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Ayurveda no equilíbrio do homem: um caminho para o sagrado masculino

A energia masculina tende a ser emocionalmente interiorizada e contida, o que por consequência torna mais desafiante o acesso às emoções feridas, aos traumas, à sombra inconsciente.

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A abertura do caminho do sagrado masculino desponta ainda na infância, quando o menino começa a ser confrontado com os desafios da vida e o vocabulário emocional dos seus pais. À medida que progride na infância, os seus pensamentos e sentimentos moldam-se e são influenciados pelo ambiente à sua volta, numa procura constante de ajustar-se, pertencer, corresponder e compreender o mundo externo. Nascendo com certas predisposições, tendências e ideias que são cultivadas de uma forma ou de outra, à medida que passa pelas diferentes fases da vida, existem circunstâncias que inibem ou apoiam o crescimento emocional do menino, e que tanto nutrem a concha emocional blindada gerada na infância – e que se pode manter e intensificar durante a vida adulta, tornando-o mais duro consigo próprio -, como também podem alimentar a coragem de enfrentar o medo e as inseguranças internas, revelar a sua força interior e fazer despontar nele um homem adulto sereno, seguro e integrado.

 

A energia masculina tende a ser emocionalmente interiorizada e contida, o que por consequência torna mais desafiante o acesso às emoções feridas, aos traumas, à sombra inconsciente. A gestão dos conflitos internos emocionais, e o trabalho com as emoções é o que permite a pacificação da sombra desestabilizadora da autossegurança, autoproteção e autoconfiança internas, e o emergir do homem equilibrado.

 

Um dos conflitos básicos começa com a ideia de separação em relação ao Mundo, e a separação do masculino e do feminino é um dos níveis onde pode também ocorrer uma ferida.  Quando o eu masculino permite a integração da sua energia feminina, da sua intuição e das suas emoções, o caminho para a cura de feridas emocionais, e para o equilíbrio interno fica aberto.

 

As emoções são por natureza mais femininas, e é também por isso que os homens tendem a oprimi-las e resistirem em lidar com elas.  A energia masculina é naturalmente mais mental, contudo, para equilibrar-se precisa de ouvir e agregar os apelos do coração. Um homem integrado é aquele que abraça, trabalha e aceita a sua vulnerabilidade, e desta forma alcança a consonância entre o seu coração, a sua mente, o seu corpo, amadurece a sua criança interior e alcança a harmonia funcional entre todas as suas partes.

 

Equilibrar as partes | masculino e feminino em harmonia

Intuição e intelecto, feminino e masculino, lua e sol, noite e dia. Em todo o Universo, pares de qualidades opostas – gurvadi gunas – combinam-se numa dança dinâmica. A Ayurveda reconhece o valor dessa interação de opostos no meio ambiente e no nosso ser. Na verdade, a ideia de que o oposto traz equilíbrio é um princípio central dos tratamentos ayurvédicos. Pode-se aplicar esse conceito à alimentação, às atividades quotidianas e, sobretudo, à forma como se administra a energia interna, ou melhor, o prana.

 

O prana é geralmente descrito como a força vital, contudo tem muitas outras manifestações diferentes. O Prana é o elemento mais subtil do Universo, e dele nascem todos os outros elementos – éter, ar, fogo, água e terra. Esses elementos constituem tanto o corpo como o Universo, portanto, pode-se dizer que o prana é a causa subjacente de tudo o que é experimentado. Ele cria e sustenta a vida, e quando se retira, o resultado é decadência e a morte.

 

A Ayurveda e o Yoga são essencialmente formas de medicina prânica. O objetivo destas práticas é estimular o fluxo interno do prana para que ocorra uma cura profunda e duradoura. Quando ocorre um fluxo ótimo de prana os aspectos opostos do Ser equilibram-se, particularmente as energias divinas femininas e masculinas.

 

Essas energias estão presentes dentro de cada um de nós, independentemente do nosso género. A energia feminina ilumina o mundo interior e inclui qualidades como intuição, compaixão e bondade. Esse aspecto está relacionado com o Kapha – os elementos esfriantes da água e da terra -, com o lado direito do cérebro e o lado esquerdo do corpo. A energia masculina é orientada para o mundo exterior, é o fogo do intelecto em ação, o desejo de agir. O lado masculino está ligado ao Pitta, ao lado direito do corpo e ao lado esquerdo do cérebro.

 

Quando todos os aspetos do Ser são valorizados e integrados a maturidade, a sabedoria e a paz interior são consequências, e aprende-se a viver a partir de um lugar de equilíbrio e moderação, onde a saúde, a eficiência interior e a eficácia exterior impera.

 

Contudo, o homem tende a oprimir a expressão da sua energia feminina, e as emoções estagnadas e sem resolução afetam os tecidos corporais que cristalizam e ficam a carecer de circulação, oxigenação, fluxo sanguíneo, desenvolvendo-se resistência ao fluir natural do prana, o que gera desequilíbrios e doenças. No estado de resistência, a vitalidade é inibida, o que significa que tamas – a energia da inércia e da escuridão – começa a instalar-se, e partes do corpo  efetivamente desligam-se e começam a retirar-se da vida, criando bloqueios. As consequências para o bem-estar são significativas – como o desequilíbrio dos doshas, o agni enfraquecido e uma desconexão entre a mente e o corpo. Estes sintomas são a consequência de um afastamento da sua Essência, de um desligar-se de uma parte importante de si, o que, por sua vez, leva a mais desequilíbrio.

 

Hoje em dia, a energia masculina e as suas qualidades naturais, como assertividade e ação, são muito valorizadas. Essa tendência desequilibrou na verdade o caminho para o sagrado masculino, já que a jornada interna se faz também através de práticas sáttvicas internas femininas, como o pranayama e a meditação. Essas práticas para além de aumentarem a paz de espírito, expandem a visão interna da Essência, e daquilo que a vida propõe no trilho encantado da Existência.

 

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