A (in)coerência dos pais na alimentação dos filhos
Será que os pais são coerentes na alimentação dos filhos? Ou será que são contidos no que se refere à sua própria alimentação mais calórica e nutricionalmente pouco interessante, e no que se refere à alimentação dos seus filhos esta parece assumir uma importância menor?

Considero essencial refletirmos sobre frases como “deixa-o comer batatas fritas coitadinho!”, “se comeres a sopa toda, bebes sumo”, “eu envio-lhe bolachas para o lanche da escola porque é prático e tenho a certeza que as come!”.
Como podem os pais considerar que oferecer alimentos saudáveis aos filhos é fazer com que estes se sintam inferiores perante outras crianças que não os consomem? Refiro-me à incoerência dos pais quando estes não consomem doces, refrigerantes e gorduras por estarem informados dos seus malefícios, mas oferecem-nos aos seus filhos sem pensarem nas consequências.
Tenho observado, mais vezes do que gostaria, nos restaurantes por exemplo, que os pais são capazes de não pedir sobremesa e escolher um prato menos calórico para a sua refeição, mas para a criança cedem aos menus pré-definidos que são quase sempre constituídos por alimentos fritos, sumo e doce incluído.
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Já nas pastelarias, os pais, para si próprios, são capazes de pedir um pão, mas para a criança escolhem um bolo que lhe agrade à vista, sem critério para a sua seleção. No supermercado, já presenciei pais a comprarem iogurtes naturais sem açúcar para si e bolachas diatéticas, mas deixam a criança escolher os iogurtes mais atrativos e as bolachas com o formato de bonecos que, por sua vez, são aquelas que contêm maior quantidade de açúcar e gordura.
Destaco aqui o impacto que o marketing tem nos alimentos tipo snacks que, ao incluir brindes, torna-os mais apelativos e irresistíveis ao consumo.
Estratégias a adotar
No início da introdução da alimentação sólida, muitos pais têm um cuidado extremo com a ausência de açúcar, sal e gorduras saturadas, mas quando a criança começa a crescer e tem algum poder de decisão, essa preocupação parece tender a desvanecer-se.
É desejável que os pais adotem estratégias no sentido de promoverem o binómio alimentação/saúde dos seus filhos. Assim, torna-se fundamental ter como ponto de partida que as crianças só conhecem determinado alimento se for oferecido pelos pais, de contrário não sabem que a bolacha A tem mais açúcar que a bolacha B.
Não obstante, quando a criança começa a frequentar a escola, é natural que tenha um acesso mais livre a todo o tipo de alimentos, nomeadamente se os colegas lhes derem a provar produtos menos saudáveis que tragam nos seus lanches.
Uma das estratégias é integrar a criança no processo de compra dos alimentos. É importante explicar-lhe que existem alimentos mais saudáveis que outros. Sugiro que ensine as suas crianças a ler rótulos, explique-lhes as cores do descodificador de rótulos da DGS. Desta forma, serão elas a optar pelos alimentos da faixa verde em detrimento dos alimentos da faixa vermelha.
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Outra estratégia é os alimentos menos saudáveis serem consumidos de forma mais regrada, se possível com planeamento, associando o seu consumo a um contexto específico, por exemplo, uma ida à praia ou uma festa de aniversário. Por sua vez, a escolha desse contexto deverá ser negociada e acordada entre pais e filhos de modo a garantir o cumprimento dessa decisão conjunta, restringindo assim a possibilidade de eventuais comportamentos desafiadores por parte da criança.
Dar-lhes o poder de escolher de forma consciente é torná-las crianças e adolescentes mais informados.
O conhecimento é a chave para o sucesso de uma boa relação com a alimentação, por isso deve ser incutido aos mais novos desde cedo como forma de prevenir o excesso de peso na infância e na adolescência.
É bem mais doloroso para os pais e filhos adotarem medidas de restrição alimentar quando há obesidade infantil do que adotarem medidas de promoção de uma alimentação saudável desde a primeira infância.
Se é pai e perante a dúvida, lembre-se de que se não consome determinado alimento, não é coerente disponibilizá-lo ao seu filho!
Por Marta Torres
Psicóloga Clínica