Como gerir a ansiedade infantil?
A ansiedade nas crianças e adolescentes é um problema cada vez mais comum. Com ajuda especializada é possível aprender a resolver este problema de uma forma eficaz e não se deixar dominar pelos medos!

Portugal é um dos países da Europa com os índices mais elevados de doença mental (23%), sendo a mais comum a ansiedade (16.5%). A ansiedade é um dos problemas de saúde mental mais comum, afetando crianças e adolescentes, e pode resultar no funcionamento posterior debilitante se não for tratada.
A infância e adolescência são as fases centrais de risco para o desenvolvimento de sintomas e síndromes de ansiedade, que podem variar de sintomas leves e temporários a perturbações de ansiedade graves. Durante a infância, a ansiedade surge como uma experiência transitória e adaptativa que permite a adaptação a situações novas, inesperadas ou consideradas perigosas.
O medo é uma emoção básica que tem uma função adaptativa ao longo do desenvolvimento da espécie humana. Essa função é a de nos proteger de eventuais perigos com respostas do ponto de vista psicológico e biológico, para enfrentar determinadas situações, pessoas ou objetos. É uma resposta natural a um estímulo físico ou imaginado que pode estar a colocar o bem-estar ou a segurança da criança em perigo.
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Os medos funcionam como tarefas de desenvolvimento, tendo estes como objetivo colocar a criança diante de uma situação específica a ser ultrapassada no sentido de promover a autonomia e desenvolvimento emocional. Sendo assim é importante que a criança enfrente os seus medos.
Os medos de desenvolvimento mais comuns dos 2 aos 6 anos, transversais a várias culturas e civilizações são:
Medo do escuro; animais em geral; de ficar sozinho; de seres imaginários (monstros, fantasmas); pessoas mascaradas (carnaval, pai natal); perda/separação prolongada dos pais; dos “maus”, ladrões.
Os medos de desenvolvimento mais comuns dos 6 anos aos 11 anos são:
Medo de acontecimentos sobrenaturais; de feridas; do sofrimento físico; da morte; de aspetos escolares. O pico de incidência ocorre aos 11 anos, decrescendo a partir dessa idade.
O medo pode evoluir para uma situação generalizada, recorrente ou especialmente assustadora, que comprometa o desempenho da criança. Podemos dizer que as crianças com ansiedade possuem preocupações ou medos exagerados com a saúde ou desempenho em testes, agressão física, problemas com os pares, hipersensibilidade aos sinais de perigo, comportamentos de evitamento, entre outros.
Os sintomas que causam ansiedade têm consequências negativas para a criança, pois prejudicam a sua autonomia e autoestima, o seu desempenho escolar, as suas interações sociais, aumentando o isolamento social, que por sua vez aumenta a probabilidade destas crianças serem excluídas. Salientam-se que níveis de ansiedade elevados em testes e outras atividades escolares resultam na diminuição do rendimento académico e até numa recusa em ir à escola.
É importante que a criança aprenda a não se deixar dominar pelos medos, de forma a criar oportunidades para que desenvolva as competências necessárias para enfrentar e dominar as situações temidas e, assim, perceber como as suas emoções são ativadas e como deve agir emocionalmente.
Como ajudar os filhos
A melhor maneira de os pais ajudarem os filhos a lidar eficazmente com o medo é motivá-los a enfrentarem as situações que o desencadeiam. A promoção da autonomia e o ensino da resolução de problemas, que passa pelo confronto com essas situações, são também estratégias importantes para que os medos não assumam dimensões patológicas.
O acompanhamento por parte de um profissional especializado, seja psicólogo ou pedopsiquiatra, vai ajudar na resolução dos problemas de uma forma eficaz. Toda a intervenção vai ser baseada na capacidade para controlar os seus níveis de preocupação. Como sabemos que os pensamentos e as emoções se influenciam mutuamente, ao ser capaz de controlar os seus pensamentos de preocupação, irá sentir-se genericamente menos ansioso.
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Para uma intervenção psicológica eficaz é necessária a colaboração dos pais e professores, pois têm um papel importante na gestão da ansiedade, funcionando como modelos de comportamento para a criança.
Deve-se desencorajar comportamentos de fuga ou de evitamento – é crucial que a criança passe por experiências que lhe mostrem que o que ela sente como ameaçador, afinal, não o é. Encarar a ansiedade como qualquer outra emoção que faz parte do crescimento poderá ajudar a alcançar essa serenidade. Torna-se muito importante premiar as tentativas de resolução – a recompensa é muito mais eficaz do que o castigo.
As terapias de terceira geração, como o mindfulness poder-se-ão revelar úteis nas perturbações de ansiedade. Seja qual for o melhor plano de intervenção, quanto mais precocemente se intervir, maior será a probabilidade de sucesso.
Por Filipa Fonseca e Sandra Costa
Especialistas em Psicologia Clínica no Hospital CUF Viseu