Exercício e fertilidade na mulher
O exercício será sempre regulador face ao equilíbrio hormonal? A resposta é não! Pode ser desregulador se for excessivo, se conduzir a magreza excessiva em mulheres. Em homens, este problema não se põe, pois exibem boa saúde reprodutiva com níveis de massa gorda extremamente baixos.
Em casos de mulheres extremamente magras, ou com anorexia, é muito importante reduzir a carga de treino ou mudar o tipo de treino (não é necessário deixar de treinar!), e ajustar a alimentação de modo a aumentar a massa gorda nas regiões mais femininas (as chamadas regiões estrogénicas) com vista à restauração do panorama hormonal e da função reprodutiva.
Devo alertar os/as leitores/as de que esta situação é bastante mais comum do que se possa imaginar, e muitas vezes encontra-se encoberta pela toma da pílula. Muitas mulheres com magreza excessiva, ao suspenderem a toma da pílula, verificam que deixaram de menstruar naturalmente, devido a baixos níveis hormonais. Ou seja, a pílula não é uma solução para ter um sistema reprodutor saudável, pois ela é anovulatória: cessa a produção de estradiol (estrogénios) e progesterona (produzida pelos corpos lúteos, após libertação do óvulo, libertação esta impedida pela pílula). Menstruar com pílula pode ser uma ilusão de que o sistema reprodutor se encontra em bom funcionamento!
Trago-vos hoje dados de um outro caso real (anónimo) acompanhado por mim, em que, por magreza excessiva, a função reprodutiva ficou comprometida. Esta jovem deixou de menstruar em 2015, após ter realizado uma perda de peso demasiado rápida, num curto espaço de tempo. Iniciámos o programa em outubro de 2016, com vista à otimização metabólica, neste caso focada na restauração da função reprodutiva, manipulando variáveis relacionadas com o seu estilo de vida. As variações de peso ao longo do programa não foram significativas.
Veja também: Fatores que afetam a fertilidade
Mais importante do que o peso e até do que a percentagem de massa gorda, é a localização da gordura corporal. Devo assinalar desde já que, para usufruir de uma boa saúde reprodutiva, é fundamental acumular alguma gordura nas regiões típicas femininas (prega tricipital e prega da coxa). Observe-se então o perfil das pregas, com especial atenção à prega da coxa:
Pregas adiposas subcutâneas (mm) | ||||||||||
Data | Abdomen | Cintura | Costas | Axila | Peito | Tricipete | Bicipete | Coxa | Soma | Massa Gorda % |
24/out | 8 | 10 | 11,5 | 5 | 5,5 | 14 | 4,5 | 11,5 | 65,5 | 14,66 |
15/dez | 6 | 9 | 10 | 5 | 5 | 13,5 | 3,5 | 13,5 | 62 | 14,05 |
21/fev | 7 | 10 | 9,5 | 5 | 4 | 14 | 4,5 | 14,5 | 64 | 14,4 |
03/abr | 7 | 8,5 | 10 | 5 | 5 | 15,5 | 4,5 | 13,5 | 64,5 | 14,48 |
18/mai | 6 | 7,5 | 9 | 5 | 5 | 15 | 4 | 15 | 62,5 | 14,14 |
O aumento de prega da coxa é bastante visível! Acompanhou-se todo o programa com análises bioquímicas, em que foi detetado aumento da produção de hormona feminina (estradiol) em paralelo com o aumento da prega da coxa. Repare-se na magnitude dos aumentos hormonais ao longo do programa:
Data | 17-beta-estradiol (pg/mL) |
21/09/2016 | 15 |
13/12/2016 | 20 |
25/03/2017 | 36 |
25/05/2017 | 42 |
Então, recomenda-se que, para garantir uma boa saúde reprodutiva em mulheres, se deve assegurar uma prega adiposa mínima na região da coxa. Esta prega, idealmente, deve ser superior a todas as outras.
Nota: A alimentação e o equilíbrio psíquico são fatores cruciais para o equilíbrio hormonal. A sinergia entre fisiologistas, nutricionistas, médicos e psicoterapeutas experientes pode ser a combinação perfeita para garantir resultados em casos como este.