Ansiedade na era digital: como as redes sociais estão a moldar a nossa mente
A psicologia comportamental explica que as redes sociais funcionam como um sistema de recompensa intermitente.

Nos últimos anos, temos assistido a um aumento expressivo dos níveis de ansiedade na população. O mundo mudou radicalmente com a evolução das tecnologias e, especialmente, com o crescimento das redes sociais. O que antes era um espaço de conexão e partilha tornou-se, para muitos, um fator de pressão e sofrimento emocional. Mas porquê? Como é que as redes sociais estão a moldar a nossa mente? E, acima de tudo, como podemos equilibrar a nossa relação com este mundo digital para preservar a nossa saúde mental?
O fenómeno da comparação constante
As redes sociais são um reflexo filtrado da realidade. O que vê num feed de Instagram ou num TikTok viral não é a vida real, mas sim uma versão editada e aprimorada dela. Este fenômeno leva muitas pessoas a compararem-se constantemente com padrões irreais. Estudos indicam que a comparação social está diretamente ligada ao aumento da ansiedade, baixa autoestima e sintomas depressivos.
Quando nos medimos pelos padrões irreais que vemos online, sentimos que nunca somos suficientemente bons, belos, bem-sucedidos ou felizes. Esta perceção pode ser devastadora para a saúde mental, levando a sentimentos de frustração e insegurança constantes.
O ciclo da recompensa e o vício das redes
A psicologia comportamental explica que as redes sociais funcionam como um sistema de recompensa intermitente. Sempre que recebemos um “gosto”, um comentário ou uma nova seguidora, o nosso cérebro liberta dopamina, o neurotransmissor do prazer.
Este mecanismo torna-se viciante, fazendo com que voltemos incessantemente ao telemóvel à procura do próximo “reforço positivo”. O problema é que, tal como acontece com outros tipos de dependência, este ciclo pode afetar a capacidade de concentração, aumentar a ansiedade e prejudicar a autoestima. A cada notificação que não corresponde à nossa expectativa, sentimos uma pequena frustração, acumulando pequenas doses de ansiedade ao longo do dia.
O medo de ficar de fora (FOMO)
Outro aspeto que contribui para a ansiedade é o Fear of Missing Out (FOMO) – o medo de estar a perder algo importante. A constante exposição ao que os outros estão a fazer pode levar a um sentimento de exclusão, mesmo que a nossa vida seja perfeitamente normal e satisfatória.
Este fenômeno está particularmente presente entre os jovens, que sentem a pressão de estarem sempre atualizados e envolvidos nas tendências. A necessidade de acompanhar tudo pode gerar um estado de alerta contínuo, impedindo um verdadeiro descanso mental.
O impacto na autoimagem e identidade
A forma como nos vemos e nos definimos também é afetada pelo mundo digital. Um estudo recente mostrou que o uso excessivo de filtros e editores de imagem pode distorcer a perceção que as pessoas têm de si mesmas. Isto leva a um aumento dos distúrbios de imagem corporal, em especial entre adolescentes e jovens adultos.
Para além disso, a construção de uma identidade baseada em “likes” e aprovação externa pode afastar-nos da nossa verdadeira essência. Começamos a partilhar aquilo que acreditamos que será melhor recebido e não o que realmente sentimos ou queremos expressar.
Estratégias para um uso saudável das redes sociais
Felizmente, é possível reduzir os impactos negativos das redes sociais e utilizá-las de forma mais consciente e equilibrada. Aqui estão algumas estratégias essenciais:
- Praticar o uso consciente – Antes de abrir uma aplicação, pergunte-se “O que estou a procurar aqui?”. Se for apenas um hábito automático, tente redirecionar a sua atenção para outra atividade mais produtiva.
- Estabelecer limites de tempo – Aplicar um tempo máximo de uso diário pode ajudar a evitar o consumo excessivo e a dependência das notificações.
- Ser seletivo – Siga contas que realmente acrescentam algo positivo à sua vida. Evite perfis que despertam comparações negativas ou sentimentos de inferioridade.
- Criar momentos “offline” – Desconectar-se regularmente das redes e passar mais tempo com amigos e família na vida real pode melhorar significativamente o bem-estar emocional.
- Reforçar a autoestima fora das redes – Investir em atividades que aumentem a confiança em si mesmo, como exercício físico, terapia ou hobbies criativos, pode reduzir a necessidade de validação externa.
- Ser autêntico – Publicar conteúdos que reflitam a sua verdadeira identidade, sem a pressão de agradar, ajuda a construir uma relação mais saudável com as redes sociais.
Tenha em mente que vivemos numa era em que a tecnologia e as redes sociais são parte fundamental da nossa vida. No entanto, a forma como as utilizamos pode determinar se serão um recurso positivo ou um fator de ansiedade.
A consciência sobre os impactos psicológicos do mundo digital é o primeiro passo para recuperar o controlo e preservar a saúde mental. A chave está no equilíbrio: usar as redes sociais de forma consciente, sem permitir que elas definam o nosso valor ou o nosso bem-estar emocional.
Se sente que as redes sociais estão a afetar a sua saúde mental, lembre-se de que há alternativas. Redescobrir o mundo fora dos ecrãs pode ser uma experiência libertadora e profundamente enriquecedora. Afinal, a vida real não cabe num feed.