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Intolerâncias alimentares e novos estilos de vida

Estamos a viver uma transformação epidemiológica, que nos coloca novos desafios.

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A intolerância alimentar pode provocar diversos sintomas que afetam a nossa qualidade de vida. Trata-se de uma reação anormal a determinados alimentos, mais difícil de detetar que a alergia alimentar, uma vez que não é momentânea e que ocorre entre 8 a 72 horas após a ingestão do alimento. Na maioria dos casos, esta situação leva a que a pessoa não consiga associar os sintomas à ingestão de um alimento em concreto.

 

A eliminação dos alimentos aos quais o indivíduo apresenta hipersensibilidade proporciona uma melhoria significativa na sua sintomatologia, podendo os mesmos voltar a ser inseridos na dieta, de forma gradual, após seis meses.

 

Na última década, já muito se tem falado em dietas e estilos de vidas saudáveis, como forma de prevenção de uma série de doenças. No entanto, é de salientar que estamos a viver uma transformação epidemiológica, que nos coloca novos desafios, sendo imperativo falar não apenas em alimentação adequada, mas também sustentável. Tudo isto, sem colocar de parte a importância das intolerâncias alimentares e, consequentemente, da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas, assim como da sua filosofia de vida.

 

Dados publicados pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas projetam que, em 2030, a população mundial aumente para 8,5 biliões e que, em 2050, seja atingido o valor de 9,7 biliões de pessoas no mundo.

 

Esta realidade impõe novos desafios e oportunidades, que vão no sentido de dar resposta alimentar a uma sociedade demograficamente alterada. É necessário repensar o padrão alimentar dos portugueses e da sociedade moderna, que não se reduz à ingestão de alimentos para satisfazer as necessidades fisiológicas. Pelo contrário, a alimentação tem impacto social e é influenciada pelos hábitos, que foram passados de geração em geração e, ainda, pelas novas realidades sociais, na qual o tema da sustentabilidade é realmente importante.

 

Dieta mediterrânea versus vegetarianismo

De acordo com dados da Balança Alimentar Portuguesa (BAP), é percetível que a dieta mediterrânica ainda se mantém como pilar de uma alimentação saudável. Todavia, é também notória a integração de uma alimentação vegetariana no dia-a-dia dos portugueses.

 

Os dados da BAP mostram que, em Portugal, os produtos cárneos, o pescado e os ovos apresentam um desvio face às recomendações de consumo apresentadas na Roda dos Alimentos. Em comparação, em 2016, o consumo deste tipo de alimentos foi 11,5 por cento superior ao que é preconizado. Entre 2012 e 2016, os portugueses tinham disponível para consumo aproximadamente 77,8kg de carne per capita/ano.

 

O tema da sustentabilidade e a preocupação no impacto que os alimentos que ingerimos têm no planeta Terra levou a que o número de adeptos de uma alimentação vegetariana tenha quadruplicado, nos últimos 10 anos.

 

São cada vez mais os portugueses que incluem uma ou mais refeições vegetarianas na sua dieta, seja ao fim-de-semana, como forma de compensar alguns excessos, ou como alternativa durante a semana, para levar na marmita para o emprego.

 

A realidade é que, de facto, é essencial diminuir a fração que os produtos cárneos representam na alimentação diária. Uma grande percentagem da emissão, para a atmosfera, de gases relacionados com o efeito de estufa, envolvidos no aquecimento global a que hoje se assiste, está relacionada direta ou indiretamente com a atividade humana, nomeadamente com a pecuária.

 

A transição de dietas ricas em proteína animal para dietas com um maior conteúdo de proteína vegetal é essencial, tanto em termos de sustentabilidade, como nutricionais e de saúde.

 

Acredito que a diminuição do consumo de carne levará a um aumento da disponibilidade de alimentos, que eram utilizados para os animais e que vão passar a ser diretamente consumidos pelo ser humano. Além disso, o consumo de produtos de origem animal, particularmente de carne vermelha ou processada, parece estar associado ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cancro e obesidade.

 

Antes de mais é preciso perceber a definição de alimento sustentável, que significa ser produzido com recurso a métodos que respeitam o ambiente e os animais. Do ponto de vista nutricional, considero que as leguminosas, conjugadas com os grãos, serão parte da solução. As leguminosas têm proteínas, hidratos de carbono (amido), fibras, vitaminas e minerais. No entanto, não contêm aminoácidos essenciais, o que as torna um alimento de baixo valor biológico, uma vez que são pobres em metionina e triptofano.

 

Os cereais complementam esta situação, pois são pobres apenas em lisina, daí a sua complementaridade com as leguminosas ser uma excelente opção. Destaco os micronutrientes presentes nas leguminosas: vitaminas do complexo B, minerais como o cálcio, o ferro, o potássio, o magnésio e o zinco.

 

Segundo os dados da BAP, a disponibilidade alimentar de leguminosas é deficitária face às recomendações preconizadas pela Roda dos Alimentos, representando menos 3,4 por cento do que é aconselhado. Porém, já existem diversos estudos realizados com o objetivo de avaliar o impacto ambiental da produção de alimentos e, em simultâneo, definir as melhores estratégias para a criação de uma alimentação sustentável.

 

Por Andreia Monteiro

Especialista em Imunohemoterapia, Medicina Preventiva e Medicina Estética

 

 

 

 

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