Dor, tensão muscular e má postura: como resolver?
O sedentarismo e a falta de movimento quena pandemia nos trouxe têm efeitos prejudiciais importantes, não só porque diminuem a massa muscular e levam ao descondicionamento físico, mas também porque aumentam o risco de tensão muscular e contraturas.
A pandemia e a consequente necessidade de confinamento trouxeram desafios para o corpo e para a mente. Verificou-se uma mudança drástica das rotinas diárias a nível pessoal, profissional e social. A atividade física diminuiu cerca de 50%, comparativamente ao período prévio à pandemia, de acordo com um estudo da Direção Geral da Saúde.
O sedentarismo e a falta de movimento têm efeitos prejudiciais importantes, não só porque diminuem a massa muscular e levam ao descondicionamento físico, mas também porque aumentam o risco de tensão muscular e contraturas.
Um dos problemas muito comum e que pode ser muito incapacitante é a síndrome de dor miofascial. Nesta síndrome, além da sensação de dor e tensão muscular (como na contratura muscular), existem bandas tensas e pontos gatilho nos músculos afetados (“nós”); a dor pode projetar-se para os braços, pernas ou cabeça e, dependendo do músculo envolvido, podem surgir outros sintomas como visão turva, dor na região do olho, ouvido, dentes ou cabeça, zumbido, tonturas, sensação de “peso”, “bloqueio”, “prisão”, etc.
Quando não tratada adequada e atempadamente, a tensão muscular pode originar dor incapacitante e diminuição da mobilidade da coluna, dos braços e das pernas, as quais podem limitar a capacidade de realizar atividades do dia-a-dia.
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No contexto pandémico, importa também referir o impacto significativo do stress e tensão emocional pois contribuem para o agravamento da tensão muscular e, consequentemente, das contraturas musculares. Por esse motivo, e de acordo com a minha experiência clínica, tem vindo a aumentar o número de pessoas que recorrem a consultas de Medicina Física e de Reabilitação / Fisiatria de Intervenção por apresentarem dor causada por contraturas musculares ou síndrome de dor miofascial.
O teletrabalho parece aumentar o risco de desenvolver dor, tensão muscular e problemas posturais. Trabalhar no domicílio pode trazer vantagens, mas também desafios acrescidos, nomeadamente dificuldades em manter uma postura adequada (por exemplo, por falta de recursos físicos como cadeira e secretária mais ergonómicas), dificuldades de concentração (sobretudo para quem adicionalmente necessita de dar apoio aos filhos), com consequente diminuição da produtividade e aumento do número de horas a trabalhar na posição sentada, mantendo posturas sustentadas, muitas vezes pouco adequadas, durante várias horas.
Quando surge dor e tensão muscular, o que devo fazer?
É fundamental procurar ajuda médica, idealmente um médico especialista em Medicina Física e de Reabilitação, para definir o diagnóstico e a estratégia terapêutica mais adequada. O tratamento pode envolver várias modalidades como medidas educativas (incluindo mudanças de hábitos menos saudáveis ou correção de fatores que agravam a tensão muscular), reeducação postural, diferentes modalidades de fisioterapia, medicação, entre outras intervenções médicas como a prescrição de um programa de exercícios individualizado e intervenções miofasciais.
Quando se trata de síndrome de dor miofascial, as intervenções miofasciais têm um papel preponderante no tratamento pois modalidades mais convencionais de Fisioterapia podem não ser suficientes para resolver a tensão muscular, sobretudo quando existem bandas tensas e pontos gatilho (os “nós” que mantêm a tensão muscular). Relativamente às intervenções miofasciais – realizadas em consulta de Fisiatria de Intervenção – estas podem incluir, por exemplo, a desativação dos pontos gatilho utilizando uma agulha (podendo adicionar-se diferentes fármacos para potenciar o efeito de relaxamento), intervenções ecoguiadas para “libertar” a tensão, um programa de exercícios específicos, entre outras estratégias.
Para além de não adiar a procura de tratamento médico, deve evitar o sedentarismo, incutir na rotina um programa de exercício físico, ter cuidados com a postura, não permanecer na mesma posição durante muito tempo (fazer várias pausas durante o trabalho ou estudo) e procurar relaxar o corpo e a mente.
Por Ana Zão
Médica especialista em Medicina Física e de Reabilitação, responsável pela Consulta de Fisiatria de Intervenção no Instituto CUF Porto
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