Hipertensão pulmonar: Uma doença progressiva e grave que nem sempre é detetada a tempo
Esta é uma doença rapidamente progressiva e de diagnóstico difícil, que se deixada evoluir sem tratamento mata metade dos doentes em menos de três anos. A HAP acomete habitualmente doentes com menos de 50 anos, muitos deles mulheres em idade fértil.
Ao contrário da comum hipertensão arterial, que afeta as artérias da circulação sistémica, responsável por levar o sangue do coração para o resto do corpo, e que todos conhecemos e conseguimos medir facilmente com um simples esfigmomanómetro, na hipertensão arterial pulmonar (HAP), o problema reside nas artérias da circulação pulmonar, que levam o sangue do ventrículo direito, através dos pulmões, para o ventrículo esquerdo.
Nesta doença, as artérias pulmonares ficam substancialmente mais estreitas, tornando a passagem do sangue mais difícil. Assim, este aumento da resistência ao fluxo leva a que, ao fim de algum tempo, o ventrículo direito do coração entre em falência. Inicialmente, as queixas manifestam-se apenas quando o doente se esforça, mas, em casos mais avançados, os sintomas aparecem mesmo em repouso. Infelizmente, a HAP é uma doença rapidamente progressiva e de diagnóstico difícil e, por essa razão, se deixada evoluir sem tratamento, mata metade dos doentes em menos de três anos.
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Apesar de rara (afeta menos de cinco doentes por milhão), a HAP acomete habitualmente doentes com menos de 50 anos, muitos deles mulheres em idade fértil. Os sintomas mais comuns, como a falta de ar durante o esforço, a fadiga inexplicada ou a tosse, confundem-se com os de outras doenças muito prevalentes, como a asma ou a anemia, pelo que muitas vezes o diagnóstico só é atingido ao fim de mais de um ano e de várias consultas. No entanto, um sinal particular que acompanha muitos destes doentes é uma coloração azulada da pele e mucosas, como os lábios, denominada cianose, que constitui o mote de uma campanha que a Associação Europeia de Hipertensão Pulmonar tem em curso.
Alguns doentes têm maior risco de desenvolver HAP, nomeadamente aqueles com doenças autoimunes, como a esclerose sistémica, ou com algumas formas de doenças congénitas do coração e os portadores do vírus da imunodeficiência humana (VIH). Uma pequena proporção desenvolve ainda a doença de forma hereditária e, em muitos casos, não se identifica a causa, denominando-se, assim, HAP idiopática.
Relativamente ao diagnóstico da HAP, os exames complementares de diagnóstico geralmente utilizados são, numa primeira fase, o eletrocardiograma (ECG), o ecocardiograma, as provas de função respiratória e a tomografia computadorizada (TC) torácica. Numa fase mais avançada, muitos doentes acabam por realizar um exame invasivo denominado cateterismo cardíaco, onde é avançando, por uma veia do braço, do pescoço ou da perna, um tubo oco e fino até ao coração, com cerca de 2 mm de diâmetro, que irá medir as pressões dentro das cavidades cardíacas e nas artérias dos pulmões.
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Apesar dos avanços no conhecimento da doença e da descoberta de fármacos eficazes e seguros, a mortalidade permanece elevada se os doentes não forem tratados precocemente em centros especializados. Neste sentido, a Direção-Geral da Saúde nomeou centros especializados em Lisboa, Almada, Porto e Coimbra, para onde devem ser referenciados todos os doentes com suspeita ou confirmação de HAP. Nestes centros, os doentes serão avaliados por uma equipa especializada que prosseguirá com o estudo do doente e iniciará, se for caso disso, medicação específica fornecida gratuitamente na farmácia hospitalar, que poderá variar de comprimidos a medicação endovenosa contínua administrada por uma bomba portátil.
A medicação revolucionou o panorama do tratamento da HAP, tendo melhorado substancialmente o prognóstico dos doentes. No entanto, existem ainda casos de doentes em que a doença continua a progredir, sendo o transplante do pulmão uma opção para alguns deles.
Por Rui Terenas Baptista
Médico Cardiologista, Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra