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Incontinência urinária associada à esclerose múltipla

Cerca de oito mil portugueses padecem desta doença neurológica crónica e degenerativa. Dia Nacional do Doente com Esclerose Múltipla assinala-se a 4 de dezembro.

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A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurológica crónica, autoimune, inflamatória e degenerativa que afeta cerca de oito mil portugueses. É uma doença desmielinizante, o que significa que existe perda da camada de mielina que reveste os neurónios, o que significa que afeta o sistema nervoso que controla várias funções do nosso organismo, como por exemplo o sistema urinário.

 

As disfunções do aparelho urinário inferior, como a incontinência urinária, são muito comuns em doentes com EM, podendo afetar cerca de 80% dos doentes, independentemente do sexo. Isto acontece porque o normal controlo do aparelho urinário requer total integridade do sistema nervoso central e periférico. A incontinência urinária (IU), que consiste na perda involuntária de urina, ocorre muitas das vezes em contexto de bexiga hiperativa: vontade súbita e incontrolável de urinar provocada que pode levar à perda de urina em grande quantidade ou até ao esvaziamento total da bexiga. Este problema acarreta geralmente grande impacto na qualidade de vida, causando problemas psicogéneos, higiénicos e sociais com isolamento dos doentes afetados.

 

Para além do prejuízo da autoimagem, este é um problema que provoca geralmente uma restrição das atividades realizadas em contexto social, familiar ou até laboral. Isto acontece pelo facto de o doente se sentir desconfortável devido à possibilidade de perder urina de modo súbito, impondo insegurança Além disto, como a EM pode afetar a mobilidade, é ainda mais provável que o doente não consiga chegar ao WC a tempo em caso de um episódio de urgência miccional.

 

Como tal, é crucial que os doentes procurem ajuda especializada aquando dos primeiros sintomas: imperiosidade miccional, disúria, por vezes incontinência. Inicialmente, é feito um diagnóstico clínico baseado nas queixas do doente, devendo ser ainda realizada uma investigação detalhada, incluindo um estudo urodinâmico completo, para caracterizar a disfunção do aparelho urinário. Após isto, interessa perceber qual será o melhor tratamento disponível.

 

Inicialmente, o tratamento passa pelo uso da terapêutica médica em comprimidos. Caso esta seja ineficaz, existem outras opções, como a injeção de toxina botulínica na bexiga ou a implantação de um neuromodulador de raízes sagradas. Existem, no entanto, alguns aspetos a ter em conta para evitar este problema. Quando a EM é o principal fator causador da IU, deve controlar-se a doença de forma adequada para evitar o desenvolvimento de incontinência urinária. Além disto, a ingestão de líquidos em horas estratégicas, ou seja, quando o doente tem fácil acesso ao WC, é também uma forma de minorar as perdas em alturas menos oportunas.

 

É ainda importante mencionar que, apesar de a pandemia de COVID-19 ter vindo a “mascarar” este tipo de problemas, esta é uma situação que apenas ficou em standby. Neste momento, as pessoas passam mais tempo em casa e, consequentemente, não sofrem um impacto negativo tão grande. No entanto, isto apenas fará com que a procura por ajuda só aconteça após a pandemia, o que poderá significar um agravamento do problema devido ao diagnóstico tardio. Consequentemente, dado aos estados mais avançados que poderão chegar aos especialistas, o tratamento também será mais invasivo e a probabilidade de sucesso será menor.

 

Por Avelino Fraga

Diretor do serviço de Urologia do Hospital Geral de Santo António, do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP)

 

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