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Envelhecimento normal ou patológico? Descubra os sinais de alerta

É natural que com o envelhecimento se manifestem alterações nas funções cognitivas das pessoas, o que não é natural é que essas alterações interfiram e condicionem a vida quotidiana das mesmas.

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Considero pertinente refletir sobre o que são, ou não, comportamentos normais associados ao processo natural de envelhecimento. Quando os cuidadores formais e informais desconhecem a distinção entre comportamentos naturais e comportamentos sinalizadores de um envelhecimento patológico, têm relacionamentos disruptivos e uma comunicação ineficaz com o adulto mais velho. Este facto leva a que os cuidadores, quando se veem perante uma recusa alimentar ou de higiene por parte do idoso, concluam que este está apenas a ser teimoso e a querer ir contra as suas regras.

 

É natural que com o envelhecimento se manifestem alterações nas funções cognitivas das pessoas, o que não é natural é que essas alterações interfiram e condicionem a vida quotidiana das mesmas. Quando essas alterações são condicionantes, estamos perante um envelhecimento patológico. Vou abordar algumas questões que auxiliam a clarificar se determinado comportamento é, ou não, um sinal de alerta para uma possível patologia.

 

VEJA TAMBÉM: COMO AJUDAR OS IDOSOS A MANTER A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DURANTE O ISOLAMENTO SOCIAL

 

Perda de memória/esquecimentos

Ter um pensamento mais lento na resolução de problemas, sentir que os níveis de atenção e concentração estão reduzidos e a recordação de algo ser mais difícil são alterações de memória consideradas naturais quando associadas ao envelhecimento. Porém quando estas transformações começam a interferir com o dia-a-dia da pessoa poderá ser o início de um sintoma de demência. O esquecimento de um acontecimento pontual é normal, no entanto, se a pessoa se esquecer de grande parte ou da totalidade de um acontecimento relevante, ou se não se lembrar de datas ou eventos importantes, já não é normal.

 

Se a pessoa perder um objeto de vez em quando, mas se se conseguir lembrar através do raciocínio lógico de onde foi a última vez que o viu, é um episódio normal. Por outro lado, se a pessoa se esquecer totalmente de onde o guardou e não conseguir fazer o caminho mental do seu desaparecimento, então poderá ser um sinal de alerta. Em relação ao esquecimento de palavras ou nomes, o mesmo é normal se a pessoa com esforço conseguir recuperá-los posteriormente. O que não é normal é a pessoa esquecer-se progressivamente de informação que anteriormente conhecia.

 

Autocuidado

Antes de se avaliar se um comportamento é normal ou não, deve-se perceber se esse comportamento é novo ou antigo. Por exemplo, se a pessoa durante a sua vida sempre tomou banho duas a três vezes por semana, é normal que se o cuidador a forçar a tomar banho todos os dias, ela rejeite essa mudança mesmo não tendo nenhuma perturbação neurológica. No entanto, se a pessoa perder o interesse ou se se esquecer da sua higiene pessoal diariamente, poderá ser um sinal de alerta.

 

O mesmo acontece com a mudança de roupa. Antigamente não se trocava frequentemente de roupa como se troca atualmente. Porém se a pessoa se tiver sujado ou se a roupa tiver um cheiro desagradável e intenso, e o idoso rejeite que a roupa seja trocada dizendo que está limpa e asseada, mesmo quando o cuidador lhe explica e mostra que o mais adequado é fazer a mudança, a pessoa está a ter um comportamento inapropriado ao contexto e, como tal, poderá ser um sintoma de demência.

 

Alimentação

Se a pessoa sempre teve prazer em se alimentar, sempre teve gosto pela comida e começa a perder o apetite gradualmente, deve-se despistar alguns fatores antes de considerar este comportamento como patológico. Por exemplo, deve-se tentar perceber se a prótese dentária habitualmente utilizada está mal colocada ou se se tornou desadequada, se existem doenças nas gengivas, se a pessoa tem a boca frequentemente seca ou se até tem dificuldade em mastigar ou em engolir.

 

Se se chegar à conclusão de que nenhum destes fatores está a promover a falta de apetite, deve-se ficar atento pois esta recusa alimentar poderá progressivamente ser um sintoma de demência. Por outro lado, se a pessoa sempre se alimentou em quantidades adequadas e gradualmente começa a ter um apetite exacerbado e uma necessidade constante em ingerir alimentos doces, pode também ser um sinal de alerta.

 

Alterações de humor e personalidade

É natural que qualquer pessoa se irrite facilmente em casa ou em lugares fora do seu ambiente familiar quando a sua rotina é alterada. Sentir-se triste ou mal-humorada devido a situações desagradáveis também é normal e adaptativo. No entanto, não é normal que a pessoa apresente alterações súbitas de humor, passando de um estado de serenidade para um estado de choro ou de angústia, sem razão aparente.

 

O estado de confusão, desconfiança, depressão e ansiedade desadequados ao contexto são sinais de alerta de que algo pode não estar bem com o idoso. A reação agressiva de uma pessoa pode tanto ser interpretada como um acontecimento normal, por ser dirigido a um contexto específico, ou por um comportamento desapropriado e sem motivo. Importa salientar que a agressividade pode ser uma resposta a um estímulo desagradável e não um sintoma de demência. Se o cuidador conseguir perceber a causa que levou a pessoa a tornar-se agressiva naquele momento, consegue mais facilmente controlá-la.

 

Termino esta reflexão com a ideia de que devemos questionar as reações que a pessoa de quem estamos a cuidar está a manifestar. Todas as reações têm uma causa que pode ser uma causa conhecida do cuidador ou pode ser um sinal de alerta para um envelhecimento patológico. É imprescindível reter que as atitudes e comportamentos que a pessoa idosa possa manifestar são consideradas normais se também as considerarmos normais, sendo manifestadas por um adulto.

 

Um idoso é um adulto mais velho e, como tal, as suas reações não são muito diferentes das que eles tinham enquanto adultos. Quando estas reações começam a ser mais particulares, poderá ser um possível sinal de patologia degenerativa.

 

Por Marta Torres

Psicóloga

 

 

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