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Amnistia Internacional denuncia separação radical entre pais e filhos uigures na China

A organização conversou com pais que ficaram completamente separados dos seus filhos e não podem regressar à China devido à ameaça de serem enviados para um campo de ‘reeducação’. Amnistia Internacional lança uma petição apelando ao governo chinês que permita que as crianças deixem a China para se juntarem o mais rápido possível às suas famílias.

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A Amnistia Internacional publica hoje os resultados de uma investigação que evidencia o horror da separação que as famílias uigures na China sofrem, fruto da implacável campanha de detenção em massa das autoridades chinesas na província de Xinjiang, no noroeste da China.

 

A organização conversou com pais que ficaram completamente separados dos seus filhos – alguns com apenas cinco anos de idade – e não podem regressar à China devido à ameaça de serem enviados para um campo de internamento e “reeducação”.

 

Muitos pais, quando se viram obrigados a fugir, deixaram os seus filhos com avós e outros familiares, que acabaram eles próprios por serem levados para os campos, ou sofrerem outras represálias pelas autoridades. Por isso, estas crianças ficaram sem ninguém que cuide delas, uma vez que os restantes familiares ficam com receio de o fazer, alerta a Amnistia Internacional.

 

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Ficando sem os seus pais nem outros familiares próximos, as crianças acabam em “campos de órfãos”, instalações em Xinjiang para as alojar e doutrinar, ou em internatos sujeitos a vigilância e monitorização. Por isso a Amnistia Internacional lança uma petição apelando ao governo chinês que permita que as crianças deixem a China para se juntarem o mais rápido possível às suas famílias que vivem no exterior, se essa for a sua vontade.

 

O governo deve ainda acabar com todas as medidas que restringem o direito de todas as minorias muçulmanas de sair e retornar livremente ao país. Deve fechar todos os ‘campos de reeducação’ políticos e libertar os detidos imediatamente, incondicionalmente e sem preconceitos, pede a organização de defesa dos direitos humanos. A organização insta também que seja dado acesso total e irrestrito a especialistas em direitos humanos da ONU, investigadores independentes e jornalistas, para que possam conduzir investigações sobre o que está a acontecer na região de Xinjiang.

 

Além disso, a organização pede aos governos de todo o mundo que façam tudo o que puderem para garantir que uigures, cazaques e outras minorias étnicas chinesas residentes nos seus países recebam assistência na sua tentativa de localizar, contactar e reunir-se com os seus filhos. «Os testemunhos comoventes dos pais com quem falamos apenas arranham a superfície da escalada de sofrimento das famílias uigures separadas dos seus filhos. O governo chinês deve acabar com as suas políticas cruéis em Xinjiang e garantir que as famílias possam reunir-se o mais rápido possível, sem medo de serem enviados para um campo opressor», declara Alkan Akad, pesquisador da Amnistia Internacional na China.

 

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A Amnistia Internacional entrevistou seis famílias uigures exiladas que atualmente residem na Austrália, Canadá, Itália, Holanda e Turquia. As famílias que deixaram a China antes da intensificação da repressão contra os uigures e outros grupos minoritários muçulmanos em 2017 não sabiam que os seus filhos seriam impedidos de se juntar a eles. Desde 2017, cerca de um milhão ou mais de pessoas foram detidas arbitrariamente nos chamados centros de ‘transformação pela educação’ ou ‘treino vocacional’, em Xinjiang, onde foram submetidos a várias formas de tortura e maus-tratos, incluindo doutrinação política e assimilação cultural forçada.

 

Os pais Mihriban Kader e Ablikim Memtinin fugiram de Xinjiang para a Itália em 2016 depois de serem assediados pela polícia e pressionados a entregarem os seus passaportes. Eles deixaram quatro filhos aos cuidados temporários dos avós, mas logo depois a avó foi levada para um acampamento, enquanto o avô foi interrogado pela polícia. «Os nossos outros parentes não se atreveram a cuidar dos meus filhos depois do que aconteceu com os meus pais», disse Mihriban à Amnistia Internacional. «Eles estavam com medo de serem enviados também para os acampamentos». As três crianças mais novas foram enviadas para um ‘campo de órfãos’, instalações criadas em Xinjiang para alojar e doutrinar crianças separadas dos pais.

 

Mihriban e Ablikim não conseguiram contactar os filhos desde Itália, mas em novembro de 2019 receberam autorização do governo italiano para trazerem os seus filhos para se juntarem a eles. As quatro crianças – com idades entre 12 e 16 – viajaram sozinhas pela China para o consulado italiano em Xangai, mas foram apreendidos pela polícia e enviados de volta para o internato. «Agora meus filhos estão nas mãos do governo chinês e não tenho a certeza se voltarei a encontrá-los novamente na minha vida», lamenta Mihriban. «O que mais me dói é que, para os meus filhos, é como se os seus pais não existissem mais, como se tivéssemos morrido e eles são órfãos».

 

 

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