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A ilusão do controlo

Como educar uma criança? O que fazer para ouvirmos um sim do colega? O que dizer para que a chefe concorde comigo? Como fazer o outro ver o meu lado? Ou, que faça o que (ou como) eu acho ser melhor fazer?

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Ah… A ilusão do controlo… tanto podíamos conversar sobre isso. E, provavelmente, desconstruir, aprender e discordar com as diferentes perspetivas e crenças que se tem sobre controlar; e sobre o que chamo de necessidade inconsciente de controlo.

 

Pelo menos, até termos outra relação com o que está por trás disso.  Pois sentirmo-nos em controlo é “apenas” um veículo, uma forma, de satisfazermos uma necessidade e intenção maior.

 

Há tempos, uma candidata à GreenLight Transformation Walk no Caminho de Santiago dizia-me que já sabia umas coisas sobre coaching, PNL e persuasão. Algumas dessas coisas disse que aplicava para fazer com que a outra pessoa fizesse o que ela queria que a outra fizesse.

 

Para mim, isto pode ser feito de forma manipulativa nada saudável e sem ecologia (atender ao outro e ao sistema); e pode ser feito ao influenciar de forma saudável e ecológica (considerando o impacto no contexto e nas pessoas envolvidas). Se queres aprender como liderar e influenciar (em casa ou no trabalho) através desta última forma, envia-me mensagem ou email.

 

VEJA TAMBÉM: EMOÇÕES EM EQUILÍBRIO: COMO AGIR COM INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

 

De qualquer forma, percecionei e senti que aquela pessoa talvez estivesse com necessidade de se sentir em controlo. De sentir que as coisas aconteciam como ela desejava. De evitar cenários que ela receia. De fazer algo para controlar o resultado das decisões e ações dos outros. E quando assim está, pelo menos três coisas acontecem.

 

A pessoa:

. desliga-se do outro, ligando “só” a si mesma e às formas como vê e acredita que o mundo, o problema, a solução, a outra pessoa “é” – mesmo que justifique as suas escolhas e ações com o bem do outro, do projeto, ou de um objetivo “bom”;

. fecha-se na sua perspetiva, na sua interpretação (fundada ou não), no que já conhece, no que acha que é melhor. Estando com o Enviesamento da Confirmação ativo, descarta informações e formas de ver e de fazer diferentes daquela em que acredita, daquela está cristalizada;

. e, assim, abdica da curiosidade, de novas possibilidades, incluindo a da mudança (nela, na outra pessoa, no contexto), de aprender outras formas que ainda não conhece, e de descobrir como pode acontecer de forma diferente da que receava.

 

Aquela pessoa aparentemente via outra pessoa como alguém “a convencer”, quando esta poderia apenas querer mostrar ou validar a sua ideia. Ou, imagino, querer contribuir, sentir-se reconhecida ou que aceitem a sua opinião. (Como saber? Só pela experiência com ela, calibrando, interagindo, conversando.)

 

Outras pessoas podem interpretar que alguém:

. faz e diz algo “só para contrariar”, quando esta apenas procura expressar a sua vontade/ideia;

. está a ver e/ou fazer mal, quando está apenas a fazer diferente e o melhor que pode com os recursos que tem no momento – mesmo que o impacto seja negativo (e sim acredito em fazer algo em relação a isso, sem nos resignarmos);

. está a tentar manipular uma reunião, uma decisão, um contexto, o nosso comportamento ou o dos outros, quando está – tal como nós – a querer que seja seguida a direção, a ação, que acredita ser a melhor;

. entre outros exemplos.

 

Acredito que apenas controlamos realmente duas coisas: onde colocamos a nossa atenção; e o nosso comportamento (mesmo quando parece que não). Naturalmente, dentro das circunstâncias físicas, neuronais e bioquímicas individuais. Nestes dois, incluo a perceção e interpretação que fazemos do mundo à nossa volta e da experiência subjetiva interior que vivemos.

 

Pelo que observo, o ser humano vive com a ilusão do controlo. E pode desiludir-se, transformar-se e criar uma relação saudável e alinhada com a necessidade de controlo, satisfazendo a intenção maior através de outros comportamentos. Criando e fazendo outras escolhas. Como?

 

Por exemplo, começando por se auto questionar com perguntas como:

Estou a agir e comunicar para ter razão ou realmente quero a intenção maior no contexto – independentemente de qual forma saudável e alinhada nos leva lá?

Estou em modo “nós” para o que se deseja em comum, ou em modo “eu versus eles”?

Estou a sentir-me na dúvida, sob ataque, com receio, e por isso “a atacar” para controlar e precaver, ou estou com medo, hesitando, e disponível para descobrir como alcançamos a intenção maior?

Estou ligad@ ao que realmente importa, ou perco-me nos fait-divers e outras distrações dentro do que acontece?

Estou a basear-me no observável e que está a acontecer agora, ou estou a basear-me demasiado no passado e a contaminar o presente?

Estou a projetar as “minhas cenas” no outro, ou estou realmente a observar e interagir com o que o outro mostra?

Estou sozinh@ a fazer da mesma forma, sem ter o resultado, ou estou a ter consciência que é o momento de pedir ajuda?

 

O que proponho, no fundo? Em vez de controlar, orientar e influenciar. De forma fluída, adaptada, flexível, saudável, ecológica. Tanto quanto possível. Se e quando fizer sentido, atendendo às circunstâncias, sem ameaçar, mas sim mostrando as consequências naturais das diversas possibilidades, decisões e ações.

 

Deixando “espaço” para o outro sentir que está a tomar uma decisão, e ação, por sua escolha autónoma. Em vez de se sentir sem escolha, manipulado, ameaçado e/ou controlado. O que, da minha experiência, pode ser difícil, exigente ou levar tempo.

 

E podemos estar, nalgum momento, indisponíveis para fazer isso. E está tudo bem. Estamos a fazer o melhor que podemos com que sabemos, sentimos e experienciamos.

 

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