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Estêvão Lima: «Praticamente todas as próstatas vão crescer, em princípio, por fatores genéticos»

A hiperplasia benigna da próstata afeta 70% dos homens com mais de 65 anos. Pode surgir até mais cedo e costuma ser motivo de preocupação e desconforto para os homens. Questionámos Estêvão Lima, diretor do Departamento de Urologia da CUF e do Serviço de Urologia do Hospital de Braga, sobre as dúvidas mais frequentes.

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Do que se trata exatamente esta condição que afeta 70% dos homens?

A hiperplasia benigna de próstata (HBP) é uma entidade clinica difícil de caracterizar porque praticamente todas as próstatas crescem com o envelhecimento e histologicamente têm hiperplasia do tecido prostático. Isto acontece porque, após a puberdade, os testículos começam a produzir testosterona que se vai transformar em dihidrotestosterona na próstata e esta hormona induz ao crescimento prostático. Assim, praticamente todas as próstatas vão crescer, umas mais do que outras, sendo esse crescimento determinado em princípio por fatores genéticos, já que até agora nunca foi demonstrado que os fatores ambientais tais como a alimentação, a atividade sexual ou outros tivessem influência no crescimento da próstata. Outro ponto muito importante na compreensão da HBP é que pode haver crescimento da próstata, isto é, hiperplasia benigna da próstata sem causar qualquer sintomatologia e, por isso, sem necessidade de qualquer tratamento.

 

A doença pode eventualmente surgir mais cedo? Quais os primeiros sintomas que devem levar o homem ao médico?

A HBP manifesta os primeiros sintomas quando a próstata aumentada começa a dificultar o fluxo da urina. No início, um homem pode ter dificuldades em começar a urinar, a sentir que o jato urinário é mais fino ou que não esvaziou completamente a bexiga no final da micção. Como a bexiga não se despeja por completo em cada micção, o homem pode ter que urinar com maior frequência, sobretudo à noite (noctúria). Assim, sempre que o doente comece a sentir alguma sintomatologia deve procurar um médico.

 

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Quais os tratamentos atuais existentes e quais os mais eficazes?

O tratamento da HBP tem dois pilares fundamentais: os medicamentos e a cirurgia. Ambos têm sofrido notáveis evoluções nos últimos anos. Em relação aos primeiros, existem atualmente quatro grupos de fármacos que podem ser utilizados no tratamento da HBP que são: i) os inibidores recetores alfa adrenérgicos que relaxam os músculos liso do colo vesical e da uretra prostática permitindo uma melhoria rápida do fluxo de urina; ii) inibidores da enzima 5 alfa redutase que transforma a testosterona em dihidrotestosterona que induz o crescimento da próstata. A administração destes fármacos com tempo pode reduzir o tamanho da próstata e assim melhorar os sintomas; iii) os inibidores dos recetores muscarínicos que são muitas vezes utilizados para diminuir os sintomas irritativos da bexiga, tais como o aumento da frequência miccional a imperiosidade que aparecem normalmente em fases mais avançadas da HBP; iv) os inibidores da fosfodiasterase tipo 5 que atuam tais como os inibidores adrenérgicos por relaxamento do musculo liso.

 

O tratamento cirúrgico apenas está indicado nas retenções urinárias refratárias ao tratamento médico, infeções urinárias de repetição por HBP, sangramento urinário por HBP refratário ao tratamento médico, pedra na bexiga por HBP, insuficiência renal por HBP e presença de divertículos vesicais ou muito mais esvaziamento vesical por HBP.

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