Efeitos da menopausa, um problema de saúde pública
Esta fase é uma verdadeira síndrome de carência estrogénica que afeta todo o organismo da mulher. Conheça os seus efeitos e como os combater.

Os sintomas e as consequências da menopausa resultam da falência da produção de estradiol (o principal estrogénio) pelos ovários. Assim, a menopausa é uma verdadeira síndrome de carência estrogénica espelhando uma efetiva endocrinopatia, com efeitos em vários sistemas do organismo e constitui, como salientei no artigo anterior, um verdadeiro problema de saúde pública que envolve a ginecologia, mas também a área da medicina geral.
Os estrogénios têm ações importantes sobre vários órgãos e tecidos (coração e vasos, osso, sistema nervoso central, olhos, fígado, pele, mucosas e cartilagem) no sentido do retardamento do envelhecimento e degenerescência dos mesmos. Está hoje em dia claramente demonstrada a eficácia da terapêutica de reposição hormonal com estrogénios, na prevenção das consequências precoces e tardias da menopausa.
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A) Efeitos precoces
→ são os que aparecem nos primeiros 5 anos e se expressam, na grande maioria dos casos, pelos seguintes sintomas:
1) Alterações neurovegetativas: afrontamentos; palpitações; sudorese; cefaleias; vertigens; náuseas; insónias.
2) Alterações urogenitais: secura e ardor vaginal; dor/desconforto nas relações sexuais (dispareunia); incontinência urinária; dor /ardor ao urinar (disúria); urinar várias vezes e pouco de cada vez (polaquiúria).
3) Alterações psicológicas: diminuição da libido; labilidade emocional; irritabilidade; ansiedade, humor depressivo; diminuição da concentração e memória; astenia.
Os afrontamentos (“ondas de calor” ou “fogachos”) são o sintoma vasomotor mais comum na mulher menopáusica, sendo que 15% a 20% não apresentam estas queixas. A duração e a frequência das crises é variável e imprevisível, podendo-se acompanhar de suores frios, aumento da frequência cardíaca e do fluxo sanguíneo periférico e por vezes de vertigens e de perturbações do foro psíquico.
Têm mais relevância nos 2 a 3 primeiros anos após a menopausa e tendem acabar duma forma espontânea ao final de 5 anos. Podem ser bem tolerados, mas em alguns casos interferem com relevância na vida familiar, social e profissional da mulher. Estes sintomas vasomotores assim como as irregularidades menstruais e as perturbações do humor e do sono têm normalmente o seu início no período de transição para a menopausa.
As perturbações génito-urinárias estão relacionadas com a dependência que a mucosa da vagina, da uretra e da bexiga têm em relação ao efeito dos estrogénios. A diminuição dos níveis de estradiol no sangue da mulher leva à atrofia destas diferentes mucosas que conduzem ao aparecimento da secura vaginal, da dispareunia e maior tendência para infeções vaginais, que propiciam o desenvolvimento da síndrome uretral, da infeção e incontinência urinárias.
A ocorrência destas alterações é frequente e tem tendência para aumentar à medida que a mulher envelhece. O atrofiamento da mucosa urogenital associada à diminuição da libido leva a perturbações na vida sexual da mulher, perturbações na ansiedade e autoestima que podem interferir com gravidade no relacionamento conjugal.
B) Efeitos tardios
→ surgem geralmente após 5 anos de instalação da menopausa merecendo realce a osteoporose e a doença cardiovascular (isquémia coronária).
A doença cardiovascular é a mais importante causa de morte na mulher pós-menopáusica em todo o mundo. A incidência de enfarte do miocárdio apresenta um aumento significativo a partir dos 50 anos de idade, enquanto por outro lado as mulheres antes da menopausa estão protegidas desta ocorrência. Outro dado interessante é que para as mulheres da mesma idade as que se encontram na pós-menopausa têm mais hipercolesterolémia e doença cardiovascular do que as que estão na pré-menopausa.
Vários estudos comprovam que as mulheres que tiveram uma menopausa cirúrgica, e portanto abrupta, têm um aumento acentuado do risco de enfarte, assim como múltiplos trabalhos demonstraram a vantagem da terapêutica hormonal de substituição na melhoria da hipercolesterolémia e na prevenção da doença coronária.
A osteoporose é uma doença óssea generalizada a todo o esqueleto, que por si só não causa sintomas, caracterizada por uma densidade mineral óssea diminuída e alterações da microarquitectura e da resistência ósseas que provocam aumento da fragilidade óssea e, consequentemente, acréscimo do risco de fraturas. O deficit de estrogénios constitui a justificação principal da osteoporose na pós-menopausa, tendo esta maior incidência em mulheres com menopausa precoce e de baixo peso (produzem menos estrogénios).
Calcula-se que em Portugal, por ano, ocorram cerca de 7000 a 7500 fraturas osteoporóticas do colo do fémur, decorrendo daí um considerável consumo de recursos e uma apreciável morbilidade e mortalidade. Nas estatísticas de todos os países cerca de três quartos das fraturas osteoporóticas ocorrem em mulheres e em todos os tipos de fratura a sua incidência no sexo feminino agrava-se a partir da sexta década de vida.
A densidade mineral óssea aumenta de forma significativa durante a infância e adolescência para chegar, com a maturação esquelética, a um pico de massa óssea que permanece aproximadamente estável até perto dos 50 anos. Por volta desta idade o homem inicia uma perda de massa óssea de 0,5% a 1% ao ano, enquanto por outro lado a mulher nos primeiros anos após a menopausa pode perder 20% a 30 % da mesma.
É importante enfatizar que estas alterações podem ser prevenidas e revertidas pela terapêutica hormonal de substituição.