Cuidados de saúde: humanização no atendimento
Nenhuma tecnologia substitui a sensibilidade, o contato e o cuidado humano para com os utentes e os seus familiares. A prática diária da humanização no atendimento na área da saúde torna o processo mais qualificado, pois respeita a individualidade de cada ser e resolve o problema do utente com mais positividade.
Hoje em dia, diz-se que se pratica um atendimento humanizado na saúde. Infelizmente, isto não é verdade. Surge então a necessidade de se falar de humanização no atendimento na saúde quando se constata que a evolução ciência e técnica não tem sido acompanhada por um avanço correspondente na qualidade do contato humano.
As condições de trabalho, os baixos salários e a dificuldade na conciliação da vida familiar e profissional resultam numa sobrecarga de atividades e num cansaço constante, que gera um ambiente desfavorável ao desenvolvimento de um atendimento humanizado. Acrescentando ainda a tudo isto a falta de um ambiente adequado: de recursos humanos, materiais quantitativos e qualitativos insuficientes, e de remunerações dignas e motivações para o trabalho.
Considerando que mudar uma cultura é algo bastante complexo, para implementar uma melhoria no atendimento humanizado é necessário iniciar a discussão dessa temática logo durante a formação dos profissionais de saúde, de forma a prepará-los para um desempenho marcado de valores que realcem aspetos essenciais ao ser humano, demonstrando por meio das próprias atitudes que devemos tratar o próximo com igualdade, como um ser humano que possui direitos, história e expectativa. Isto é realmente humanizar.
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Verificam-se constantes evoluções tecnológicas na área da saúde, uma explosão de conhecimento, alcançados pelo desenvolvimento dos meios de comunicação, em particular da internet, e um enorme avanço da tecnologia, na prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. Atualmente, atingimos níveis extremamente elevados de sofisticação na farmacologia, na tecnologia e nos procedimentos médicos. Parecendo que, de certa forma estamos no melhor dos momentos para o serviço nacional de saúde. As promessas e a esperança da engenheira genética surgem no horizonte e o conhecimento médico aumenta a cada dia. Literalmente, aproximamo-nos da condição de ter sucesso na resolução de centenas de problemas, diante dos quais éramos impotentes há alguns anos.
Nenhuma tecnologia substitui a sensibilidade, o contato e o cuidado humano para com os utentes e os seus familiares.
Profissionais sobrecarregados
Entretanto, é necessário escutar o grito de alerta, para a preservação de uma espécie em extinção: “A figura do profissional de saúde, no seu sentido mais humano”. Aquele profissional cuja imagem respeitável, amigo e confortável vem-se fragmentando nos últimos tempos. Tudo isto porque o distanciamento e a frieza entre o profissional e o utente provém em grande parte do nosso atual sistema de saúde, no qual não há sequer tempo para escutar o utente, agravando isto as desfavoráveis condições oferecidas aos profissionais para a prática humanitária da sua profissão, e o aumento diário dos espaços críticos na comunicação social sobre a precariedade do atendimento na saúde.
Equipas de profissionais sobrecarregadas, desmotivadas e stressadas, dando muito mais do que podem, para tentar salvar vidas, submetem-se a períodos de trabalhos insanos, e com isso comprometendo a qualidade do seu trabalho. Enfim, um quadro triste e caótico. O problema é que quanto mais se tecniciza o sector da saúde, quanto mais máquinas se entrepõem entre o profissional e o utente, maior é a necessidade de se humanizar essa relação.
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Humanização é uma expressão de difícil conceptualização. Oliveira (2006) considera que esta se caracteriza em colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de forma sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios.
A prática diária da humanização no atendimento na área da saúde torna o processo mais qualificado, pois respeita a individualidade de cada ser e resolve o problema do utente com mais positividade. Mais do que tratar uma patologia, a humanização do atendimento praticado pelos profissionais proporciona a visão holística do utente, ou seja, um ser bio-psico-socio-espiritual, fundamentado no conceito de integralidade do ser.
Através do respeito, da compreensão e da escuta das necessidades e das particularidades do utente, todos têm a ganhar. Alem disso, boas práticas de atendimento, que envolve o ambiente físico e a comunicação entre os profissionais e o utente, como também com os seus familiares, cria uma relação de confiança entre ambas as partes.
Para que os profissionais de saúde possam exercer a profissão com honra, dignidade e respeito pelo utente e a sua condição humana é necessário respeitar também o próprio profissional, oferecendo-lhe adequadas condições de trabalho, uma remuneração justa e o reconhecimento das suas atividades e iniciativas. É necessário que se entenda, também, que quando se fala em profissionais de saúde, referimo-nos a uma equipa multidisciplinar que envolve médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes operacionais, maqueiros, seguranças, etc.
A humanização no atendimento é um processo amplo, demorado e complexo, ao qual se oferecem resistências, pois envolve mudanças de comportamento, que despertam insegurança. Mas não podemos deixar que isso atrapalhe a execução desse processo, os benefícios tanto para o utente como para os profissionais são muito maiores do que qualquer dificuldade.
Por Elsa Fernandes
Enfermeira