Fatores que contribuem para a hipertensão arterial
A hipertensão arterial continua a afetar quase metade dos portugueses. Se quisermos falar em números, falamos de mais de 3.5 mil milhões de adultos em todo o mundo, e de mais de 900 milhões ainda mal controlados.

A hipertensão arterial (HTA) continua a merecer lugar de destaque não só na revista científica, mas em toda a página que possa ser folheada pelo cidadão comum. E porquê? Porque continua a afetar quase metade dos portugueses – se quisermos falar em números, falamos de mais de 3.5 mil milhões de adultos em todo o mundo, e de mais de 900 milhões ainda mal controlados. E por outro lado, também porque é o fator de risco que mais contribui para a morte em todo o mundo, visto que esta continua a ser causada em particular pela doença cardiovascular – todos os anos morrem cerca de 10 milhões de indivíduos por motivos atribuíveis à hipertensão.
As doenças cardio e cerebrovasculares, como o enfarte agudo do miocárdio e o AVC (vulgo ”trombose”) não só são importantes relembrar e prevenir pela sua elevada mortalidade, mas também pela morbilidade que acarretam. Isto é, pelas consequências, como os tempos de internamento hospitalar prolongado, a dependência do ponto de vista físico/ motor, a demência precoce, a incapacidade laboral. Não só pelo peso que tudo isto acarreta para o doente mas também para a família, bem como os elevados custos em saúde – tema inevitável no nosso século. E se falamos em fator de risco, falamos em risco, e como tal em algo tratável e acima de tudo potencialmente possível de prevenir
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Antes de mais, vale a pena recordar que hipertensão se define como valores de pressão arterial (PA) igual ou acima de 140/90mmHg (medida corretamente e em mais que uma ocasião). Na sua grande maioria a Hipertensão arterial é primária, ou essencial, ou seja, sem nenhuma causa específica identificável e tende a desenvolver-se gradualmente ao longo dos anos. Numa pequena percentagem de casos (5-15% conforme os estudos avaliados) a HTA pode ser secundária, isto é, atribuível a uma causa específica, que pode e deve ser investigada em determinados indivíduos, em consulta médica.
A HTA é uma doença muito heterogénea, e existem vários fatores que contribuem para o seu desenvolvimento e controlo (ou mau controlo), como os descritos em seguida.
História familiar: cerca de 35-50% dos casos têm um componente de hereditariedade; não é por haver história de HTA na família que o indivíduo será necessariamente hipertenso, mas torna-o mais provável; ser familiar também não torna o seu controlo mais difícil.
Idade: o risco de HTA aumenta com a idade; a partir dos 60 anos tende a aumentar em especial a PA sistólica (o valor da “máxima”); também não é por ter mais idade que a HTA pode ser “normal” – nunca é, e é sempre possível controlar os valores.
Etnia: os indivíduos negros tendem a ter uma prevalência de HTA mais significativa e é mais frequente ser uma HTA de mais difícil controlo.
Excesso de peso/ obesidade: aumenta o risco de HTA bem como a dificuldade de controlo da PA; em especial em indivíduos jovens, às vezes basta o controlo do peso para que se possa reduzir a medicação necessária para o controlo tensional.
Sedentarismo: também agrava a HTA e dificulta o seu controlo, não só pelo mau controlo do peso mas também pelo condicionamento cardíaco.
Tabaco: não só promove um aumento imediato na PA (não se deve medir a tensão nos minutos após fumar, pelos valores “falsamente” elevados) como também causa lesões nas artérias do coração (e cérebro, rim, olho) contribuindo para a HTA e para um maior risco de enfarte e AVC.
Sal: o consumo de sal em excesso promove a chamada retenção de líquidos (não visível, e não necessariamente referindo a pernas inchadas), aumentando a pressão arterial a curto, médio e longo prazo; reduzindo o sal na comida consegue-se uma redução eficaz dos valores de PA, e este pode ser substituído por ervas aromáticas que não contribuem para o aumento de risco cardiovascular.
Alimentação: uma alimentação equilibrada, rica em frutas e legumes, pobre em açúcares/ gorduras e hidratos de carbono, contribui para uma vida mais saudável e um melhor controlo da HTA.
Álcool: a OMS recomenda que não seja consumido mais que 2 copos de álcool (vinho) por dia para o homem e mais que um copo por dia para a mulher, visto que o consumo em excesso também contribuiu para a HTA e danos para o coração e cérebro.
Diabetes: a Diabetes (DM) e a HTA andam frequentemente de mãos dadas, sendo que um indivíduo diabético apresenta maior risco de ter HTA, e o controlo de ambas as doenças contribui para a redução de risco cardio e cerebrovascular.
Apneia do sono: a obesidade é frequentemente um contribuinte para esta doença também, pelo que juntando os episódios de apneia durante a noite, o risco de HTA aumenta, bem como a dificuldade em controlar a doença, geralmente com necessidade de maior número de medicamentos.
Stress: o stress tende a aumentar de forma imediata a PA, e embora não seja uma causa específica de HTA, contribui para a dificuldade no controlo; a medição da PA em episódios agudos de stress leva a valores “falsamente” elevados, e às vezes basta o repouso adequado para que os valores se aproximem mais do ideal.
Doença renal crónica: a maioria das doenças renais contribuem para a HTA e a sua dificuldade de controlo.
Assim sendo, percebe-se que o estilo de vida saudável é uma forma de controlo eficaz da pressão arterial, evitando a sua evolução, e facilitador da ação dos medicamentos: manter um peso adequado, reduzir o sal e o consumo de álcool, não fumar, praticar exercício físico regular, são tudo medidas simples de implementar e contribuem de forma muito significativa para a redução de risco de eventos cardio e cerebrovasculares.
Por Vitória Cunha
Sociedade Portuguesa de Hipertensão