Hipotiroidismo, uma doença pouco diagnosticada em Portugal
Estima-se que um milhão de portugueses sofra de distúrbios da tiroide, embora ainda exista um grande desconhecimento das doenças associadas a esta glândula, bem como da forma como se manifestam. Aumento de peso, depressão, falta de concentração, falta de motivação, dificuldades para engravidar ou obstipação são sinais e sintomas de disfunções da tiroide, mas que facilmente são confundidos com os de outras doenças.

A tiroide é a glândula que controla o nosso metabolismo e é responsável por regular diferentes funções do corpo através do armazenamento e secreção de hormonas no sangue. Entre outras funções, estas hormonas permitem que o nosso corpo use as suas reservas de energia de forma a que a temperatura corporal seja equilibrada e que os nossos músculos trabalhem adequadamente.
Quando desreguladas provocam distúrbios que afetam mais de um milhão de portugueses e mais de 300 milhões de pessoas por toda a Europa, principalmente mulheres. As doenças da tiroide mais comuns são o hipotiroidismo e o hipertiroidismo e apresentam maior prevalência nas mulheres.
O hipotiroidismo é uma doença endócrina que resulta da perda de função da glândula tiroideia. De acordo com o estudo eCOR, da responsabilidade do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, a sua prevalência aproximada é de 9% na população de Portugal continental. Por outro lado, no estudo PORMETS, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, encontrou-se uma prevalência menor, de cerca de 5%. De acordo com este último estudo, o hipotiroidismo atinge quatro vezes mais as mulheres do que os homens.
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Laboratorialmente, o hipotiroidismo caracteriza-se por um aumento da hormona hipofisária reguladora da tiroide, a TSH (hormona estimulante da tiroide) que pode ser acompanhado ou não por diminuição das hormonas tiroideias tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4) no sangue. Quando os níveis sanguíneos das hormonas tiroideias estão diminuídos, fala-se de hipotiroidismo clínico, uma forma da doença que pode atingir cerca de 1% e 1.6% da população de acordo respetivamente com os estudos e_OR e PORMETS e que, como o nome indica, se pode fazer acompanhar de sintomatologia clínica.
Os sintomas e sinais do hipotiroidismo são variados e poucos específicos, podendo incluir alterações da memória e concentração, depressão, astenia, fadiga muscular, mialgias, ganho ponderal, pele seca, cabelo fino, intolerância ao frio, bradicardia, obstipação, rouquidão e irregularidades menstruais.
O hipotiroidismo subclínico, em que apenas a TSH está aumentada, corresponde a uma forma inicial da doença em que a produção deficiente das hormonas tiroideias é compensada à custa de uma maior estimulação pela TSH. Esta forma da doença é a mais frequente (cerca de 7.8% e 3.3% de acordo com estudos eCOR e PORMETS, respetivamente) e devido à sua sintomatologia escassa ou ausente normalmente não é diagnosticada. De facto, a maior parte dos casos de hipotiroidismo não se encontram diagnosticados (cerca de 71% de acordo com estudo PORMETS).
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A principal causa do hipotiroidismo é a tiroidite crónica autoimune, também denominada linfocítica ou de Hashimoto, diagnosticada através do doseamento dos anticorpos anti-tiroideus (anticorpos anti-tireoglobulina e anti-peroxidase tiroideia). Trata-se de uma doença autoimune cuja prevalência aumenta com a idade e que atinge principalmente a mulher. De facto, a positividade de qualquer dos anticorpos anti-tiroideus é cerca de 3 vezes maior na mulher do que no homem.
Todas as formas de hipotiroidismo clínico têm indicação para terapêutica hormonal de substituição com T4. A T4 é a principal hormona produzida na tiroide e pode converter-se no nosso organismo e de acordo com as necessidades celulares em T3, a hormona tiroideia mais ativa. O uso da T4 no tratamento do hipotiroidismo permite assim uma disponibilização mais fisiológica da hormona em falta.