informação que constava na descrição da peça, para além da composição e dos cuidados a ter e que é a origem (se calhar não é assim recente, mas ainda não me tinha chamado a atenção).
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Acabei por ir espreitar os sites de outras lojas de fast fashion e verifiquei que em todos eles já consta a origem e uma seção sobre sustentabilidade e transparência. Adorei este conceito de transparência associado à origem da peça. Na verdade, associado à moda (e não se trata de roupas transparentes 😊).
Estive a espreitar o Fashion Transparency Index de 2022 (podem espreitar aqui também) onde se faz uma análise das 250 maiores marcas de moda e retalhista do mundo, classificando-os de acordo com o seu nível de divulgação pública sobre direitos humanos e ainda, políticas, práticas e impactos ambientais.
Neste index podemos verificar que marcas como a H&M ou a Benetton se encontram com uma pontuação entre 61 e 70%, enquanto marcas como Triumph, Max Mara ou Tom Ford têm uma pontuação entre 0 e 5%. Engraçado (ou sem piada nenhuma) perceber que as ditas marcas de fast fashion têm um maior compromisso com a transparência. Por outro lado, é triste perceber que não existem marcas com mais de 80% de pontuação.
Sem dúvida alguma que o consumidor está cada vez mais consciente e atento a palavras como “ético” e “sustentável”. Mas sem dúvida alguma que nos últimos anos a transparência – i.e., conhecimento aberto e honesto sobre fornecedores, processos de produção, práticas de trabalho, impactos ambientais em toda a cadeia de valor do produto – ganhou mais peso sobretudo na indústria da moda e, consequentemente, tem cada vez mais impacto na construção das marcas de moda.
As marcas que são transparentes são vistas como mais confiáveis e responsáveis, o que pode ajudar a construir lealdade do consumidor e reputação da marca.
Os consumidores querem fazer compras mais éticas e sustentáveis, mas para isso precisam de saber exatamente o que está a acontecer e o que as marcas estão a fazer. É aqui que entra a transparência na moda, e a forma com as marcas devem divulgar informações e mantê-las facilmente acessíveis para consumidores e outras organizações. Tecnicamente, ser transparente sobre o impacto ambiental e social, não significa que uma marca está a trabalhar para melhorá-lo, mas significa que os consumidores podem tomar decisões de compra mais informadas e conscientes. A transparência ajuda também a responsabilizar as marcas e, consequentemente, a pressionar a indústria a ser e fazer melhor no que à ética e sustentabilidade diz respeito.
Do ponto de vista da marca, há todo o interesse em ser transparente e divulgar informações relevantes. A McKinsey e a Business of Fashion relatam que 52% dos millennials pesquisam sempre informações básicas antes de comprar e 57% dos consumidores estão dispostos a mudar os hábitos de compra para reduzir o impacto ambiental negativo.
Ser transparente é também uma oportunidade para contar histórias, que por sua vez ajudam as marcas a construir, e reconquistar, a confiança dos seus consumidores. Além disso permite que as marcas atinjam uma nova categoria de consumidores mais conscientes que antes talvez não tivessem equacionado comprar delas.
Algumas das principais razões pelas quais a transparência na moda é importante para a construção da marca são:
- Constrói a confiança e a credibilidade através do compromisso com práticas éticas e sustentáveis.
- Diferencia as marcas dos concorrentes e atrai consumidores que procuram opções mais responsáveis.
- Melhora a reputação da marca a nível social e ético, o que pode melhorar a reputação geral da marca.
- Cria fidelidade do cliente uma vez que os consumidores estão cada vez mais interessados em comprar de marcas que estejam alinhadas com seus valores e crenças.
- Responde à procura dos consumidores e ajuda a construir um relacionamento mais forte com esses consumidores.
Como as marcas estão atentas a esta onda crescente de interesse do consumidor têm aderido a um movimento de transparência e sustentabilidade que se traduz na divulgação e partilha de mais informações (por isso me chamou a atenção a informação aquando das minhas compras). Têm-se observado progressos interessantes no detalhe da informação divulgada (o Fashion Transparency Index de 2022 tem imensa informação sobre o que há disponível) contudo há ainda um longo caminho a percorrer. Aliás, como já referi, cada marca que melhora sua transparência eleva também os padrões para a indústria da moda como um todo fazendo deste um esforço coletivo.
A transparência é apenas o primeiro passo para as marcas de moda serem mais éticas e sustentáveis, contudo será necessária uma mudança drástica não só na forma como produzem, mas sobretudo como consumimos roupa. Enquanto consumidores temos o poder de mudar a indústria para melhor. Exigindo mais!
Como pode o consumidor saber que marcas escolher, entre este mar de marcas, centenas de milhares de produtos e questões a ter em conta? Não é fácil! O index que falei é uma ajuda e a informação disponibilizada nos sites das marcas também.
O consumidor interessado terá de fazer a sua pesquisa para ter a certeza de que escolhe as melhores marcas, os melhores materiais, a melhor roupa, as melhores condições de trabalho e remuneração, quando escolhe a peça que vai comprar. Como para tantas outras coisas já existem apps que ajudam nas avaliações de sustentabilidade na moda como por exemplo a ‘Good On You’, entre tantas outras.
Se tiver curiosidade em saber mais sobre os movimentos sobre a transparência na indústria da moda pode seguir o Fashion Revolution que está a convidar os consumidores a fazerem mais perguntas sobre as roupas que compram: #WhoMadeMyFabric, #WhoMadeMyClothes ou #WhatsInMyClothes (#Quemfezomeutecido, #Quemfezaminharoupa ou #Oqueestánaminharoupa).
Sejamos curiosos e exijamos que esteja tudo às claras!
Boas (e conscientes) compras.