8 em cada 10 mortes por doença cardiovascular podem ser prevenidas através da adoção de um estilo de vida saudável
Quando comparadas com as doenças oncológicas, as doenças CDV matam mais do que todos os cancros juntos. As causas principais são o enfarte agudo do miocárdio, a insuficiência cardíaca e o acidente vascular cerebral.

As doenças cardiovasculares (CDV) – termo genérico que engloba as doenças do coração, cerebrovasculares e vasculares periféricas – são a principal causa de mortalidade em todo o mundo no sexo feminino.
Quando comparadas com as doenças oncológicas, as doenças CDV matam mais do que todos os cancros juntos (9 vezes mais do que o cancro da mama, por exemplo). As causas principais são o enfarte agudo do miocárdio, a insuficiência cardíaca e o acidente vascular cerebral.
No caso das mulheres, os sintomas destas patologias são, não raramente, subvalorizados, apresentando sinais frequentemente diferentes dos observados nos homens. Tal traduz-se numa maior dificuldade diagnóstica, atraso no seu tratamento e, inevitavelmente, num pior desfecho clínico. De facto, as mulheres têm uma mortalidade intra-hospitalar 2 vezes superior à dos homens.
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Todavia, 80%, isto é, 8 em cada 10 destas mortes poderiam ser prevenidas, através da adoção de um estilo de vida saudável – com particular foco nos fatores de risco modificáveis (tabagismo, inatividade física, peso, dieta, valores de pressão arterial, valores de colesterol – particularmente o LDL – e diabetes).
Agravamento nas mulheres
Embora estes fatores de risco sejam comuns a ambos os sexos, na mulher, alguns deles têm um efeito mais acentuado. A título de exemplo, as mulheres fumadoras têm um risco relativo 25% superior de doença CDV comparativamente a homens fumadores.
Além disso, no caso específico das mulheres, existem outros sinais/fatores de risco acrescidos como a utilização de contraceção oral e de terapia hormonal de substituição. A própria gravidez, constituiu um fator de stress cardiometabólico que, por um lado, aumenta, por si mesmo, o risco CDV, e, por outro lado, pode desmascarar anormalidades vasculares e metabólicas subjacentes.
Efetivamente, o desenvolvimento de diabetes ou de doenças hipertensivas na gravidez são manifestações de pior saúde cardiovascular e sinónimo de que no futuro estas mulheres vão ter maior risco de complicações.
De igual forma, se é verdade que a produção de estrogénios endógenos a nível dos ovários confere um efeito protetor a nível CDV, também é verdade que esse efeito desaparece na menopausa. Nesta fase de vida da mulher, o risco CDV quadruplica, sobretudo à custa do aumento da gordura abdominal, valores de colesterol e resistência à insulina (com subsequente aumento do risco de diabetes).
Torna-se fulcral, portanto, que as grávidas com estas patologias e que todas as mulheres na menopausa vigiem a sua pressão arterial e o seu peso regularmente, façam o rastreio de diabetes (quer no pós-parto, quer ao longo da vida – conforme indicação médica), avaliem os seus níveis de colesterol e, mais importante de tudo, adotem um estilo de vida saudável.
Uma alimentação equilibrada, pobre em sal, rica em frutas e vegetais, privilegiando o consumo de gorduras não saturadas em detrimento da gordura saturada presente, por exemplo, na manteiga, são fundamentais para prevenir valores de pressão arterial elevados e o aumento do colesterol.
Deixar de fumar e evitar estar em locais com fumo (tabagismo passivo), é também essencial para reduzir o risco de doenças cardíacas, particularmente nas mulheres. Também a manutenção de uma atividade física adequada a cada fase da vida da mulher, aliada a uma redução do tempo sentado, revela-se muito importante na prevenção da obesidade e do excesso de peso, assim como para manter um funcionamento saudável de toda a função cardíaca e não só.
A adoção de um estilo de vida saudável constitui uma oportunidade de influenciar positivamente a sua saúde, sobretudo no que respeita às doenças crónicas não transmissíveis como as doenças CDV.
Por Filipe Cabral
Médico Interno de Medicina Geral e Familiar na USF Marco
Pós-graduado em Medicina Desportiva