Fernando Magalhães: «A depressão aparece muitas vezes de forma lenta e despercebida»
A depressão é o tema em destaque este ano no Dia Mundial da Saúde, assinalado a 7 de abril, para ressaltar o peso desta doença que afeta 350 milhões de pessoas, de todas as idades e condições sociais, em todo o mundo. Mas o que á afinal a depressão? Como se trata e se previne? Fernando Magalhães, psicólogo clínico e especialista em terapia cognitiva comportamental, desvenda-nos a realidade por detrás da depressão.
O que é verdadeiramente uma depressão?
A depressão é constituída por uma série de pensamentos, comportamentos, sentimentos e experiências: é um estado persistente, que dure há mais de seis meses, de uma visão negativa de nós próprios e do mundo em geral, perda de esperança no presente e no futuro, de ideias desmoralizantes e autocríticas, sentimentos de inutilidade, culpa e vazio, incapacidade de tirar prazer no presente, ideações sobre suicídio ou morte e sentir que estes sintomas negativos são incontroláveis e credíveis, mas que ocupam a maior parte do pensamento. Isto leva a sintomas físicos de perda de energia, fadiga, desmotivação, sono alterado, ganho ou perda de peso e reduzem a capacidade de trabalho ou estudo.
Apesar das causas que ocasionam a depressão serem muito vastas, quais são as principais?
As principais causas são os acontecimentos negativos como o desemprego, divórcio, isolamento social, falta de apoio social, falta de amigos e solidão, sentir preocupações e pressões excessivas, problemas financeiros e de saúde, uma predisposição para os padrões de pensamento negativos como catastrofizar, ser pessimista, crítico, perfecionista, bem como alguma predisposição genética ou biológica.
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Quais são os principais sinais que comprovam um quadro de depressão?
Existem várias formas de classificar e avaliar a depressão, de acordo com a duração, sintomas, fatores, e até difere de acordo com os autores e os manuais de classificação. Devem existir cinco ou mais dos sintomas seguintes durante um mínimo de duas semanas e que representam alterações no funcionamento da pessoa, e pelo menos um dos sintomas será o humor deprimido ou perda de interesse ou prazer.
– Existir um humor deprimido na maioria dos dias e quase todos os dias (sentir-se vazio triste ou sem esperança)
– Grande diminuição do prazer ou interesse em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias
– Perder ou ganhar de peso de forma acentuada sem estar em dieta ou aumento ou diminuição de apetite quase todos os dias
– Dormir demais ou pouco quase todos os dias
– Agitação ou lentidão psicomotora quase todos os dias
– Fadiga e perda de energia quase todos os dias
– Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva quase todos os dias
– Menor capacidade de pensar ou concentrar-se ou indecisão, quase todos os dias
– Pensamentos sobre a morte frequentes (não apenas medo de morrer), pensar em suicídio de forma frequente sem um plano específico, ou tentativa de suicídio ou plano específico de cometer suicídio.
Estes sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
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A que tipo de profissional se deve recorrer nestes casos?
Como a depressão tem muitas formas, causas e manifestações, não há uma fórmula ideal para toda a gente e a maneira de a ultrapassar será muito variável. A combinação da ajuda de um psicólogo e psiquiatra funciona muitas vezes, complementando um tipo de terapia cognitivo comportamental ou terapia interpessoal com algum tipo de antidepressivo. Outras abordagens complementares como o mindfulness e aceitação plena costumam ser muito úteis.
Como se distingue a depressão de um estado de profunda tristeza, decorrente, por exemplo, de um luto, desemprego prolongado ou estado de saúde?
A depressão clínica distingue-se pela duração e intensidade dos sintomas, que altera o pensamento, a emoção e comportamento, de uma forma que se torna crónica, pelo que pode nem haver um motivo para ela existir e a pessoa ter uma vida “boa” por quem vê de fora, mas ela mesmo assim sente-se horrível. O pensamento depressivo generaliza-se para todas as situações, em que suga a energia e retira o prazer das situações. A tristeza é uma reação normal a um acontecimento negativo, desafiante, desmoralizante ou difícil, mas que desaparece ao fim de algum tempo.