Estamos preparados para voltar ao escritório?
O teletrabalho não foi para todos, mas ainda foi para muitos dos trabalhadores portugueses. Volvidos agora cerca de 18 meses, muitos trabalhadores começam a vislumbrar a hipótese de voltar ao escritório. Mas estamos preparados?

Certo que não vamos regressar à mesma realidade. A realidade não é a mesma, nós não somos também as mesmas pessoas. No entanto, tal não significa que seja negativo.
Mas se ir para casa foi totalmente repentino, espera-se que o regresso seja completamente ponderado e refletido. Os colaboradores mantêm o desejo da flexibilidade, que poderá encontrar eco nos líderes e gestores portugueses. Os gestores percebem que poupam dinheiro, quer ao nível da dimensão do espaço que necessitam, quer na energia, ou consumíveis, os líderes focam-se nas necessidades dos colaboradores e apenas os querem ver motivados e alinhados.
A flexibilidade que trouxe a pandemia deverá então manter-se. O confinamento forçado pela Covid-19 mostrou que em muitos setores é possível ser igualmente produtivo em casa. Apesar da desconfiança inicial, os estudos demonstram que a produtividade chegou até a aumentar em teletrabalho, provavelmente porque a maioria se consegue concentrar melhor e perde menos tempo em deslocações.
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No entanto, revelou também o lado negro, fronteiras diluídas entre a vida pessoal e profissional, horas excessivas, dificuldades de comunicação e socialização. E o ser humano é um ser social…
Um regresso flexível
Inevitavelmente pouco a pouco terá de existir um regresso. E o escritório antes o local para trabalhar pode transformar-se no local para socializar. O local, para o acolhimento a novos colaboradores, para reforçar a cultura empresarial e trocar ideias.
As videochamadas tornam a comunicação mais cansativa, menos fluida, desprovida da certeza da leitura da reação emocional. Eliminam as conversas informais e podem comprometer a espontaneidade e a criatividade das ideias. Terão de existir momentos de equipa.
Parece assim que o modelo flexível será o mais adequado. No entanto, traz consigo múltiplos desafios a líderes e liderados. O maior, a avaliação de desempenho, que deve ser justa e não influenciada pela proximidade física do colaborador à sua chefia. Tolerância, Paciência e Foco nas pessoas serão as verdadeiras missões dos Líderes.
Terão de ter uma verdadeira capacidade de ouvir, praticar a empatia e responder às necessidades dos seus colaboradores. Não podem permitir o “corpo presente”.
O segredo desenvolver uma cultura com enfoque nas pessoas e no seu bem-estar. Cultura que privilegie a autonomia das pessoas para a tomada de decisão, centrada no feedback contínuo e que ajude as pessoas a aprender, reinventar-se e crescer.
Mas nem todas as empresas terão recursos financeiros para mudanças caras e ambiciosas. A tesouraria foi devastada pela pandemia pelo que bom senso e empatia serão palavras de ordem.
A ansiedade do regresso vai parar no ar. Líderes terão de estar muito atentos à saúde mental dos colaboradores. Os colaboradores podem manifestar inquietação de estarem em espaços fechados, dos barulhos, da interrupção constante dos colegas e a resposta do líder deve ser pronta e eficaz.
Os líderes precisam de estar cientes de que os efeitos emocionais do período de confinamento podem prolongar-se no tempo havendo a necessidade de desenvolver um programa de suporte, a diferentes níveis, para os colaboradores, evitando impactos pessoais e na produtividade da organização. A sua prioridade deve ser assegurar o equilíbrio emocional dos colaboradores, garantindo a sua saúde mental.
Não existem receitas, nem soluções mágicas para lidar com a ansiedade. Mas ajuda evitar entrar em processos de catastrofização. A ansiedade intensifica-se quanto mais nos envolvemos em preocupações ou catastrofizações.
Tolerar a incerteza será sem dúvida uma das melhores estratégias. Privilegiar mais comportamentos de resolução do problema ajuda também a encarar com otimismo a realidade. Não ter receio, ou vergonha de exprimir o que está a sentir vai permitir identificar e gerir adequadamente as emoções, impedindo a manifestação da ansiedade.
Em suma, estamos preparados para o regresso ao escritório? Sim estamos. Será um regresso a um mundo diferente, mas igualmente apaixonante e desafiante. O segredo está na forma como o vê.