É importante comer três refeições em intervalos regulares, o que reduz ainda mais o Pitta e ajuda a acalmar a sua digestão e apetite ardentes. É também fundamental alimentar-se num ambiente pacífico degustando os alimentos com tempo e tranquilidade, e evitando a voracidade e impaciência alimentar do Pitta.

Um jejum ocasional de água e fluidos com propriedades doces pode ser benéfico se o Pitta estiver agravado. A água de coco, a sopa de moong dal, ou o jejum de frutas e legumes crus seriam boas escolhas. Contudo, o Pitta deve evitar o jejum por períodos prolongados.

Recomendações de refeição para Pitta

Se o Pitta estiver elevado, o pequeno almoço é fundamental. Os hidratos de carbono fornecem uma libertação sustentada de açúcar no sangue. Cevada, aveia e trigo integral são boas escolhas. O uso de grãos e laticínios, com amêndoas e passas são boas opções. Se existe pouco apetite, um prato de frutas doces é uma boa escolha.

Almoço

Idealmente, o almoço é a principal refeição do dia. O Jathargni – o fogo digestivo – está no seu auge de força, quantidade e riqueza, ficando ainda mais enfatizado numa pessoa com a dominante Pitta. Os Pitta caracterizam-se pelo seu bom apetite, voracidade, e uma certa irritabilidade, que aflora quando é hora de comer, e a comida tarda. Esta é também a melhor hora para se ingerirem proteínas, já que são compostas de longas cadeias moleculares, exigindo do organismo um fogo mais aceso para desmantelar essas estruturas complexas.

Para o almoço são assim apropriados uma grande variedade de grãos, como a cevada, a quinoa, o trigo e o arroz, que podem ser usados de várias formas. Feijões e legumes também fazem uma contribuição importante num almoço Pitta, e podem ser complementados com carnes e peixes adequados. As saladas são dos melhores alimentos para o Pitta, especialmente no verão, e podem ser ingeridas livremente como acompanhamentos. No entanto, as especiarias picantes devem ser evitadas ou usadas em quantidades muito pequenas.

Jantar

O jantar é idealmente uma versão menor e mais leve do almoço. Precisa, no entanto, de sustentar o metabolismo ativo do Pitta. Idealmente esta refeição deverá ser tomada ainda antes do por-do-sol, de modo a que digestão seja realizada com o fogo digestivo ainda ativo.

Uma refeição simples e nutritiva, como um kitchari, massa, ou uma porção menor do almoço pode ser ajustado. Sopas e vegetais cozidos podem ser ingeridos como entradas para satisfazer o fogo digestivo do Pitta, e também para reduzir a ingestão de calorias.

Relaxar e reduzir o stress

Nos dias de hoje surgem cada vez mais estudos que demonstram que o stress gerado por um estilo de vida desequilibrado é a principal causa de várias desordens, inclusive a inflamação. O stress pode também aumentar o calor interno agravando o Pitta, sendo por isso sugeridas várias estratégias para moderar o impacto do mesmo no corpo:

– Usar um bom óleo de coco e/ou óleo de girassol para massajar o corpo. Evitar a massagem num estágio agudo de inflamação;

– Yoga restaurativo;

– Exercício leve, como uma caminhada pela natureza ou junto ao mar;

– Meditação e Pranayama (sugere-se a respiração Shitali). Respirar fundo várias vezes por dia;

– Reduzir a carga de trabalho e priorizar as obrigações para com o autocuidado;

– Reservar tempo para relaxar a mente e o corpo todos os dias (mesmo que seja apenas por alguns minutos);

– Evitar conflitos rodeando-se de pessoas positivas e de companhia agradável;

– Acalmar e manter a atividade baixa durante a menstruação;

– Tomar um banho de imersão em água de rosas, lótus e sândalo branco.

Algumas plantas para a inflamação

O açafrão da índia (curcuma) e o gengibre: Estas ervas reduzem a dor nas articulações, dor muscular, gastrite ou cistite. Como todas as ervas adstringentes, a curcuma é um poderoso antioxidante que age como anticancerígeno, antimicrobiano, anti-inflamatório e protetor do fígado.  Esfria a inflamação apertando e fortalecendo os tecidos, reduzindo o inchaço e o congestionamento.

O gengibre é uma erva pungente, que auxilia a digestão e, portanto, teoricamente deveria agravar as condições do Pitta. No entanto, possui constituintes que são refrescantes e calmantes para os tecidos irritados sendo usado tradicionalmente como um anti-inflamatório, em desordens como dores de estômago, enxaquecas, TPM e dor nas articulações.

O Brahmi e a Ashwagandha: A inflamação geralmente começa na mente, e o Pitta tem tendência a ser workaholic. Quando criamos um ambiente mental orientado para os objetivos e trabalho excessivo, e começamos a ignorar a necessidade do corpo por comida saudável, descanso, exercícios e uma prática regular de yoga, geramos um  super aquecimento.

O Brahmi e a Ashwagandha são ervas que podem ajudar neste caso, já que acalmam a mente sem sedá-la, deixando-a clara, enraizada e inspirada. A ashwagandha é uma planta rejuvenescedora com maravilhosas propriedades adaptogénicas, constituindo um tónico que mantém o corpo forte contrariando o esgotamento excessivo, reconstrói o corpo e a mente, e alivia condições como o reumatismo, o emagrecimento, a fraqueza, a artrite, a dor nos nervos e a infertilidade.

A Boswellia tem sido recomendada para todos os tipos de artrite, dor aguda nas costas, doença inflamatória intestinal e colite ulcerosa.

A ingestão regular de leite dourado pode ser uma refrescante forma de manter o corpo saudável, e a coluna e as articulações lubrificadas:

– 1/8 colher de chá de açafrão da índia

– ½ chávena de água

– 1 chávena de leite ou leite de amêndoa

– 1-2 colheres de sopa de óleo de amêndoa (opcional)

– mel (a gosto)

– noz moscada (opcional)

Ferver a água e o açafrão numa panela pequena em fogo médio-alto por 8 minutos (a curcuma deve ficar totalmente cozida). Enquanto isso, levar o leite e o óleo de amêndoas ao ponto de ebulição numa panela separada e retirar do fogo. Combinar as duas misturas e adicionar o mel a gosto depois de esfriar. Adicionar um pouquinho de noz-moscada (opcionalmente), sobretudo se for uma bebida para a noite.

A utilização das plantas para a inflamação deve ser supervisionada por um médico ou terapeuta ayurvédico.

Michele Pó

Terapeuta de Ayurveda. Lecionou Medicina Ayurvédica no Instituto de Medicina Tradicional e Svasthvrtta e Dietética e Nutrição Ayurvédica no IPTO – Associação de Práticas e Terapêuticas Orientais.

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