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Grandes retalhistas ameaçam boicotar compras de peixe decorrente de práticas de sobrepesca

Descarte de 100 mil peixes na costa de França na semana passada são uma 'gota no oceano' no que toca a sobrepesca nestas águas, denuncia o coletivo de retalhistas, onde se incluem cadeias como o Aldi e a Tesco.

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O Grupo de Defesa dos Pelágicos do Atlântico Norte (NAPA, sigla em inglês), do qual fazem parte grandes retalhistas como o ALDI, a Tesco, Sainsbury’s, Morrisons, M&S, entre outras cadeias, ameaçam boicotar a compra de peixe a empresas e Estados coniventes com práticas de sobrepesca.

 

O anúncio chega depois da denúncia, pela organização ambientalista Sea Shepherd, do descarte de 100 mil peixes no Golfo da Biscaia, costa de França, cobrindo uma área de cerca de 3000 metros quadrados. Os peixes em causa, denominados verdinhos, uma subespécie de bacalhau, não são para consumo humano direto e foram apanhados no arrastão da pescaria. Segundo a NAPA, 100 mil verdinhos equivalem a cerca de 18 toneladas de peixe descartado.

 

O que aconteceu é uma ‘gota no oceano’ no que toca a sobrepesca nestas águas, denuncia o coletivo de retalhistas, que destaca que mais de 1.700.000.000 verdinhos são sobrepescados anualmente, devido à falha das nações costeiras do Atlântico Nordeste em respeitarem os conselhos científicos para manter os stocks. «Este é o verdadeiro escândalo», diz o diretor executivo da NAPA, Tom Pickerell.

 

O ‘tapete flutuante de peixes mortos’ encontrado pela Sea Shepherd desencadeou um debate contencioso. A Pelagic Freezer-Trawler Association, que representa o proprietário da embarcação, afirmou que o incidente foi causado por uma rara ruptura na rede da traineira. A Sea Shepherd alega que foi uma descarga ilegal de mais de 100 mil peixes indesejados. No entanto, os 100 mil verdinhos perdidos neste incidente serão deduzidos da quota do navio.

 

peixe verdinho

A ministra do Mar de França, Annick Girardin, pediu à autoridade nacional de vigilância pesqueira de França para iniciar uma investigação sobre o acidente. O comissário da UE para o Meio Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevicius, também pediu um inquérito.

 

«Embora este seja, sem dúvida, um valor preocupante, em 2021, os Estados Costeiros do Atlântico Nordeste (Reino Unido, UE, Noruega, Islândia, Ilhas Faroé, Groenlândia e Rússia) estabeleceram a cota para o mesmo verdinho em 313.435 toneladas acima do parecer científico para a pesca sustentável (929.292 toneladas). Isso ultrapassa em 34%. O verdinho pesa em média 180g, portanto, em termos de volume, isso representa uma ‘sobrepesca’ de cerca de 1.741.305.556 (1,7 mil milhões) de verdinho, fazendo com que a perda de 100.000 peixes pareça uma mera gota no oceano», explica a organização em comunicado.

 

A NAPA diz que Estados costeiros têm fixado níveis de captura acima dos pareceres científicos estabelecidos para esta unidade populacional há mais de uma década. «Esta situação insustentável é impulsionada pela política. Ou seja, a política fracionada dos países que participam na pesca pelágica compartilhada do Atlântico Nordeste – uma das áreas mais observadas, avaliadas, compreendidas e ricas para a pesca no mundo. Os Estados costeiros têm todas as evidências e recursos ao seu alcance para chegar à mesa com um roteiro claro para a sustentabilidade. Mas eles falham continuamente na cooperação para conseguirem isso. O poder de fazer isso acontecer está nas mãos das nações costeiras do Atlântico Nordeste e na sua capacidade de trabalhar em conjunto», diz o NAPA.

 

A pressão dos retalhistas

O NAPA é uma junção sem precedentes de empresas que se esforçam para impedir a sobrepesca do verdinho do Nordeste do Atlântico, para além também dos stocks da cavala do Atlântico Nordeste e do arenque atlanto-escandinavo.

 

Desde a sua criação, a NAPA atraiu mais de 50 organizações parceiras de todo o mundo – abrangendo empresas de serviços de alimentação, processadores, compradores e lojistas da Europa, África, Austrália, América do Norte e Japão. Como um coletivo de empresas com uma participação de € 802 milhões na compra de pelágicos do Atlântico Nordeste, a NAPA investe diretamente na gestão responsável e científica dessas pescarias.

 

«Se não forem feitas melhorias de acordo com os pareceres científicos, os parceiros do NAPA podem ser forçados a repensar as suas decisões de compra. Até à data, 23 parceiros fizeram declarações públicas expondo as consequências do contínuo fracasso da gestão destas pescarias. Onze empresas disseram que vão rever o seu fornecimento, cinco não se abastecerão mais destas pescarias, quatro apenas se abastecerão dos Estados costeiros que agirem responsavelmente e três observaram os impactos negativos nos negócios que enfrentariam», revela o grupo.

 

Em comunicado, o diretor executivo do NAPA, Tom Pickerell, declara: «Os Estados costeiros precisam de ser responsabilizados pela sobrepesca de verdinho, cavala e arenque em níveis tão altos quanto 30-40% acima dos conselhos científicos. As suas ações colocam em risco a sustentabilidade desses stocks e o equilíbrio dos ecossistemas do Atlântico Nordeste. Este é o verdadeiro escândalo».

 

 

 

 

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