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Convento dos Capuchos: a espiritualidade integrada na natureza

Este não é um convento vulgar. Descobre-se por entre as frondosas folhagens da serra de Sintra, numa criação em harmonia com a natureza. O que parece uma rocha é uma casa, o que parece um riacho é uma fonte de água. O local aparenta ter saído de um conto mágico. Não saiu, mas o certo é que aqui se cruzam as dimensões humana, natural e espiritual.

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O Convento dos Capuchos, ou Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra, foi mandado erigir por D. Álvaro de Castro, conselheiro de Estado do rei D. Sebastião, em 1560.

 

Diz a lenda que, durante uma caçada na serra de Sintra e quando perseguia um veado, o 4º vice-rei da Índia, D. João de Castro, se terá perdido e vindo a adormecer de cansaço debaixo de um penedo. Em sonho, ter-lhe-á sido revelada a necessidade de erguer um templo cristão naquele local. Porém, como faleceu em 1548 e não teve oportunidade de cumprir essa promessa, terá sido o seu filho, D. Álvaro de Castro, a levá-la a cabo. O convento foi entregue então a frades arrábidos franciscanos.

 

A busca do aperfeiçoamento espiritual através do afastamento do mundo e da renúncia aos prazeres associados à vida terrena materializa os ideais da Ordem de S. Francisco de Assis, caracterizando assim este lugar de forma singela. O convento foi edificado no respeito pela harmonia entre a construção humana e os elementos naturais pré-existentes, ou seja, a construção divina.

 

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De dimensões reduzidas e de extrema pobreza na sua construção, o Convento dos Capuchos é também conhecido como “Convento da Cortiça”, dado o uso extensivo da cortiça na proteção e decoração dos seus pequenos e rústicos espaços. A sua arquitetura e decoração são indissociáveis da vegetação envolvente, numa integração total com a natureza, ao ponto de incorporar na própria construção do edifício enormes pedras de granito.

 

A comunidade de frades na altura seria composta por oito homens, sendo o mais conhecido o Frei Honório que, de acordo com a lenda, viveu até perto dos 100 anos de idade, apesar de ter passado as últimas três décadas da sua vida a cumprir penitência numa pequena gruta dentro da cerca do convento.

 

Atualmente, o convento pode ser visitado, sendo vários os seus pontos de interesse. A chamada Porta da Morte é a porta do canto esquerdo do alpendre, encimada por uma caveira sobre dois ossos cruzados. Representa a morte simbólica para a vida que se deixa para trás e o renascimento para uma vida nova no interior do convento.

 

Passamos também pela Capela da Paixão de Cristo, datada do século XVIII, que contém no seu interior azulejos azuis e brancos da época com representações alusivas à Paixão de Cristo. Mesmo em frente a esta capela está a igreja. É aqui que se encontra o único objeto de luxo do convento: o altar em mármore com pedras de várias cores embutidas, que foi oferecido pela família Castro, patrona do convento.

 

Depois da sala da igreja e da sala do coro, entra-se na zona mais íntima do convento, a que servia de dormitório. O corredor das celas, área reservada à meditação e à reflexão, era restrita aos oito frades residentes, não sendo sequer permitido o acesso ao noviço, cuja cela se localizava numa zona diferente do convento, esclarece a Parques de Sintra Monte da Lua, entidade que detém a gestão do espaço.

 

Dois dos espaços que mais suscitam curiosidade aos visitantes são a cozinha e o refeitório. A água de lavagem dos utensílios e recipientes usados na cozinha era aproveitada na rega das hortas, para onde era encaminhada através de perfurações no pavimento por baixo do lava-loiça. Já o refeitório, sabe-se que originalmente nem tinha uma mesa. A laje de pedra que lá se encontra foi oferecida posteriormente pelo Cardeal-Rei D. Henrique que, sabendo que os frades não aceitariam o conforto proporcionado por uma mesa e cadeiras, mandou cortar esta laje em granito para servir de mesa de refeições. Mas há muito mais a descobrir neste singelo convento.

 

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Como já dissemos, o convento foi construído em contacto direto com a natureza e de acordo com uma filosofia de extremo despojamento arquitetónico e decorativo. Assim, a própria mata que rodeia o edifício foi, durante séculos, acarinhada e mantida pelos religiosos, tendo sobrevivido à gradual desflorestação da serra de Sintra. Constitui, assim, um exemplo notável da floresta primitiva da zona.

 

Com a extinção das ordens religiosas masculinas no país (1834), a comunidade de franciscanos foi expropriada e viu-se obrigada a abandonar o convento. Posteriormente, ainda no século XIX, o espaço foi adquirido por Francis Cook, 1.º visconde de Monserrate.

 

Em 1949 o imóvel foi adquirido pelo Estado Português, tendo chegado ao final do século XX em precário estado de conservação. A partir de 2000 passou à responsabilidade da empresa Parques de Sintra Monte da Lua, que tem vindo a recuperar o Convento dos Capuchos.  O local integra-se na Paisagem Cultural de Sintra, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade desde 1995.

 

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